O futuro sendo cada vez mais tecnológico, reserva consigo elevadas expetativas e a prova disso é a afirmação que as tecnológicas têm vindo a conquistar. Destas, realça-se a Uber e a Lyft, duas empresas dominantes do setor do transporte e selfdriving (este último tem entusiasmado, também, os investidores por empresas como a BMW, Tesla, etc.). Para tal, basta relembrarmos o que se sucedeu nos passados dias 28 de março (Lyft) e 10 de maio (Uber), que veremos mais à frente.

Quem são estas empresas e o que fazem?

A Lyft nasce em 2012 da necessidade das pessoas se deslocarem por longas distâncias de forma mais segura. A sua atividade centra-se nos EUA e Canada. Por outro lado, a Uber Technologies nasce em 2009 da procura por alternativas aos táxis tradicionais e operacionaliza em cerca de 635 cidades e 170 países. A segunda apresenta na globalidade uma maior quota de mercado, fruto também de uma maior diversificação (Uber Eats, Uber Freight, etc.), porém, recentes controvérsias fizeram com que a tendência tenha vindo a diminuir.

Falando de números, destacam-se os prejuízos de cerca de 900 milhões de dólares registados em 2018 pela Lyft e de quase 1,8 mil milhões de dólares pela Uber no mesmo ano. Estes resultados, aos olhos do mercado e investidores, parecem alimentar a perspetiva de crescimento das receitas. O mesmo foi comprovado nos seus respetivos IPO’s, em que a ação da Lyft no índice tecnológico Nasdaq contou com uma variação positiva de 10 dólares para os 72 dólares face ao previsto, fruto da elevada procura e assim continuou no primeiro dia em bolsa (previa-se ser o maior IPO desde o Alibaba Group). Contudo, semanas depois os resultados negativos apresentados e as recessões que temos assistido nos mercados fizeram com que se encontre neste momento a cair mais de 45%. A Uber, cotada na NYSE, não foi capaz de evitar esta “bola de neve” e os seus iniciais 45 dólares parecem cada vez mais longínquos, a adicionar à subida das taxas alfandegárias americanas para com a China (em 15%). Uma das “red flags” provém da Tesla, empresa que assenta maioritariamente em perspetivas a longo prazo e zero lucros, que em 2019 já caiu em bolsa cerca de 40%. Relembrar também a intenção de investimento em cerca de 3 mil milhões de dólares na Uber por parte da Berkshire Hathaway, apesar das diversas dificuldades que a mesma apresentava. O acordo acabou por não chegar a bom porto, mas investimento não é certamente um dos problemas para a Uber e Lyft.

O que explica estas performances e avaliações?

O motivo para estes “falhanços” em bolsa, na minha opinião, centra-se nas precipitadas e exageradas avaliações por parte da banca de investimentos. Parece óbvio pensarmos que estas avaliações batem certo entre si, mas não com os pressupostos e fundamentos do mercado, como se de “cópia a papel vegetal” se tratasse. A Lyft foi avaliada em cerca de 25 mil milhões de dólares e a Uber a centrar-se nuns impressionantes 83 mil milhões de dólares, com uma variação de quase 60 mil milhões para a rival. Por outro lado, defende-se que as mesmas têm por base perspetivas de longo prazo e que um elevado e negativo Net Income assenta numa clara aposta na inovação e desenvolvimento (melhor preparação para o que o futuro neste setor lhes reserva). Por fim, a elevada procura de ações por parte dos investidores privados, que veem irracionalmente nestas duas tecnológicas uma futura Apple ou Amazon. Resta-nos esperar para ver se os analistas e investidores estarão corretos quanto à dimensão que as mesmas podem vir a assumir, mas para já o mercado e respetivos números apenas nos garantem especulação, incerteza e volatilidade.