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Ucrânia: Alemanha e Itália com dúvidas sobre mecanismo para pagar gás russo

Um decreto do Kremlin, publicado hoje pelos media estatais, diz que “países pouco amigáveis” podem continuar a pagar o gás natural em moeda estrangeira, mas abrindo conta num banco russo, que converterá o valor em rublos.
  • Gazprom (43.23 mil milhões)​
31 Março 2022, 18h00

Um decreto do Kremlin, publicado hoje pelos media estatais, diz que “países pouco amigáveis” podem continuar a pagar o gás natural em moeda estrangeira, mas abrindo conta num banco russo, que converterá o valor em rublos.

O decreto que Putin assinou sobre o novo mecanismo de pagamentos, publicado pela agência de notícias estatal RIA Novosti, com indicação de que entra em vigor a 01 de abril, define que um banco designado – o Gazprom Bank, que não está sujeito às sanções internacionais – abrirá duas contas para cada comprador, uma em moeda estrangeira e outra em rublos.

Os compradores pagarão em moeda estrangeira e autorizarão o banco a trocar essa moeda por rublos, que são transferidos para a segunda conta, através da qual o gás é formalmente comprado.

Este esclarecimento tinha sido dado na quarta-feira pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, por telefone ao chanceler alemão, Olaf Scholz, e ao primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, que, contudo, pediram mais esclarecimentos e questionam se isso não viola os contratos já assinados ou até as sanções.

O líder italiano, em declarações hoje aos jornalistas estrangeiros em Roma, disse que Putin lhe assegurou que as empresas europeias não teriam que pagar, para já, o gás que importam da Rússia em rublos, e lhe deu uma longa explicação sobre como manter os pagamentos em euros, satisfazendo ao mesmo tempo a “indicação de pagamentos em rublos”.

Draghi, que foi presidente do Banco Central Europeu de 2011 a 2019, disse que remeteu a discussão para os especialistas e que a análise do novo mecanismo de pagamentos está em curso “para perceber o que significa”, incluindo “se isso significa algo para as sanções em curso” e para os contratos existentes.

No telefonema, que durou 40 minutos, Putin assegurou que “os contratos existentes permanecem em vigor. … As empresas europeias continuarão a pagar em dólares e euros”, referiu o chefe do governo italiano.

“O sentimento que tenho desde o início, é que não é simples mudar a moeda dos pagamentos sem violar os contratos”, admitiu Draghi.

O primeiro-ministro de Itália notou ainda que a Rússia não tem outro mercado para o seu gás, dando espaço de manobra à Europa. “Não há esse perigo”, respondeu quando questionado sobre o risco de a Rússia fechar as torneiras.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, recebeu garantias semelhantes de Putin na quarta-feira, e adiantou que tinha pedido mais detalhes sobre o processo, segundo o seu gabinete.

Já hoje, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo austríaco, Karl Nehammer, em Berlim, Scholz disse que, na sua conversa com o líder russo, deixou claro que a Alemanha não está disposta a alterar a forma de pagamento.

“O que Putin pretende, vamos analisar, mas o que está em vigor para as empresas é que podem pagar em euros e vão fazê-lo”, afirmou o chanceler alemão.

Tanto Scholz como Nehammer rejeitaram, contudo, mais uma vez, a imposição de um embargo energético contra Moscovo, devido à dependência dos seus países do gás proveniente da Rússia.

A perspetiva da continuação das entregas de gás em troca de euros mereceu uma receção cautelosa da indústria alemã.

“É uma boa notícia pelo menos a curto prazo, porque as entregas de gás russas não podem ser substituídas a curto prazo”, disse Achim Dercks, subdiretor-geral da Associação das Câmaras de Comércio e Indústria Alemãs.

No mercado energético, o preço dos contratos de gás natural TTF (Title Transfer Facility), uma referência para as empresas de energia europeias, para entrega em abril regista hoje elevada volatilidade, tendo mudado de tendência ao longo da sessão.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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