Ucrânia: informações contraditórias sobre reforço russo no leste do país

A Ucrânia está convencida que a Rússia prepara uma grande ofensiva para ‘comemorar’ um ano de invasão. Mas os serviços secretos do Reino Unido dizem que os russos não têm, para já, essa capacidade.

Sergey Pivovarov/Reuters

Informações oriundas da Ucrânia, nomeadamente da parte de Serhiy Haidai, governador ucraniano da província de Luhansk, no Dombass, afirmam que a Rússia está a concentrar forças no leste do país invadido – dando corpo a um previsto reforço do contingente, tendo em vista ao aumento da intensidade dos ataques à região. “Estamos a ver mais e mais reservas russas a estacionarem no terreno na nossa direção, estamos a ver mais equipamento a ser transportado”, disse.

Mas, paralelamente, a inteligência britânica, no terreno desde o início da invasão, disse esta terça-feira que é improvável que a Rússia tenha forças suficientes para aumentar de forma significativa o contingente empregue na região.

Há várias semanas que a Ucrânia antecipa que está em marcha uma grande ofensiva russa no leste do país à medida que chega o dia 24 de fevereiro, quando fará um ano que a invasão começou. Segundo as agências internacionais, a própria Ucrânia está a planear uma ofensiva de primavera para recapturar o território perdido – sendo aliás por isso que tem aumentado a barragem de pedidos de novas armas ao ocidente, nomeadamente tanques, caças de combate e mísseis de longo alcance.

Haidai disse em entrevista a uma televisão ucraniana que os russos “estão a concentrar munições mas não para as usar como até agora em bombardeamentos ininterruptos. Estão agora a poupá-las, preparando-se para uma ofensiva em grande escala”. “Provavelmente levarão 10 dias para reunir reservas. Depois de 15 de fevereiro podemos esperar essa ofensiva a qualquer momento”.

No terreno, as posições estão à vários meses consolidadas. A Ucrânia não obtido mais ganhos de terreno como havia sucedido no segundo semestre de 2022 e a Rússia tenta avançar sem grande sucesso com centenas de milhares de tropas de reserva mobilizadas.

As forças russas ganharam pouco território nas últimas semanas, dado que “carecem de munições e de unidades de manobra necessárias para uma ofensiva bem-sucedida”, referem os serviços de inteligência do departamento de Defesa do Reino Unido.

“Os líderes russos provavelmente continuarão a exigir avanços abrangentes. Continua a ser improvável que a Rússia possa concentrar as forças necessárias para afetar substancialmente o resultado da guerra nas próximas semanas”, insiste aquela fonte.

No seu discurso na noite de segunda-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que as mudanças de pessoal na fronteira e na linha de frente reforçarão os esforços militares da Ucrânia.

Fora do discurso está aquilo que parece ser mais um pesadelo interno no seio do governo: a possibilidade de o ministro da Defesa Oleksii Reznikov vir a ser substituído. Recorde-se que, no passado domingo, David Arakhamia, chefe do bloco parlamentar de Zelensky, disse que Reznikov seria transferido para outro cargo ministerial, mas no dia seguinte voltou atrás, afirmando que “não haverá mudanças de pessoal no setor de Defesa esta semana”. Mas o cenário já estava contaminado: ficou claro que há uma quebra de confiança no atual ministro da Defesa, que aproveitou o fim-de-semana para prestar estranhas declarações públicas sobre o envio de caças de combate dos países ocidentais para a Ucrânia.

Reznikov disse que mais tarde ou mais cedo o ocidente acabará por aceitar enviar os aviões de combate. Tal como aceitou enviar os tanques de guerra depois de semanas seguidas em que disse que não o faria. As declarações foram ouvidas como uma espécie de ‘chantagem’ que não terá caído bem em várias chancelarias europeias.

Zelenskiy diz que precisa de mostrar que a Ucrânia é um administrador seguro dos biliões de dólares de ajuda ocidental. “Em várias regiões, particularmente na fronteira ou na linha de frente, nomearemos líderes com experiência militar, aqueles que podem mostrar-se os mais eficazes na defesa contra as ameaças existentes”, disse. O presidente ucraniano estará em breve em Bruxelas, no que será a sua segunda viagem ao exterior desde o início da invasão.

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