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Ucrânia: “Nem um único residente de Bucha sofreu violência de russos”, diz Embaixador na ONU

O embaixador russo nas Nações Unidas afirmou hoje que “nem um único residente de Bucha sofreu qualquer violência às mãos dos russos”, classificando como uma “encenação” as imagens de cadáveres nas ruas e valas comuns na cidade ucraniana.
5 Abril 2022, 07h35

O embaixador russo nas Nações Unidas afirmou hoje que “nem um único residente de Bucha sofreu qualquer violência às mãos dos russos”, classificando como uma “encenação” as imagens de cadáveres nas ruas e valas comuns na cidade ucraniana.

“Foi encenado. (…) é uma falsa narrativa apresentada por Kiev”, disse o diplomata Vassily Nebenzia, numa conferência de imprensa que convocou hoje na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, para abordar as acusações de tortura e morte de civis em Bucha.

“Nem um único residente de Bucha sofreu qualquer violência às mãos dos russos”, acrescentou o embaixador.

Vassily Nebenzia prometeu ainda apresentar na terça-feira, numa reunião no Conselho de Segurança, provas de que as agressões contra civis têm partido dos próprios ucranianos.

“Quero apresentar-vos provas reais de Bucha. Enquanto a cidade estava sob o controle do exército russo, nenhum morador foi vítima de qualquer ato de violência. Durante esse período, os moradores movimentavam-se livremente. Eles usavam telemóveis para publicar qualquer foto ou vídeo de alguma violência, se fosse o caso. Mas não aconteceu”, argumentou Nebenzia.

Centenas de civis mortos foram encontrados em Bucha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados na rua, nalguns casos com as mãos amarradas nas costas e atirados em valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes quando abandonaram a cidade.

Moscovo rejeitou qualquer responsabilidade e disse que foi feita uma encenação por Kiev.

Algumas imagens foram mostradas depois de as autoridades terem admitido estarem a fazer vídeos para documentar provas dos alegados crimes de guerra, provocando uma condenação internacional quase unânime.

O conselheiro do Presidente ucraniano Oleksiy Arestovych considerou as imagens como uma “cena de um filme de terror”, referindo que algumas pessoas estavam amarradas e baleadas na cabeça e que os corpos mostravam sinais de tortura, existindo ainda relatos de violações.

Na ONU, o embaixador russo questionou como é que no sábado a Guarda Nacional da Ucrânia divulgou um vídeo da entrada em Bucha e não mostrou, nem mencionou, a existência de massacres na cidade.

“O vídeo [do massacre] com os corpos aparece em 03 de abril, cheio de discrepâncias e mentiras óbvias. Os corpos estão nas ruas há pelo menos quatro dias, mas não estão rígidos. Como é que isso é possível? Isso é contra as leis da biologia. Não há sinais de deterioração”, afirmou.

“De repente corpos aparecem. (…) É encenado, é falso, é uma provocação. Temos provas de que foi organizado pela máquina de guerra de informação ucraniana”, disse Vasily Nebenzia.

Além de alegar que os cadáveres de civis assassinados em Bucha não estão relacionados com o exército russo, o diplomata acusou ainda os ucranianos de matar pessoas que usavam fitas brancas nas mãos, sinal de que eram civis enquanto a cidade estava sob controlo russo.

O jornal The New York Times publicou hoje algumas imagens de satélite, da empresa especializada Maxar Technologies, que contradizem a versão russa do massacre de Bucha.

Nas imagens gravadas por satélite – datadas de 11 de março, quando as tropas russas ainda ocupavam a cidade – é possível ver onze volumes no chão “semelhantes em tamanho a um corpo humano”, numa única rua chamada Yablonska, e a unidade de investigação visual comparou-as com outras anteriores e posteriores, concluindo que esses cadáveres apareceram nas ruas entre 09 e 11 de março.

A posição desses volumes – e a sua distância de outros objetos na mesma rua, como carros abandonados e árvores – parece coincidir com as imagens gravadas e transmitidas no sábado passado por um vereador local e nas quais se vê um veículo a circular pela rua Yablonska evitando passar por cima de cadáveres caídos de ambos os lados da estrada.

Na ONU, Vassily Nebenzia teceu ainda duras críticas ao Reino Unido por ter recusado hoje uma reunião do Conselho de Segurança pedida pela Rússia, “algo inacreditável e sem precedentes na história das Nações Unidas”.

“Nunca negamos uma reunião do Conselho de Segurança durante as nossas presidências. É abuso sem precedentes” por parte do Reino Unido, segundo o russo.

Numa mensagem nas redes sociais, a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, defendeu que o país não vai permitir que a Rússia “abuse” da posição no Conselho de Segurança, no qual tem assento permanente, para promover “mentiras e propaganda”.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.430 civis, incluindo 121 crianças, e feriu 2.097, entre os quais 178 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de dez milhões de pessoas, das quais 4,1 milhões para os países vizinhos.

Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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