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ULisboa abre faculdade na Universidade de Xangai já em setembro

Projeto arranca com seis cursos de Engenharia e envolve o Instituto Superior Técnico, o Instituto de Agronomia e a Faculdade de Ciências. Acordo poderá vir a ser a alargado a outras áreas científicas.
10 Junho 2022, 17h00

É caso para dizer que ‘se Maomé não vai à montanha…’. Os chineses vão poder estudar na Universidade de Lisboa (ULisboa) sem terem de atravessar metade do mundo. É já a partir de setembro, altura em que a maior universidade portuguesa abre portas na Universidade de Xangai.

“O desafio que foi feito à ULisboa para colaborar com a Universidade de Xangai é particularmente aliciante por revelar o prestígio que a universidade e a ciência portuguesas atingiram na China”, salienta João Peixoto, vice-reitor da ULisboa, ao JE Universidades.

A abertura de uma Faculdade da ULisboa foi aprovada no início de maio pelo Ministério da Educação da República Popular da China e prevê apenas o ensino de alguns ramos da Engenharia. No entanto, o acordo entre as duas instituições poderá ser alargado a outras áreas científicas, adianta João Peixoto. “Nesta fase, há três licenciaturas e três mestrados envolvidos nesta parceria, todos na área da Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Engenharia Civil e Engenharia do Ambiente”, adianta.

As licenciaturas e os mestrados em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e em Engenharia Civil são garantidos, do lado da ULisboa, pelo Instituto Superior Técnico (IST). Já a licenciatura e o mestrado em Engenharia do Ambiente são oferecidos em conjunto por três escolas da ULisboa: Técnico, Instituto Superior de Agronomia e Faculdade de Ciências.

À Universidade de Lisboa cabe a disponibilização de recursos humanos altamente qualificados – neste caso, os docentes que se deslocarão a Xangai para lecionar algumas unidades curriculares.

“Está previsto que cerca de um terço das unidades curriculares das licenciaturas e mestrados seja lecionado por docentes nossos. O pagamento das deslocações decorrerá inteiramente das propinas pagas pelos estudantes”, esclarece o vice-reitor.

A Universidade de Xangai garante o segundo terço dos docentes, enquanto o terceiro será recrutado internacionalmente. Do lado luso, os cursos de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e de Engenharia Civil, são ministrados por professores do Técnico, enquanto a licenciatura e mestrado em Engenharia do Ambiente é garantida por professores de Agronomia, Técnico e Ciências.

As aulas são em inglês, tendo o português como segunda língua, com passagem por Lisboa, uma vez que está definido que os alunos frequentem uma parte do seu ciclo de estudos em Portugal. Numa primeira fase deverão estudar na faculdade 900 estudantes.

Porquê a China?
O vice-reitor da ULisboa explica ao JE Universidades que a internacionalização é um dos principais eixos de desenvolvimento estratégico da Universidade Lisboa – como, acontece aliás, com todas as outras grandes universidades do mundo. Não começou ontem, explica: “Encontra-se já bem enraizada na nossa Universidade, através da oferta de ciclos de estudos em parceria, da presença de muitos estudantes e docentes estrangeiros, da participação dos nossos investigadores em eventos científicos em todo o mundo, da publicação dos nossos resultados científicos em revistas internacionais”.

Este é, no entanto, um novo e importante passo na sua internacionalização, admite João Peixoto. “A oferta de graus de ensino no estrangeiro é, porém, uma área de atuação que até hoje foi muito limitada”.

Porquê a China?A escolha resulta de vários fatores, explica. “A importância deste país no mundo contemporâneo; a grande velocidade com que se desenvolvem as suas instituições de ensino superior e de investigação; e a oportunidade de contribuir com conhecimento aplicado num país com altos níveis de crescimento”.

Neste último aspeto, esclarece — “deve ser destacado que o intercâmbio se destina à formação de profissionais que vão trabalhar em Xangai, uma cidade que é um dos epicentros da atual dinâmica da China, e em iniciativas económicas diversas envolvendo a China e os países de língua portuguesa”.

A Universidade de Xangai localiza-se na cidade com o mesmo nome, uma mega-metrópole com 25 milhões de pessoas, a maior da República Popular da China.

João Peixoto adianta ao JE Universidades que todos os investimentos em infra-estruturas ficam por conta da Universidade de Xangai, uma instituição relativamente recente, que, refere, se tem expandido de forma muito acentuada, com uma estratégia parcialmente baseada em laços internacionais. “É aí que terá lugar a grande maioria das aulas das licenciaturas e mestrados em que estamos envolvidos”, adianta.

Do ponto de vista formal, a nova entidade ganha o nome de Faculdade da ULisboa, Universidade de Xangai (ULisboa School, Shangai University). A principal estrutura de gestão, o Joint Management Committee, conta com representantes da Universidade de Xangai e da ULisboa. Nos primeiros dois anos a coordenação deste comité cabe a Xangai e nos dois anos seguintes a Lisboa. Depois, asequência mantém-se.

“As principais decisões estratégicas implicam algum consenso entre as partes, porque nenhuma decisão pode acontecer sem o acordo de alguns elementos da outra parte”, explica João Peixoto. Será, entretanto, nomeado um presidente da Faculdade, designado por Xangai. O vice-presidente será escolhido pela ULisboa.

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