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Ulrich preferiu sair da presidência executiva do BPI

Foi Fernando Ulrich que decidiu sair da presidência executiva do BPI, disse ao Jornal Económico fonte ligada ao processo.
9 Fevereiro 2017, 07h05

O histórico presidente executivo do banco foi convidado por Gonzalo Gortazar a ficar como CEO, mas decidiu que dadas as novas circunstâncias do banco era melhor sair. “Eu continuarei completamente comprometido com o BPI. Continuarei a trabalhar as mesmas horas que trabalho hoje. Espero talvez com um pouco menos de ‘stress’, até porque vou fazer 65 anos no dia da assembleia-geral. Vou ter duas grandes missões. A primeira é executar aquilo que a lei e os estatutos e as entidades de supervisão pretendem que seja executado pelo presidente do CA. A segunda é colaborar com o BPI e o com CaixaBank em tudo aquilo que o Gonzalo Gortazar entenda que a minha colaboração pode ser válida”.

“Entendo que a entrada em funcionamento desta nova fase deve ser protagonizada na liderança executiva por alguém originário do CaixaBank. Eu não podia ser essa pessoa” disse Ulrich.

Fernando Ulrich achou que a nova fase da vida do banco “que é diferente da anterior, não haja dúvidas disso”, será melhor desenvolvida se estiver a dirigir a comissão executiva alguém do CaixaBank, “porque é uma pessoa que já sabe o que o acionista quer para o banco”, disse fonte ligada ao processo.

“Dada a minha idade e longevidade da minha carreira, já não tenho a energia que já tive, parece-me que a solução que foi encontrada – e sobre a qual falei durante muito tempo com o Gonzalo Gortázar – é a melhor para o BPI. Aquilo que foi hoje anunciado é perfeitamente consensual”, acrescentou Fernando Ulrich, que acredita que esta “é a melhor solução para o banco e para os clientes do banco”.

A função de CEO do BPI já não vai ser o que era, porque agora será sempre uma função de ligação ao CaixaBank, ou seja, em que as decisões estratégicas serão tomadas em Barcelona. Essa é a principal razão da decisão do até aqui CEO e daqui para a frente Chairman do BPI.  Fernando Ulrich esteve 34 anos no BPI, sai da gestão executiva. Com ele saem Celeste Hagatong e Manuel Ferreira da Silva.

Para o lugar de presidente executivo entra um espanhol do CaixaBank que vai gerir o banco segundo as regras do grupo espanhol. Pablo Forero é o novo administrador delegado da instituição, logo que se recebam as autorizações regulatórias, após a assembleia geral de acionistas, diz o BPI.

Considerado nas últimas décadas como o banqueiro irreverente, o l´enfant terrible da banca, fama que angariou graças aos inúmeros episódios de declarações polémicas de forma directa e certeira e sem floreados, Ulrich admitiu que já lhe falta a energia de outrora para esta nova fase do BPI que vai tentar, pela via do crescimento orgânico, atingir a liderança de mercado.

A nomeação de Artur Santos Silva como presidente honorário do BPI e presidente de uma nova Comissão do Conselho de Administração dedicada à Responsabilidade Social é outra das novidades. O novo Conselho de Administração será composto por 18 administradores dos quais 9 executivos.

A comissão executiva será liderada por Pablo Forero e composta por: José Pena do Amaral, Pedro Barreto, João Oliveira e Costa, Alexandre Lucena e Vale, António Farinha de Morais, Francisco Barbeira, Ignácio Rendueles e Juan Ramon Fuertes. Não há mulheres na Comissão Executiva.

Os administradores não executivos serão liderados por Ulrich, e terá ainda António Lobo Xavier (vice-presidente), Carla Bambulo, Gonzalo Gortazar, Javier Pano, Juan António Alcaraz, Lluis Vendrell, Tomás Jervell e Vicente Tardio.

CaixaBank  lidera mercado ibérico após compra do BPI

O banco catalão, investiu mais cerca de 644,52 milhões de euros para ficar com 84,51% do BPI. O Caixabank vai desenvolver o seu plano de sinergias de receitas e custos por um valor de cerca de 120 milhões de euros para elevar a eficiência do BPI.

Ambas as entidades somarão 564.262 milhões de euros em volume de negócio (créditos e recursos de clientes) e contarão com uma quota de mercado conjunta na Península Ibérica superior a 20% em produtos de poupança a longo prazo (seguros e pensões) de 18% em fundos de investimento, de 14% em créditos e de 13% em depósitos.

Gonzalo Gortazar não se cansou de repetir na conferência de imprensa do BPI que “queremos fazer parte do futuro de Portugal”. “Portugal tem muito potencial e acreditamos no futuro”, disse o banqueiro espanhol. Manter a estrutura dos principais centros de decisão em Portugal é um compromisso do CEO do Caixabank.

Desde logo não vão mudar a marca BPI, assumiu Gonzalo Gortazar. O CaixaBank vai manter o “BPI como banco português”, com estrutura própria com o centro de decisão em Portugal, garantiu Gortazar.

O BPI para já ficará cotado, mas deixa de integrar o PSI 20.

O banco vai fazer uma emissão de dívida subordinada (tier II) por exigência do regulador BCE (no âmbito do SREP – Supervisory review and evaluation ) para melhorar o rácio de capital global para 11,75% a partir de 1 de janeiro. O mínimo da emissão será 225 milhões de euros. Mas poderá ser superior consoante as metas de capital do novo dono do banco.

O impacto pro forma da operação no capital CET1 fully loaded do CaixaBank será de 116 pontos base, pelo que o rácio se situará acima dos 11% (11,2%).

História do BPI

Artur Santos Silva, fundador do BPI, disse que nunca pensou que em tão pouco tempo o banco se tornasse numa das empresas mais influentes de Portugal.

1981 – Surge a Sociedade Portuguesa de Investimentos SPI. Criada por Artur Santos Silva (actual presidente do conselho de administração do BPI), a SPI propunha-se “financiar projectos de investimento do sector privado, contribuir para o relançamento do mercado de capitais e para a modernização das estruturas empresariais portuguesas”. Nesta altura não era permitida pela Constituição bancos privados. Foi Mário Soares no Governo que deu apoio à revisão de constitucional de 1982 promovida por um Governo liderado por Francisco Pinto Balsemão que permitiu a abertura do país à iniciativa privada. As privatizações (fim da irreversibilidade das nacionalizações) só começaram a ser possíveis com a II revisão constitucional, aprovada pelo PSD, PS e CDS em 1 de Junho de 1989.

1983 – Fernando Ulrich entra no banco.

1985 – A SPI passa a banco de investimento, com a possibilidade de captar depósitos e fazer empréstimos. Deixa de ser SPI para ser Banco Português de Investimento.

1986 – No ano em que Portugal adere à CEE, o BPI abre o capital em bolsa na então Bolsa de Valores de Lisboa e do Porto.

1991 – Em Agosto, o BPI ganha a privatização do Banco Fonsecas & Burnay (BF&B), participando assim na vaga de privatizações que se abriu com a revisão constitucional de 1989.

1995 – É criada a holding bancária, o BPI SGPS, que passa a ser a sociedade cotada em bolsa. Esta aglutina o Banco Fonsecas & Burnay e o BPI (que começou por ser banco de investimento e depois afirmou-se como banco comercial). O La Caixa e a seguradora alemã Allianz entram no capital , juntando-se aos brasileiros do Itaú que estavam no banco há quatro anos e criando um acordo parassocial que dominava o banco com um limite de votos. Mais tarde a CMVM força ao fim desse acordo.

1996 – O BPI ganha a corrida à privatização do grupo BFE, que inclui o Banco de Fomento Exterior e o Banco Borges & Irmão.

2000 – A 17 de Janeiro de 2000, BES e BPI anunciaram um acordo de fusão. A família Espírito Santo ficaria com 29%. A 16 de Março de 2000, Ricardo Salgado e Artur Santos Silva, então presidente do BPI, reuniram-se para tentar esclarecer dúvidas e limar arestas pendentes mas a verdade é que os dois bancos não se entenderam. A 29 de Março, desfez-se o acordo.

2004 –A assembleia geral de accionistas de 20 de Abril o fundador do banco deixa de ser presidente executivo Artur Santos Silva, por limite de idade (62 anos) que passa a presidente do conselho de administração. O cargo de CEO passa então para Fernando Ulrich. Os direitos de voto estão limitados a 12,5%, mais tarde passa para 17,5% e depois acaba em 20% .

2006 – O BCP de Paulo Teixeira Pinto lança uma OPA do BCP depois de ter recebido a luz verde da Autoridade da Concorrência, arranca oficialmente a 10 de Abril de 2007 mas é rejeitada.

2007 – Em Outubro, é o BPI quem propõe uma fusão ao BCP, já com Filipe Pinhal à frente do banco. As negociações terminam sem sucesso no fim de Novembro.

2008 – O BPI anuncia que a operadora de telecomunicações angolana Unitel vai ficar com 49,9% do banco do BPI em Angola, o BFA, em troca os angolanos entram no capital do BPI.

2012 – Já em pleno resgate da troika ao país, sai do capital do BPI o Banco Itaú que tinha 18,87% do banco. Com essa operação, os espanhóis sobem a posição para 49% (não é obrigatório OPA porque havia uma blindagem dos direitos de voto a 20%. Mas a recém acionista Santoro exige que parte da posição do Itaú lhe seja vendida e assim o CaixaBank alienou uma fatia das acções a Isabel dos Santos, descendo a sua posição para os actuais 44,1%. Ficando a Santoro com 18,67%..

2014 – Em Dezembro, o BCE deixa de considerar o Banco Nacional de Angola como equiparado em termos de supervisão ao bancos europeus e isso muda a forma como são contabilizados em termos de ponderador de risco os activos do BPI em Angola (os 51% do BFA e a exposição a dívida pública angolana), o que eleva a exposição do BPI aos grandes riscos. O problema tem de ser resolvido nos primeiros meses de 2016.

2015 – Em fevereiro o CaixaBank anuncia uma OPA sobre o BPI. O objectivo é acabar com os limites aos direitos de voto, e assegurar a maioria do capital. Mas Isabel dos Santos chumba o fim do limite de votos (era preciso 75% do capital presente na AG a favor). No fim do ano o BPI faz uma proposta de cisão simples dos activos africanos do BPI (spin-off). Isabel dos Santos volta a chumbar

2016 – CaixaBank e Isabel dos Santos entram em negociações, com a ajuda de Diogo Lacerda Machado, emissário do primeiro-ministro.  Mas 17 de Abril o BPI divulga um comunicado onde dá conta que afinal, não há acordo entre os dois accionistas do banco. “A Santoro Finance desrespeitou o que tinha acordado e veio a solicitar alterações aos documentos contratuais”, disse então o BPI. O Presidente da República anuncia uma lei que ajuda à queda dos limites de votos. A 18 de Abril o CaixaBank contra-ataca com uma nova OPA sobre o BPI, a 1,113 euros. No mesmo dia, Marcelo Rebelo de Sousa, promulga o diploma do Governo que vai facilitar a desblindagem de estatutos das empresas financeiras, no caso de a proposta (obrigatória até ao fim do ano) de discussão do limite de votos ser proposta pelo Conselho de Administração. Grupo Violas antecipa-se e convoca uma Assembleia para discutir limite de votos antes. Está criada génese de um impasse. Só a 21 de setembro passa na AG o fim do limite de votos no BPI. Um dia antes  o conselho de administração do BPI propõe resolver o problema da elevada exposição a Angola com a venda de 2% do BFA à Unitel, perdendo o controlo da instituição.

A OPA do CaixaBank passa de voluntária a obrigatória e o preço da oferta sobe para 1,134 euros por ação. A 13 de dezembro- Assembleia-geral do BPI aprova a venda de 2% do BFA à Unitel. Os dois maiores accionistas, Santoro e Caixabank, abstiveram-se.

2017 – Caixabank compra em OPA 84,51% do BPI e Fernando Ulrich sai da presidência executiva.

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