A quebra em alta do patamar de 1,15 dólares por euro pode estar a sinalizar o início de uma fase de desvalorização da moeda norte-americana. Os níveis acima de 1,15 dólares são os mais altos desde o outono de 2018 e, se é verdade que o recente acordo europeu para o fundo de recuperação económica ajudou a “moeda única”, o dólar desvalorizou relativamente à generalidade das moedas e também face ao ouro.

Podem apontar-se várias explicações para o que está a suceder no mercado cambial, mas há essencialmente cinco fatores a considerar. Um deles é precisamente o acordo europeu já referido, que tem a particularidade de ser um passo em direção a uma “união fiscal” devido à emissão conjunta de títulos de dívida.

O segundo fator tem a ver com a diminuição da aversão ao risco. O dólar detém o estatuto de moeda de refúgio e, como se pode verificar pela evolução das bolsas, os mercados estão otimistas e menos voláteis.

O terceiro fator é a menor escassez de dólares nos mercados internacionais, que foi muito citada durante o pico da crise ligada à pandemia. As injeções maciças de dólares por parte da Fed e a negociação de linhas de swap com vários bancos centrais permitiram, de momento, resolver esse tema.

Por outro lado, começa a notar-se alguma intranquilidade face aos EUA, nomeadamente com a aproximação das eleições de novembro. Receia-se que os Democratas vençam em toda a linha, implementando políticas de mais despesa e aumento generalizado de impostos, o que “assustaria” os investidores.

Finalmente, o crescente conflito com a China pode levar a que este país não esteja tão comprador de dólares (e de títulos de dívida) como no passado, diminuindo a pressão compradora da moeda.