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Um gelado que traz artesanato num cone? Quase, está quase lá!

A Santini e a Portugal Manual juntaram as mãos e fizeram nascer um ‘corner’ muito especial na loja do Chiado, em Lisboa. Gelados e artesanato podem rimar. Provocar emoções e memórias. Vá até lá e experimente.
17 Maio 2022, 17h00

Pessoas, vozes, movimento. Quase parece uma coreografia. A rua do Carmo, em Lisboa, regressou à azáfama que sempre teve. O calor trouxe roupas com cor, gente ávida de passear, (re)descobrir a cidade. Apetece dizer: “câmara, ação!” E imaginar o som da claquete a estalar.

Nada disso. Nenhuma equipa de filmagens tomou a rua de assalto, apenas a imaginação. E a vontade de regressar a um espaço que nos impregna de sabores. Daqueles que ficam na memória. E que agora também acolhe um corner, onde objetos cuidadosamente pensados para criarem o ambiente Portugal Manual estão em simbiose com a loja que lhes serve de “lar”, a Santini no nº 88 da rua do Carmo.

Uma curadoria de 15 marcas e artesãos que usam diferentes técnicas e saberes, que nos fazem levantar voo enquanto saboreamos um gelado. Por alguma razão a expressão “simbiose” vem à conversa. Por várias razões, aliás, como explica Filipa Belo, curadora e fundadora da Portugal Manual. “Acho que todos concordámos que era um feliz encontro, porque tínhamos ambos visões de promoção do feito à mão, de uma produção mais artesanal e mais autoral, que respeita as matérias-primas locais ou os ingredientes da época. Então, achámos que estava aqui uma simbiose interessante, um pouco inusitada, talvez, mas interessante”.

Falamos da recentíssima parceria entre a Santini e a Portugal Manual, que abraçaram a ideia de criar um corner ambiente para proporcionar experiências e memórias aos seus clientes. Os percursos de vida das marcas são muito distintos, mas os pontos de contacto também são muitos. E se a primeira loja de gelados Santini surgiu em agosto de 1949, na Praia do Tamariz, e trazia na bagagem o respeito pela sazonalidade e pelo saber-fazer manual, já a Portugal Manual nasceu em 2017, quando Filipa Belo foi morar para o Brasil e quis dar a conhecer o trabalho de artesãos portugueses, conciliando consumo sustentável e economia de partilha.

Falta referir que os amigos por vezes se intrometem com boas ideias. Foi o caso. Uma amiga comum “achou que os dois projetos tinham muitos pontos de encontro e fez esta ponte entre a Santini e a Portugal Manual”, diz Filipa Belo. “O cliente que vem aqui é um cliente que também procura um produto especial. Não procura um gelado qualquer mas sim com história, com sabor, que sabe de onde vêm os ingredientes… E nisso estávamos perfeitamente alinhados, porque nós, no nosso projeto, também queremos falar das pessoas que fazem os objetos e não apenas mostrar os objetos que são bonitos. Ou seja, mostrar de onde vêm, por quem são feitos e, no fundo, promover quem faz”, realça.

Eduardo Santini, neto do fundador e um dos acionistas da empresa, junta-se à conversa quando falamos no posicionamento da marca e nesta parceria como elemento diferenciador. “Todos temos a ganhar. O nosso cliente tanto se pode apaixonar pelos produtos que a Portugal Manual nos apresenta e nos traz, como a Portugal Manual pode ganhar com os clientes que a Santini tem e estão familiarizados com a loja. Depois, também nos fez todo o sentido esta ligação – sendo a Santini uma empresa que trabalha de uma maneira artesanal e se liga muito às pessoas – para mais num espaço como a loja do Chiado”.

No ritmo frenético em que se vive, há cada vez mais pessoas, logo clientes, que procuram contrariar essa voracidade buscando uma economia de afeto, isto é, uma relação com um serviço e/ou bem que esteja mais em sintonia com a sua individualidade. Esta “linguagem” que cultiva a ligação a algo também leva a um maior interesse e sensibilidade para com o artesanato. E aqueles que estão por trás das peças. Ainda será um consumo de nicho, mas é um movimento que “está a crescer e de forma sólida”, corrobora Filipa Belo.

Marta de Botton, também administradora da Santini salienta que, “às vezes, as pessoas esquecem o lado artesanal da nossa marca. Nós descascamos manga à mão. Aliás, descascamos todas as frutas à mão. E as pessoas entram neste mundo globalizado e rápido e acham que as coisas já não são feitas da mesma maneira. Nós, na Santini, fazemos tudo da mesma maneira como no tempo do avô do Eduardo. Há aqui muitas tradições que não queremos abandonar”.

Uma parceria que ainda agora começou e já pensa o futuro

O que vem a seguir? Objetivos. Uma palavra chave em todas as relações, à qual esta parceria não pretende escapar. “Temos o objetivo de, com a Santini, fazer isto noutras lojas. Ainda são apenas sonhos, mas já estão sonhados. O Eduardo e a Marta sabem que é nossa ambição desde o início desenvolver uma linha própria para a Santini, com produtos desenvolvidos pelo novo artesão da Portugal Manual especificamente para o ambiente/loja onde eles se inserem”, explica Filipa Belo.

Já existem alguns produtos pensados, uma mulher ao leme, a designer de produto Rita Martins, que dá o rosto e o entusiasmo ao projeto-piloto, a loja do Chiado, e que é quem vai estar à frente dessa coleção: a  “Santini por Portugal Manual”. Até ao final do ano, estarão entregues as primeiras propostas. Pelo menos assim o espera Filipa Belo. A equipa da Portugal Manual tudo irá fazer para que assim aconteça.

“Temos aqui uma seleção de artesãos muito interessante, mas sentimos que podemos ter um produto que é «exclusivo Santini» e do cliente que aqui vem. Porque, no fundo, as pessoas que vêm aqui já estão a criar memórias, com o sabor dos gelados, com o espaço, e o que nós queremos é uma extensão dessa memória para a casa da pessoa. E que pode acontecer com o gelado que compra e come em casa, ou com o objeto que levou e que remete para esta emoção – as pessoas sentadas na loja vivem também um momento contemplativo, enquanto saboreiam o seu gelado…”.

Nesta conversa, que poderia ser de café mas foi de “gelataria”, quisemos saber como gostariam que esta parceria venha a evoluir num horizonte de dois anos. Marta de Botton respondeu prontamente e com otimismo. “O lado que a Filipa falou de criar produtos mais específicos, como uma linha Santini, será um pilar extremamente interessante de desenvolver, apostando em peças-chave. Assim como expandir para outras lojas Santini em que também faça sentido para a Portugal Manual estar presente – seja em Lisboa ou noutras zonas do país, em que nós possamos, mais uma vez na base da pareceria, trabalhar juntos nesse horizonte temporal”.

No novo corner Portugal Manual | Santini pode encontrar, entre peças de vários artesãos, entre os quias Carlos Graça Gonçalves, Dias Wood Creations, Projecto Tasa, Luna, Maria Pratas, Oficina Poeta Azul, Duarte Galo, Beija-flor, Musgo, Luz Editions e So-so. De quarta a domingo das 14h00 às 20h00, no nº 88 da rua do Carmo, ao Chiado, em Lisboa. Isto para além dos muitos sabores que vão animar o verão que já espreita. Na nossa visita, a meloa tinha acabado de entrar na lista dos eleitos. Um reencontro com o fruto em versão gelado. Fica a recomendação. Tal como dizer um “olá” ao senhor que, dedicada e talentosamente, prepara os cones de bolacha crocante.

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