Assume a importância do enaltecimento do que é distintivo no mundo rural e não a ambição de comparação aos padrões urbanos, apostando antes no diálogo entre estas realidades territoriais para a promoção da coesão e competitividade económica e social.

A velha classificação urbano rural dos territórios portugueses tornou-se simplificadora face à complexificação das dinâmicas territoriais, onde as realidades puramente urbanas ou rurais são cada vez menos frequentes. São visíveis nuances e singularidades territoriais que invalidam a rígida lógica de classificação, que aloca ao litoral o mundo urbano e ao interior o mundo rural.

As tipologias territoriais definidas no estudo trazem uma nova coerência, harmonizando os territórios urbanos e aprofundando os rurais. A diversidade do mundo rural é evidente, distinguindo-se territórios rurais – estruturados pelo capital natural ou pelas atividades primárias – e híbridos com marca rural – impulsionados por serviços, por atividades industriais, ou pelo comércio. Agrupam se concelhos separados geograficamente, mas que partilham uma matriz comum de vocações e potencialidades.

O mundo rural é-o “por que sim”, com valor por si e em si, pautado por múltiplas e disruptivas possibilidades de afirmação, visto como espaço de oportunidades de desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental, que cria um crescente interesse de empresários e empreendedores – cientes do seu valor acrescentado – e de pessoas – que procuram novos modos de vida e experiências apenas aqui alcançáveis.

O mundo rural enfrenta diversos desafios, sendo na diversidade das frentes de atuação de cada tipologia territorial, que estão os mais eficientes mecanismos de afirmação. As alavancas para a valorização do mundo rural incluem a identidade e os recursos endógenos (para povoar e atrair pessoas); a inovação e produção (para criar riqueza e atrair empresas e investimento); o turismo, a cultura e o património (como meio de internacionalização e plataforma avançada de consumo) e a sustentabilidade ambiental (para preservação e valorização do capital natural).

A reflexão expõe temas cruciais para as estratégias de desenvolvimento rural, destacando-se o povoamento sem massificação, a determinação do nível ótimo de densificação (populacional e económica) na baixa densidade, a complexidade dos territórios híbridos, o turismo em espaço rural, a remuneração pelos serviços públicos ambientais e a terciarização especializada como fator de atratividade. Também relevante na prossecução desta agenda de futuro será a criação de uma “entidade” representativa do mundo rural em Portugal, onde se reúna um fórum permanente e sistemático de pensamento sobre estas problemáticas.