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Um novo normal na consultoria com trabalho flexível e aposta na tecnologia

A aceleração conferida pela pandemia criou ganhos de eficiência a vários níveis, mas criando desafios a nível da retenção de talento. Aplicação dos fundos europeus será outro dos focos em 2022.
6 Março 2022, 16h00

Depois de dois anos de muita disrupção, a consultoria enfrenta o pós-pandemia com novos métodos internos e no contacto com o cliente que permitem ganhos de eficiência claros, sobretudo suportados numa adoção crescente de tecnologias inovadoras, mas há novos desafios no que refere à correta utilização destas ferramentas e na retenção de talento num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e onde as preferências dos trabalhadores sofreram mudanças profundas. É, assim, cada vez mais essencial para as firmas bem-sucedidas encontrarem um equilíbrio nestas várias dimensões, numa altura em que o sector será chamado para ajudar com a execução da ‘bazuca’ europeia.

A Covid-19 levou a uma aceleração significativa da tecnologia utilizada pela generalidade dos sectores, com a consultoria na linha da frente da adoção de, por exemplo, ferramentas de processamento de grandes quantidades de informação, mas a obrigatoriedade de limitar contactos levou a uma nova realidade: o trabalho remoto e a flexibilidade que este permite aos trabalhadores. As projeções de várias empresas de research como a Acuity, Accelo ou a Source Global Research apontam para a angariação de talento e a organização em modelos de trabalho flexíveis como um dos principais desafios em 2022 na área de consultoria, uma visão com a qual Bruno Padinha concorda.

“A escassez e volatilidade pessoas qualificadas vai continuar a ser o principal desafio, agravadas, quer pelo ‘achatamento’ do globo que a pandemia tem vindo a acelerar, quer pelas novas formas de trabalhar”, afirma o consulting leader da EY, explicando que, apesar de “os fundamentos” da profissão não se terem alterado, o “terreno de jogo passou a ser muito diferente”.

Estas alterações, acrescenta Miguel Cardoso Pinto, leader da EY-Parthenon, são transversais a um número vasto de empresas e ramos de atividade, pelo que isto cria também uma oportunidade para as consultoras: o “apoio ao desenvolvimento de estratégias que identifiquem novas formas de valor mas também a repensar o modelo de negócio das empresas para que estas possam gerar e capturar valor neste contexto que mudou dramaticamente, e irá continuar a mudar no futuro próximo”.

“Por outro lado, as tecnologias digitais, a sistematização de processos, rede de informação empresarial acessível a todos os trabalhadores mesmo fora do escritório, foram também uma das nossas maiores preocupações para permitir às empresas manter um normal funcionamento da atividade”, exemplifica João Paula de Carvalho, partner da Deloitte.

A transição para uma economia mais sustentável e digital irá aumentar a procura por serviços de consultoria, projeta igualmente Luís Gaspar, managing partner da Mazars, uma “transformação das expetativas do mercado e a preponderância de novos temas e soluções”.

“A aquisição de novas competências e conhecimento deve, mais do que a sua área de intervenção específica, abranger dimensões emergentes como big data, criptomoedas e gestão de informação, novos quadros regulatórios e oportunidades de financiamento”, defende, de forma a lidar com o ambiente em rápida evolução em que atuam as firmas do sector.

Esta foi outra das dimensões nas quais a Covid-19 teve um papel de acelerador, ao obrigar uma panóplia de áreas de atividade com baixa intensidade tecnológica a adotarem ferramentas inovadoras, alterando significativamente, em muitos casos, a forma de operar e relacionar com o cliente.

“Mais rápido do que o esperado, muitas empresas adotaram modelos de negócio digitais, movendo-se de lojas físicas para lojas online, criando canais online ou juntando-se a canais online já existentes, os agora populares marketplaces”, ilustra João Paula de Carvalho. Este será, incontornavelmente, um dos principais motores da transformação económica que se espera nos próximos anos, à medida que a maior parte dos sectores se tornam cada vez mais digitalizados.

‘Bazuca’ é oportunidade para sector e empresas.

Outra das tendências macro nas economias europeias será o foco na sustentabilidade, de acordo com o princípio de transição climática enunciado pela Comissão Europeia como uma das linhas diretoras que os investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) deverão ter. Este plano é mais uma dimensão com a qual as firmas de consultoria terão um trabalho acrescido, mas, alertam os especialistas da área, são uma oportunidade para as empresas portuguesas crescerem que não deve ser desaproveitada.

Com as preocupações crescentes da sociedade, governos e empresas quanto ao impacto da atividade humana no clima e no planeta, a sustentabilidade tornou-se um tópico incontornável. Consumidores mais exigentes e uma consciência ambiental obrigam a estratégias bem ponderadas e, nesse capítulo, a consultoria tem um papel-chave a desempenhar.

“Verifica-se uma necessidade crescente de as empresas se tornarem conscientes e aderirem às mudanças de regulamentos e práticas, uma vez que a sustentabilidade deixou de ser complemento, exercício de conformidade ou simplesmente marketing para se afirmar como vantagem competitiva, estratégica e diferenciadora. Tudo isso aumenta a necessidade de consultores que apoiem as empresas na garantia de operações mais responsáveis social e ambientalmente”, refere Luís Gaspar.

Caberá, assim, ao sector “apoiar a descarbonização do setor industrial e empresarial e a promoção da mudança de paradigma na utilização dos recursos, por forma a agilizar a transição para uma economia neutra em carbono e promover a competitividade da indústria e das empresas e acelerar a produção de produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos, bem como a transição para uma bioeconomia sustentável, através de um uso sustentável e eficiente dos recursos”, completa.

Tudo isto são dimensões do pilar ambiental do PPR, que fará chegar a Portugal 16,6 mil milhões de euros nos próximos anos, com o Governo a focar 3,059 mil milhões nesta agenda. Para Luís Gaspar, esta será uma “oportunidade única de criação de valor sustentável e de longo prazo para stakeholders internos, externos e a comunidade em geral”.

“Os fundos europeus trazem consigo mais do que apenas apoio financeiro à economia, trazem também uma agenda de recuperação e transformação para os próximos anos, e com essa agenda traz uma visão mais concreta das necessidades de recursos e talentos, o que permite ao negócio de consultoria planear a médio prazo e por sua vez também investir com uma maior certeza de retorno”, acrescenta Miguel Amado, Partner, Government & Public Sector and Health & Life Sciences, Consulting Services da EY.

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