A mais recente investigação promovida por um consórcio de jornalistas, conhecida por “Luanda Leaks”, poderá finalmente ter um destino diferente das anteriores, ou seja, consequências.

Lembro que o Swiss/Lichenstein Leaks, o Paradise Papers, o Luxembourg Leaks, o Panama Leaks, ou outros “Leaks”, não tiveram grandes consequências, pelo menos para quem se apropriou ilicitamente de capitais.

Em Portugal não temos “Leaks”, mas temos investigações intermináveis cujo destino tem sido igual ao das investigações internacionais – nenhum, a não ser para o contribuinte que continua a pagar a festa.

Nesta nova investigação alguns dos países ou cidades-estado envolvidas são, nem mais nem menos, as mesmas dos escândalos anteriores – Malta, Dubai, Suíça, Mónaco, Ilha de Man, Grã-Bretanha, entre outros, aos quais se junta agora Portugal.

Desde a época dos Descobrimentos que os portugueses se focaram na intermediação e pouco na criação de valor acrescentado. Este é mais um caso. Portugal precisava de dinheiro e Angola de credibilidade nos mercados internacionais, após anos de guerra e de um regime ditatorial. Foi o casamento perfeito. Todos comemoraram e usufruíram destas ligações que serviram a escritórios de advogados, consultores, empresários, algum sistema financeiro e até aos políticos que faziam vista grossa quando anunciavam o crescimento do investimento estrangeiro em Portugal. São estes – os que fecharam os olhos – que hoje criticam Isabel dos Santos, pedem medidas de protecção às empresas portuguesas e nos falam de um país implacável no combate à corrupção.

O que ficamos a saber é que somos um país igualzinho aos que criticamos. Recebemos dinheiro, deixámos que fosse aplicado, financiámos uma empresária que hoje criticamos. Mas o desfecho desta história pode ser diferente. Angola poderá dar uma lição ao mundo e este “Leak” ter um destino muito diferente, até pelas motivações.

Lembro que ainda no ano passado, aquando de uma visita da presidência portuguesa a Angola, foi-nos pedido uma colaboração estreita para que capitais ilícitos transferidos para Portugal pudessem ser repatriados. Em resposta, como sempre cordiais e diplomáticos, como os suíços, chutámos este problema para a justiça, a tal que demora anos a decidir, comprando tempo ao nosso sistema financeiro para que se restabeleça, capte milhares de milhões de euros que teriam de regressar a Angola, ou consiga investidores para comprar as participações nas múltiplas empresas portuguesas.

Temos de nos questionar acerca do papel e efectividade da múltipla legislação para combate ao branqueamento de capitais, dos sistemas de controlo, dos auditores, dos consultores, dos registos de beneficiários efectivos das empresas, e até dos bancos centrais. Sim, porque não adianta culpar o sistema financeiro quando os bancos centrais têm acesso a todas as transferências de grandes montantes e nada fazem.

A solução encontrada até agora é acrescentar mais um interveniente numa cadeia sem fim e sem responsáveis. Quem não fosse sério até pensaria que é propositado.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.