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Um prejuízo à espera de acontecer. Sporting CP pode perder ativos avaliados em mais de 200 milhões de euros

Que plantel vai ter o Sporting CP na próxima época? A conturbada relação do plantel leonino com a direção do clube pode resultar numa onda de rescisões em Alvalade. A partir de hoje, ‘leões’ podem perder ativos avaliados em mais de 200 milhões de euros.
  • Rafael Marchante/Reuters
21 Maio 2018, 07h35

Após o desaire na final da Taça de Portugal, que culminou a semana mais conturbada da história recente do Sporting CP, a expectativa é grande em Alvalade relativamente ao que poderá ser o futuro próximo do clube. Perante os acontecimentos na Academia de Alcochete na semana passada, pode ser desencadeado um processo inédito no futebol português: uma onda de pedidos de rescisão unilateral de contrato que pode ir da equipa técnica aos jogadores. Em conferência de imprensa este fim-de-semana, Bruno de Carvalho revelou não acreditar que tal processo seja possível com o argumento de que o ataque da Academia de Alcochete foi um “ato que involuntariamente saiu dos próprios jogadores” pelo facto de alguns jogadores terem respondido às provocações de adeptos à chegada da Madeira.

202,50 milhões de euros em risco
É, provavelmente, o plantel do Sporting CP mais valioso dos últimos anos. De acordo com dados do site Transfermarkt, o plantel dos ‘leões’ está avaliado em 202,50 milhões de euros com os quatro internacionais portugueses, que vão estar no próximo Mundial da Rússia, avaliados em 91 milhões de euros: Rui Patrício: 16 milhões de euros; William Carvalho: 25 milhões de euros; Bruno Fernandes: 20 milhões de euros e Gelson Martins: 30 milhões de euros.
O internacional uruguaio Sebastian Coates está avaliado em 9 milhões de euros enquanto o internacional argentino Marcos Acuña vale 14 milhões de euros. O internacional holandês Bas Dost, um dos jogadores mais afetados pelo ataque de Alcochete, vale 19 milhões de euros.

Expectativa em torno de Jesus

A grande expectativa passa pelo que Jorge Jesus deverá fazer. O técnico tem contrato até ao final da época de 2018/19 e, de acordo com alguns relatos relativamente à reunião entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus na segunda-feira que antecedeu os ataques de Alcochete, a sua ligação com os ‘leões’ terminaria após o final da Taça de Portugal. De acordo com algumas informações publicadas este fim-de-semana, Jorge Jesus tem estado em contacto com o responsável máximo da Holdimo (acionista que detém 30% da SAD do Sporting), Álvaro Sobrinho, no sentido de serem evitadas as rescisões de contrato por parte dos jogadores.
Em declarações à SIC Notícias, o investidor manifestou-se convicto de que os futebolistas não vão avançar para rescisões unilaterais de contrato, elogiando ainda o papel do treinador Jorge Jesus no papel de ligação e no serenar do grupo de trabalho.
Caso Jorge Jesus decida pelo pedido de rescisão, dificilmente será possível segurar os jogadores no clube. De resto, só a saída imediata de Bruno de Carvalho e a influência de Jesus junto do plantel parece ser condição para evitar um pedido em massa de rescisões de contratos de forma unilateral.
Capitães (e não só) de saída
Na conferência de imprensa deste fim-de-semana, Bruno de Carvalho apontou para a responsabilidade dos jogadores pelo ataque dos adeptos em Alcochete e que o mesmo terá tido origem numa troca de palavras de Rui Patrício após o jogo da Madeira, já na garagem de Alvalade. Antes destas declarações (que terão extremado ainda mais as posições entre o plantel e a direção), o guarda-redes e capitão do Sporting CP já estava na porta de saída de Alvalade para representar o Nápoles na próxima época, numa transferência que poderia render mais de 20 milhões de euros aos cofres leoninos. No entanto, os eventos em Alcochete podem ditar um desfecho extremamente penalizador para as contas do Sporting CP: a rescisão unilateral de contrato pode ditar, caso seja da razão ao jogador, pode levar Patrício para longe do clube sem compensação para o emblema que representa.
Mas não só: William Carvalho, cuja transferência para o West Ham foi recusada na temporada passada, acredita que os seus dias em Alvalade terminaram e também deverá avançar para a rescisão. Gelson Martins, Bas Dost e Bruno Fernandes (todos eles com mercado a nível internacional) também estão prontos para rescindir os seus contratos assim como os argentinos de Alvalade: Rodrigo Battaglia e Marcos Acuña, dois dos jogadores mais afetados no ataque de Alcochete, estão prontos para abandonar Alvalade de acordo com a imprensa argentina.
Em declarações à CMTV, o comentador e ex-futebolista Fernando Mendes, revelou que, após conversa com Jorge Jesus, ficou seguro de que pelo menos oito jogadores do plantel principal do Sporting CP já têm toda a documentação preparada para apresentar já esta segunda-feira visando a rescisão de contrato de forma unilateral.
Perante esta situação, note-se que, de acordo com o jornal desportivo “Record”, na edição de domingo, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, já terá garantido junto de Bruno de Carvalho que os ‘dragões’, atuais campeões nacionais, não irão avançar para a contratação de qualquer jogador que rescinda contrato de forma unilateral com o Sporting CP.
Artigo 394º pode ser letal para o futuro dos ‘leões’

Os jogadores do Sporting podem terminar a relação contratual com o clube caso aleguem que este foi incapaz de lhes garantir condições de segurança e de saúde no trabalho. Embora a saída dos clubes não seja tão fácil como antigamente, a lei permite a rescisão de contrato se os jogadores apontarem alguma falha à entidade patronal que comprometa a manutenção do vínculo laboral.

O artigo 394.º do Código de Trabalho indica que os trabalhadores podem cessar imediatamente ao contrato de trabalho, por justa causa, caso se verifique que o empregador teve “falta culposa” na garantia de “condições de segurança e saúde no trabalho”. Quer isto dizer que, após as agressões decorridas na Academia de Alcochete, os jogadores e membros da equipa técnica visados podem pôr fim ao contrato que assinaram com o clube.

Os argumentos a apresentar podem ser vários. Desde logo, o facto de não terem sido tomadas as medidas necessárias que os protegessem de atitudes violentas e a questão da instigação (direta ou indireta) do comportamento dos adeptos. Outro dos argumentos que podem apresentar é a existência de ofensas à integridade física ou moral, honra ou dignidade por parte do empregador, em algumas declarações e ações dos representantes do clube.

Se antes bastava alegar falta de condições psicológicas para rescindir contrato no mundo do futebol, hoje não é assim tão fácil. Se os jogadores conseguirem que lhes seja reconhecida justa causa, têm direito a receber o montante correspondente às retribuições em falta até ao termo do contrato. A indemnização pode ser mais elevada caso fique provado que os jogadores tiveram prejuízos ainda mais graves devido à má conduta do empregador.

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