Quando em 2015/16 Portugal caiu para 7º lugar no ranking da UEFA, ninguém ficou preocupado: a consequência da perda de um lugar na Champions League só seria sentida em 2018/19. Havia tempo. Quando em 2018/19 os prémios financeiros da competição subiram de 1.400 milhões para 1.900 milhões de euros, continuou a não se discutir o seu impacto negativo na competitividade interna das ligas da periferia da Europa.

Apresento o caso Maribor: entre as épocas 2015/16 e 2017/18, o Maribor, com um orçamento anual de cerca de 3 milhões de euros, foi uma única vez campeão da Eslovénia (ganhou o Olimpija Ljubljana nas restantes). Contudo, na época de 2017/18 conseguiu o feito inédito para o futebol esloveno de qualificar-se para a Champions League. Recebeu por isso um prémio de 15 milhões de euros (cinco vezes mais que o seu orçamento anual). Dispensam os leitores o detalhe de saber quem foi campeão esloveno na época seguinte. A pergunta que se coloca é até quando estará o Olimpija Ljubljana esmagado pelo prémio da UEFA do seu rival?

Portugal vive o mesmo problema à sua escala. O novo modelo de distribuição de prémios da UEFA Champions League, somado à perda de um lugar na prova, fez com que em 2018/19 o FC Porto aumentasse a sua receita de 31 milhões para 78 milhões, e o Benfica aumentasse de 18 milhões para 49 milhões e o Sporting diminuísse de 22 milhões para 6 milhões de euros, decorrentes da participação na Liga Europa. Não esquecer que os prémios da UEFA representam cerca de 20/25% da receita anual dos clubes grandes. E para 2019/20, o Benfica tem já garantidos pela participação na prova cerca de 43 milhões de euros (no momento em que escrevo esta crónica, o FC Porto acaba de deixar fugir 44 milhões frente ao Krasnodar).

A distribuição parcial deste elevado montante pelos clubes portugueses é especialmente nefasta para o Sporting. Na época 2017/18, o clube pagou em ordenados 80% da sua receita operacional, muito além dos 60% indicados como limite máximo pela European Club Association (Benfica e FC Porto pagaram 56% e 75%, respetivamente). Será expectável que o Sporting venha a reduzir a sua folha salarial de 74 milhões para 55 milhões de euros (no máximo 60 milhões).

Numa escala macro verificamos que se o Sporting não ganhar o título de campeão nacional esta época, ultrapassará o seu recorde negativo de 17 anos consecutivos sem conquistar o campeonato. Neste período, Benfica e FC Porto conquistaram 7 e 10 títulos, respetivamente.

Parece-me que existe um risco de o Sporting perder competitividade e ver debilitada a sua capacidade de lutar pelo título. Se analisarmos a classificação das duas últimas épocas verificamos que o seu terceiro lugar nunca esteve mais perto do segundo do que do quarto classificados. Não será fácil o caminho de Varandas: ou os sportinguistas assumem a realidade, sem populismos, e se unem, ou poderão deixar de estar no lote dos grandes.