Ao contrário do que muitos esperariam no final do milénio passado, as primeiras décadas do século XXI têm sido marcadas por períodos de turbulência a nível mundial. Ao mesmo tempo que assistimos a avanços tecnológicos impressionantes em todas as esferas da economia e da sociedade, continuam a registar-se períodos de conflitos armados entre países ou entre regiões (tal como sucedeu na primeira metade do século XX), aos quais se juntam as “guerras cibernéticas”, estas com contornos mais indefinidos.

No espaço europeu, as turbulências têm-se feito sentir de forma significativa, com especial impacto nos países com economias mais pequenas, como no caso de Portugal.

Primeiro, o impacto (positivo) da introdução do Euro no início do século, nomeadamente ao nível da inflação e das taxas de juro. Depois, o alargamento da União Europeia (UE) ao Leste europeu, em 2004, causando pressão a alguns setores europeus mais expostos à concorrência, mas que se souberam reinventar, através da inovação (como nos têxteis, calçado ou agroalimentar no caso de Portugal).

Depois, em 2008, com a crise financeira internacional e a consequente “crise das dívidas soberanas” a partir de 2010, que atingiu os países europeus de forma desigual, tendo Portugal sido um dos mais atingidos, quer a nível económico quer social.

Nos últimos dois anos, mais uma crise, mas desta vez pandémica, causada pelo Covid-19, tendo exigido um esforço sem precedentes e uma resposta concertada entre os países da União Europeia, com impacto também na nossa economia. Por último, a crise geoestratégica iniciada com a invasão da Rússia sobre a Ucrânia, mesmo às portas da UE, que atinge diretamente valores como a liberdade, democracia ou soberania dos Estados, e que terá certamente impacto profundo nos próximos anos.

Temos de reconhecer que as respostas a estas crises e períodos de turbulência por parte da UE não têm sido tão céleres e eficazes como seria de esperar, por várias razões (a falta de consenso entre os Estados-membros sobre o tipo e intensidade de resposta é uma dessas razões…). No entanto, atualmente a Europa (incluindo Portugal) está mais bem preparada para dar resposta a crises do que estava há dez anos. Por exemplo, ao nível da política monetária, a mesma tem vindo a ser utilizada, não só como mecanismo de estabilidade de preços (objetivo principal), como também como mecanismo de estabilização dos mercados financeiros.

Ao contrário do que aconteceu na “crise das dívidas soberanas” (onde a resolução da crise ficou a cargo de cada país), o Banco Central Europeu tem sabido atuar junto dos mercados, nomeadamente através da compra de dívida pública. Sem isso, não se teria dado uma resposta tão eficaz por parte das políticas públicas aos efeitos da pandemia – basta ver o enorme aumento de despesa pública com os sistemas de saúde, mas também os apoios europeus às empresas e ao emprego, materializados nos mais recentes Planos de Recuperação e Resiliência.

Diferente terá de ser a resposta ao período pós-guerra (seja ele quando for…), onde a reconstrução da Ucrânia deverá exigir um novo “Plano Marshall” e um enorme esforço solidário de todos os países da União, dado o nível de destruição a que estamos a assistir. Mas também a UE deverá repensar o seu posicionamento global em algumas áreas críticas – como a política energética, de segurança e defesa – para que os “valores europeus” não sejam postos em causa. Enormes desafios, a que ninguém poderá estar de fora.