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Uma barragem no Tejo e agricultura no mar. Conheça as ideias do presidente da CAP para garantir o futuro do setor em Portugal

“Temos aqui uma nova necessidade de olhar para uma outra reserva de água, estratégica, que poderá salvaguardar-nos o futuro de uma região vastíssima de Portugal, que é uma barragem na bacia do rio Tejo, que pode beneficiar Lisboa, inclusivamente em termos de assegurar o seu abastecimento de água, e que pode ser uma barreira à invasão de água salgada, que está a subir pelo Tejo, e a perigar os terrenos”, defende Eduardo Oliveira e Sousa.
29 Setembro 2020, 17h35

Uma barragem na bacia hidrográfica do rio Tejo, uma barreira contra o avanço da desertitificação vindo do norte de África, a aposta na agricultura do mar e a criação de uma marca para os produtos nacionais na vertente exportadora são algumas das ideias que Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal defende para salvaguardar o futuro deste setor de atividade em Portugal.

Numa entrevista concedida ontem, dia 28 de setembro, ao programa televisivo ‘Tudo é Economia’, da RTP 1, Eduardo Oliveira e Sousa sublinhou : “Portugal precisa de construir uma barreira ao avanço do deserto que está a vir do norte de África”.

“Há um processo de desertificação que está a intensificar-se, no âmbito das alterações climáticas, que são cada vez mais dolorosas para quem vive num setor como este”, alertou o presidente da CAP, assinalando que “temos aqui uma nova necessidade de olhar para uma outra reserva de água, estratégica, que poderá salvaguardar-nos o futuro de uma região vastíssima de Portugal, que é uma barragem na bacia do rio Tejo, que pode beneficiar Lisboa, inclusivamente em termos de assegurar o seu abastecimento de água, e que pode ser uma barreira à invasão de água salgada, que está a subir pelo Tejo, e a perigar os terrenos”.

Para Eduardo Oliveira e Sousa, “a questão da água é uma questão fulcral entre nós, a diversos níveis”.

Segundo o presidente da CAP, a questão de andar a discutir o novo aeroporto internacional de Lisboa há cerca de 50 anos não se coloca especificamente no setor da agricultura, mas a barragem do Alqueva esteve mais ou menos esse tempo para ser decidida e a barragem do Pisão está há quase 60 anos a ser debatida, “finalmente, parece que agora é que vai ser”.

O líder da CAP defende um outro projeto opara o setor da agricultura em Portugal, intrinsecamente ligado ao desenvoovimento da tecnologia.

“Um dado curioso, inclusivamente no âmbito da investigação e do futuro, que nós não conhecemos, é por que não fazer agricultura no mar? Algo que nunca ouvimos, mas já se faz, é possível fazer, e podem-se produzir vegetais no mar, tal e qual como se podem ter peixes em aquacultura. Por isso, também nós dizemos, era bom que naquela perspetiva oceânica que para nós é muito favorável, porque temos uma frente oceânica muito grande, que o país avançasse nessa matéria”, adianta Eduardo Oliveira e Sousa.

Segundo o presidente da CAP, “é importante explorar essas novas fronteiras com uma ambição de avançar no progresso, de avançar à frente dos outros e trazermos qualidade, trazermos tecnologia, que permita qualificar o emprego e contribuir para que os jovens que se formam em Portugal não se vão embora”.

“Portugal é dos países da OCDE que tem mais jovens qualificados, ou mais qualificados, e um quarto desses jovens não encontram emprego em Portugal. Isso tem de acabar e essa oportunidade integra a agricultura, integra a indústria, integra a investigação, integra as novas tecnologias”, explica este responsável.

Agrivultura nacional sofreu com pandemia nos custos de produção
“Os parceiros sociais estão desejosos que haja condições para poderem levar este tipo de progresso por diante. Mas há outro tipo de entraves. Neste momento, as empresas estão asfixiadas com problemas financeiros, os clientes desparareceram em muitos setores. Há setores que resistiram melhor à crise, como é o caso da agricultura. Mas há muitas consequências, porque a pandemia atinge todas as pessoas, umas mais do que outras, mais vulneráveis. Os que têm empregos menos sólidos são aqueles que, obviamente, sofreram mais com esta situação toda, mas os parceiros sociais vão fazer agora, nestes próximos tempos propostas junto do Governo para tentar adequar minimamente algumas das condições que melhorem a situação das empresas”, assegura Eduardo Oliveira e Sousa.

O presidente da CAP reconhece que, em Portugal, “a agricultura sofreu nos custos de produção” devido ao impacto da pandemia de Covid-19.

“Numa colheita, no transporte de trabalhadores. Uma carrinha que levava nove trabalhadores, agora só pode levar cinco. Ou faz duas viagens ou tem duas carrinhas. [A pandemia] Tornou as coisas muito mais caras. Mas, às vezes, esse aumento de custos não é refletido no preço que é pago ao agricultor, perde-se um pouco e isso pode causar prejuízos”, avisa o presidente da CAP.

No entender de Eduardo Oliveira e Sousa, “o canal HORECA [Hotelaria, Restauração, Cafetaria], quando parou, criou um colapso imediato em vários setores”.

“Nas frutas e legumes, que tiveram um processo complicado, até se ajustarem através os mercados. As flores foram um colapso absoluto, porque até os funerais foram suspensos em termos de presença de flores. E não havia eventos. Tudo o que era exportado, os frutos vermelhos, por exemplo, tiveram uma primeira fase em que pararam completamente as exportações. Felizmente, depois recuperaram e até conseguiram, na recuperação, ultrapassar os números do ano passado. Portanto, há setores dentro da economia agrícola que conseguiram crescer neste período de dificuldade. Os produtores de leitões, por exemplo, de um momento para o outro desapareceram os restaurantes, os casamentos. É raro uma pessoa comprar um leitão para levar para casa. Portanto, o negócio minguou, os restaurantes fecharam. Os produtores de queijo fresco. O queijinho que se põe em cima da mesa quando se vai ao restaurante, desapareceu. O setor do vinho, teve ali um impacto, mas como o vinho é um setor em que [o produto] se pode guardar e como é um setor que está muito bem organizado, felizmente, está agora também a conseguir recuperar”, retrata o líder da CAP.

Eduardo Oliveira e Sousa garante que “não houve setor nenhum que, de uma forma ou de outra, não tivesse impacto”.

“Os produtores de gado, de carne, os produtores de menor dimensão, do norte do país, que tinham dois, três animais, que eram uma espécie de um mealheiro. Ainda hoje há produtores com dois, três animais que têm e vendem, e conseguem mandar um filho para a universidade. Se lhe desapareceu o valor desses animais, esses problemas agravam-se. Portanto, esta pandemia teve vários impactos”, assume.

A necessidade de uma marca nacional para fomentar as exportações
Ao nível das exportações, em que a agricultura nacional pesou cerca de 20% do total do país no ano passado, Eduardo Oliveira e Sousa explica que “este ano ainda não terminou e as exportações não estão só indexadas à abertura do mercado, como também às próprias produções”.

“Não tenho neste momento números sobre o que vão ser as exportações. Sabemos, por exemplo, que o setor dos frutos vermelhos e o das frutas e legumes, conseguiram ultrapassar a crise e conseguiram crescer qualquer coisa, cerca de 2% em relação ao período homólogo do ano passado, mas em termos de cômputo geral, as culturas estão agora em pleno e, por isso, é ainda um pouco cedo para saber se o país, no seu todo, conseguiu manter ou não os níveis de exportação dos anos anteriores”.

Em termos de promoção das exportações, Eduardo Oliveira e Sousa defendeu que “é importante que haja um símbolo, uma marca que qualquer pessoa, em qualquer país, possa indentificar como um produto português”.

“Criar uma marca que nos identifique. Se colocar um produto com uma torre Eiffel ao lado, toda a gente sabe que aquilo é francês. Nós precisamos de uma coisa pareceida”, advogou o presidente da CAP.

 

 

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