A pandemia Covid-19 afetou todas as pessoas, mas não da mesma forma. A crise agravou as condições de vida das mulheres no que concerne à discriminação, desigualdade e violência.

Em 2019, as mulheres representavam mais de metade da força laboral nacional, mas 91% dos lugares de membros dos conselhos de administração das 17 maiores empresas cotadas em bolsa eram ocupados por homens. No universo das 500 maiores empresas do país, apenas 8,3% eram lideradas por mulheres e a desigualdade salarial, 17,8%, mantinha-se uma das mais altas da Europa, apesar de no país a maioria dos licenciados, 59%, ser do sexo feminino.

Mais trabalho e precariedade, menos reconhecimento, menos dinheiro e menor acesso aos lugares de topo. Estas eram as questões que afectavam as mulheres antes da pandemia. Agora agravaram-se. Um ano após o início do surto do coronavírus, as consequências sociais e económicas vão traduzir-se no impacto no nível de vida de 47 milhões de mulheres e raparigas. Em simultâneo, ameaça os progressos alcançados nas últimas décadas nas questões de igualdade de género e oportunidades. É uma epidemia dentro de outra epidemia maior.

Os períodos de quarentena, o encerramento dos estabelecimentos de ensino e a precariedade laboral contribuíram para um aumento da violência, em particular a violência doméstica. Segundo os últimos dados, estima-se que em muitos países da Europa os números referentes à violência doméstica tenha subido 30%.

Apesar de muitas mulheres trabalharem com salários baixos, irregularidade no vínculo contratual e, como consequência, com menos acesso à proteção social, ironicamente são elas que estão na linha de frente da resposta à crise. As mulheres representam 70% dos profissionais de saúde a nível global, assim como também representam a maioria dos profissionais na área dos serviços essenciais, como na produção e cadeia de suprimentos de alimentos, limpeza e assistência a menores e idosos.

É crucial que as políticas de resposta económica e recuperação englobem e coloquem como prioridade medidas para minimizar o impacto da crise nas mulheres quebrando o ciclo de pobreza a que este segmento da população está votada.

Perante este cenário devastador, é também incompreensível a falta de escolha de candidatas para posições de destaque em ano de Eleições Autárquicas. Recentemente, o PSD, na apresentação de 102 candidatos a presidentes das Câmaras Municipais, escolheu apenas três mulheres e nenhuma das três candidaturas serão destinadas as câmaras de capitais de distrito.

Num partido em que metade dos militantes são mulheres e que realiza acções como a Academia de Formação Política para Mulheres, não é possível acreditar que “há muito poucas mulheres disponíveis”, como justificou o líder do partido, Rui Rio.

Esperemos que o PSD ainda emende este erro grosseiro tremendo nas escolha dos restantes candidatos e que os outros partidos não sigam o mau exemplo.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.