A descida das temperaturas já se nota, afetando sobretudo os mais carenciados e idosos. Este ano, devido à subida dos preços da energia, as dificuldades serão maiores e os efeitos poderão ser – escrevo sem medo das palavras – fatais.
O frio faz lembrar a inflação. É verdade que quem terá maior aumento absoluto nos custos com o aquecimento serão os que têm mais possibilidades, já que irão manter o seu conforto nas suas [maiores] habitações à custa de contas de gás e eletricidade bem mais altas. Mas serão os mais carenciados a sofrer mais porque terão de escolher entre frio, fome, medicação ou outras necessidades básicas.
Há um problema de falta de atenção e de justiça social no que toca ao planeamento energético das habitações. Acostumamo-nos a ouvir que as casas são mal isoladas e muito suscetíveis aos rigores do inverno. Portugal não é um país frio, comparando com o resto da Europa, mas é um país pobre, mal gerido e de prioridades trocadas.
Décadas de incentivos fiscais e de regulamentação continuam a não responder a este problema básico: as casas têm fraco isolamento térmico e não defendem os idosos e as crianças que, invariavelmente, entopem as urgências no inverno devido a doenças respiratórias, quando o desfecho não é pior.
Um artigo desta semana no “The Economist” demonstra que a mortalidade no inverno é substancialmente mais alta do que no verão, mas que, paradoxalmente, esse diferencial de mortalidade é maior nos países onde as temperaturas são mais altas do que naquelas onde até há mais frio.
“Os dados confirmam que o frio mata” e, em Portugal, morrem mais 36% de pessoas por semana no inverno, face a mais 13% na Finlândia, por exemplo. Por outro lado, por cada inverno que seja 1º C mais frio que o normal, morrem mais 1,2% pessoas, o que é potencialmente exacerbado quando os custos de energia sobem.