A aposta na energia nuclear avançada deve fazer parte do plano de recuperação económica da União Europeia. Uma fonte de energia elétrica relativamente barata, constante, segura e verde. A continuar no atual caminho, a União Europeia (UE) enfrentará a prazo um défice considerável de energia de baixo carbono.

Na Alemanha, como já vários estudos indicam, a energia anteriormente produzida por centrais nucleares está a ser substituída por energia produzida através de combustíveis fósseis, principalmente o carvão, e por importação. Um erro ambiental terrível, com o aumento das emissões de dióxido de carbono; económico, com os cidadãos e empresas a pagarem a energia mais cara; e geoestratégico, com uma dependência energética crescente da Rússia.

Nada disto faz sentido e apenas encontro sustentação no resultado do excelente trabalho de lóbi que alguma indústria tem feito e pago. Ainda há poucos dias, para gáudio de alguns ambientalistas e de empresas produtoras de petróleo, carvão e gás, a Alemanha, a principal “fábrica” da Europa, desmantelou uma central nuclear, reafirmou a sua intenção de continuar o programa de encerramento de outras seis e inaugurou mais uma central a carvão.

Para sair da maior recessão da sua história após a Segunda Guerra Mundial, a Europa necessita de investimento público. De biliões de euros em investimento público. E uma parte desse investimento deve ser canalizado para o combate às alterações climáticas – a principal luta das nossas vidas. A produção de energia elétrica desempenha um papel essencial nessa revolução verde de que tanto se fala: todos os anos morrem milhares de pessoas vítimas das emissões de CO2 e ainda mais são condenadas a doenças crónicas.

Nas economias avançadas, a energia global é cada vez mais baseada em electricidade, pelo que é previsível que, fruto dos avanços tecnológicos, esta dependência continue em crescendo. Por exemplo, a mobilidade assente em veículos elétricos está em expansão e o mesmo sucede com tantas outras necessidades domésticas do nosso dia a dia.

É importante sublinhar, também, a unanimidade existente no que respeita à obrigação que os países da União têm de recolocar uma parte significativa da produção daquilo que consomem no seu território.

Esta pandemia ensinou-nos que o Ocidente não pode continuar a estar tão dependente do Oriente para o fabrico dos bens que necessita, desde roupa a ventiladores para os hospitais. E uma reindustrialização da União Europeia conduzirá a um aumento da sua procura de energia. E de uma energia que tem de ter um preço baixo para garantir, por um lado, a competitividade daquilo que produzimos e, por outro, que todos os europeus, e não somente os mais ricos, podem continuar a adquirir bens essenciais. De outro modo, estaremos a pôr em causa a sociedade de bem-estar e de busca pela igualdade em que ambicionamos viver.

A expansão das energias renováveis, principalmente a eólica e a solar fotovoltaica, deve ser o principal objetivo. Em conjunto, também, com o desenvolvimento de tecnologia que permita, por exemplo, que o hidrogénio verde seja uma realidade.

Em Portugal, a política energética seguida pela Governo está correta: encerramento das centrais a carvão e a gás e a sua substituição por renováveis. Não faz qualquer sentido equacionar a construção de uma central nuclear no nosso país, visto que não existe essa necessidade nem temos esse histórico.

É um facto que o confinamento causado pela pandemia e o encerramento do comércio, serviços e indústria levou a uma diminuição considerável das emissões de dióxido de carbono, com uma previsível redução global em 2020 de 8% em comparação com 2019. Mas a história diz-nos que, após uma queda acentuada do consumo de energia, segue-se um período de forte aumento – foi assim recentemente na crise de 2008.

A defesa do nosso Planeta, da Humanidade e a redução das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera estarão decisivamente dependentes de uma nova política pública de aposta na energia nuclear avançada. Porque temos pouco tempo (muitos especialistas afirmam que em 2030 atingiremos o ponto de não retorno) e corremos o perigo da eletricidade produzida atualmente com recurso a centrais nucleares ser substituída por energia resultante da queima de combustíveis fósseis, como já está a acontecer na Alemanha.

Para além disso, as centrais nucleares garantem redes de energias estáveis, ajustando-se a picos de oferta e procura. Esta estabilidade é ainda mais necessária quanto maior for a importância de fontes de energias renováveis, como a eólica e a fotovoltaica solar, no abastecimento da rede. E, com a tecnologia atual, é um modo de produção de energia seguro para a população.

Mesmo em termos históricos, e na perspetiva mais penosa possível para os dois desastres relevantes que existiram com reatores, as vítimas mortais causadas pela produção de energia nuclear nos últimos 60 anos são comparáveis às provocadas atualmente pela emissão de dióxido de carbono em poucas semanas.

De acordo com Dados da Agência Internacional de Energia (AIE), relativos a 2018, a energia nuclear evitou a emissão de 55 gigatoneladas de CO2 nos últimos 50 anos. A energia nuclear é a maior fonte de eletricidade com baixo carbono nos países de economias avançadas, onde se inserem os Estados Unidos, a União Europeia ou o Japão, com uma quota global de 18%.

Como tal, é com enorme preocupação que vemos que cerca de ¼ da capacidade nuclear da União Europeia deverá ser desmantelada até 2025, tendo em conta a idade média dos seus reatores e a inexistência de uma política para garantir a sua renovação. No conjunto das economias mais avançadas, a idade média das centrais de energia nuclear é de 35 anos, encontra-se em fim de ciclo de vida e não está a ser renovada.

Sabemos que as maiores barreiras para a construção de novas centrais nucleares são a mobilização de milhares de milhões de euros no seu investimento inicial e os prazos dilatados para a sua construção. Assim, os governos da UE têm de encarar a energia nuclear como uma energia limpa, criando condições para permitir o prolongamento dos ciclos de vida dos reatores nucleares e o desenvolvimento de novos projetos. Neste aspeto, é importante ler a opinião do fundador da Microsoft, Bill Gates, que é nos dias de hoje o mais mediático impulsionador da energia nuclear.

Para os países com economias mais avançadas atingirem os objetivos do Acordo de Paris, é fundamental um maior investimento nas energias renováveis mas também na energia nuclear avançada – construindo novas centrais nucleares, renovando e aumentando o ciclo de vida das já existentes e continuando a investigação e o desenvolvimento nesta área, para não se perder conhecimento nem capacidade do capital humano. A nossa sobrevivência e do nosso planeta como o conhecemos dependem disso.