Vai ou não a pandemia suscitar uma mudança político-económica na União Europeia? Esta foi a pergunta que motivou o relatório escrito por quatro autores e promovido pela Chatham House, intitulado “Europe After Coronavirus: The EU and a New Political Economy” e que pode ser encontrado em chathamhouse.org.

O relatório argumenta que, havendo falta de consenso entre os diferentes países, as regras e estruturas atuais da UE podem restringir a capacidade dos Estados-membros de realizar reformas significativas. E que isso poderia levar a conflitos de políticas entre aqueles, bem como entre estes e as instituições da União, conflitos que iriam para além das questões já muito discutidas sobre a repartição de riscos na zona do euro.

Os autores apontam vários exemplos dessa vontade reformista, desde Emmanuel Macron identificando a necessidade de refazer o capitalismo e fortalecer a “soberania económica” investindo nos setores da saúde e da alta tecnologia, até à introdução do rendimento mínimo garantido em Espanha e ao aumento da soberania alemã e da Europa defendido por Angela Merkel. Movimentações que “sugerem que, além da resposta imediata à crise, a Covid-19 poderia levar a um repensar mais amplo da economia política da Europa”.

Na minha opinião, se esse repensar e essa mudança na política e economia europeias serão ou não uma realidade ficará evidente a partir de 1 de julho próximo, altura em que a Alemanha assumirá a presidência rotativa do Conselho Europeu durante seis meses, sendo depois seguida por Portugal.

O programa definido por Berlim já foi classificado como “ambicioso”, por incluir a transição para uma economia mais verde, o impulsionar da digitalização, a reforma da política de migração e a redefinição da relação da UE com o Reino Unido e a China. Mas isso foi antes de a Europa entrar numa crise que parece vir a ser ainda mais gravosa do que a anterior, dados os efeitos da paralisação no turismo, transportes, restauração e comércio.

Tal como salientou o embaixador da Alemanha na UE, Michael Clauß, o foco deve concentrar-se agora na capacidade da UE de gerir e sair da crise assegurando a manutenção da integração da União enquanto tal. “O sucesso de nossa presidência será medido por isso”, afirmou Clauß. Mas na verdade trata-se de bem mais o que está em causa. Será o sucesso do próprio modelo europeu que dependerá agora da forma como a UE alcançar o consenso necessário para a reconstrução e as reformas. Por isso mesmo, a Portugal interessa seguir de perto o que farão os alemães, até porque depois seremos nós a dar continuidade a esse trabalho.

Para já, hoje mesmo tem início o primeiro teste a esse consenso: a negociação pelos 27 Estados-membros do fundo comunitário de recuperação, no valor de 750 mil milhões de euros, a executar até 2024 e que a Finlândia já rejeitou no seu parlamento. Depois, será a vez de concentrar esforços para que a Europa possa voltar a ser o que era: um espaço comum sem barreiras ou entraves à circulação. Ou seja, sem fronteiras.

 

Portugal é considerado, juntamente com a Finlândia, o país onde mais se confia nas notícias da comunicação social, liderando a lista dos 40 países analisados no âmbito do “Reuters Digital News Report 2020”. Eis um excelente sinal de que, apesar de a confiança geral nas notícias ter caído de 2019 para 2020, os portugueses reconhecem o papel crucial do jornalismo.

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