Na primeira semana de março o governo italiano anunciou medidas no sentido de um memorando de entendimento (MdE) no âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” (BRI, na sigla inglesa), ou “Nova Rota da Seda”. A confirmar-se, será o primeiro país do G7 a integrar o plano bilionário de Xi Jinping, que já conta com 129 países, incluindo Portugal (Hong Kong Trade Development Council). Destes, cerca de metade é avaliada como lixo, ou pior, pelas agências de rating.

Portugal assinou o MdE da “Nova Rota da Seda” no final do ano passado, no qual, citando o resumo disponibilizado pelo Governo, se “estabelece as modalidades de cooperação bilateral (…) abrangendo uma ampla gama de setores, com destaque para a conectividade e mobilidade elétrica.”

Os EUA e restantes grandes economias do ocidente alertam para as finalidades geoestratégicas da China de poder aumentar a sua influência militar. Muitos também acusam a iniciativa de ser uma armadilha de dívida, e de favorecer a competitividade das empresas chinesas nos mercados externos (“FT”). Por outras palavras, é um acordo “de chineses, por chineses, para chineses”, dado que o financiamento provém de bancos e fundos estatais da China, os contratos são, na maior parte dos casos, para construtoras chinesas em grande necessidade de escoar o excesso de capacidade, e os trabalhadores são… chineses.

A BRI é um projeto multimilionário que facilmente chegará aos biliões, no longo prazo. O objetivo? Formalmente, passa por aumentar de forma significativa a conectividade entre a China e o resto da Ásia (o eixo), Europa e África (ala oeste) e América Latina (ala este), assim desenvolvendo o comércio e a prosperidade entre os países. O meio? Uma rede de grandes investimentos em infraestruturas e indústrias cruciais, com foco na ferrovia, portos, centrais elétricas e telecomunicações.

Em Portugal ainda não sabemos ao certo que infraestruturas serão desenvolvidas, além da rede 5G da Huawei em parceria com a Altice. Contudo, a BRI já avançou em muitos países da Ásia, onde pelo menos seis protagonizaram notícias trágicas para a iniciativa e reputação da China.

Do Sri Lanka podemos retirar ilações da tragédia do Porto de Hambantota, ou melhor, “Porto da Bancarrota”. Um simples enredo de corrupção e estratégia geopolítica chinesa culminou no país a devolver o investimento à China. O que é importante reter e evitar no futuro são as cedências à pressão dos parceiros chineses, que, em troca de melhores empréstimos, conseguiram obrigar o Sri Lanka a aceitar unicamente empresas chinesas para a realização da obra e a divulgar informação privilegiada sobre os clientes do porto às autoridades de Pequim (“Foreign Affairs”).

As “red flags” da cooperação sino-portuguesa também podem extender-se à rede 5G a ser desenvolvida pela Huawei, sendo preocupante a existência das leis da inteligência nacional (2017) e da contra-espionagem (2014), que estipulam a divulgação obrigatória de qualquer informação que o Estado exija às empresas.