Esta semana tivemos direito a pelo menos uma boa notícia, por entre tantas outras más e péssimas. Pouco habituados que estamos a ver as agências de rating revelarem otimismo, mesmo que moderado, relativamente à nossa economia, registei com agrado a posição da DBRS.

A agência de rating considerou que a procura de serviços do setor do Turismo, depois de mais um ano difícil em 2021, deverá regressar aos níveis anteriores à pandemia. “Não houve qualquer alteração estrutural nas características que tornavam Portugal um local atrativo para os turistas antes da crise”, refere a agência canadiana, destacando que “assim que a pandemia estiver mais controlada, a procura por serviços de Viagens & Turismo (V&T) em Portugal deverá recuperar totalmente, eventualmente”.

“Eventualmente”, no entanto – e se a procura vier mesmo a recuperar na totalidade – é praticamente certo que a configuração da oferta, essa, já será na altura outra. “Dada a importância do setor turístico para Portugal, é provável que isso venha a atrasar a plena recuperação económica do país” e esta crise terá, “inevitavelmente”, consequências graves para muitos trabalhadores e empresas. “É particularmente preocupante a solvência das pequenas e médias empresas expostas ao setor de V&T e um aumento persistente do desemprego de longa duração. Estas condições podem enfraquecer a qualidade dos ativos do setor bancário português”, afirma a agência de rating.

Resistir a mais um ano sem receitas não será de facto possível para muitos dos operadores e agentes do sector turístico que, neste momento, sonham com a possibilidade de um regresso de turistas britânicos a Portugal ainda este verão, dado que no pior dos cenários o governo inglês promete ter todos os seus cidadãos vacinados no final de julho. Mas é um sonho que ninguém sabe se irá concretizar-se ainda.

Em sectores interligados com o das viagens e turismo, a nível interno, os números são também cada vez mais dramáticos. Na restauração, segundo o inquérito agora divulgado pela PRO.VAR, 61,4% das empresas perderam mais de metade da faturação homóloga, cerca de metade está em situação de insolvência ou falência, e a maioria (60%) não obtiveram apoios por serem consideradas não elegíveis. Situação que demonstra a inoperância dos critérios aplicados pelo Governo.

No webinar “O Estado do Turismo”, organizado pela Confederação do Turismo Português na passada segunda-feira, foi interessante ouvir Miguel Maya, o presidente da Comissão Executiva do Millenium BCP. Também otimista, o banqueiro afirmou que a recuperação do sector será facilitada pelo crescimento da poupança acumulada pelos portugueses durante os confinamentos. Fator que, aliado à vontade coletiva de sair após a pandemia, considera que serão fatores muito positivos para o turismo.

É evidentemente bom pensar que assim será. E todos desejamos que suceda tão rápido quanto possível. Mas é indispensável, até lá, ir cuidando e apoiando quem já ficou ou está em risco de ficar pelo caminho.

 

 

Má notícia a saída do Prof. Manuel Carmo Gomes do grupo de especialistas ouvidos regularmente pelo Governo nas reuniões do Infarmed. As suas posições lúcidas são indispensáveis para a boa tomada de decisão. Na sua última participação, ficou o alerta para a necessidade de uma capacidade de testagem muito maior, algo com que concordo em absoluto.

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