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Uma Morte Manifestamente Exagerada

Além de ideologicamente estar mais perto da liderança regional, este novo contexto permite ao PSD nacional beber da fórmula do sucesso do PSD Madeira, ao mesmo tempo que este tem finalmente a influência nacional que o seu historial já há muito o justifica.
9 Junho 2022, 06h15

Luís Montenegro venceu com facilidade as diretas do PSD. O resultado não surpreendeu, mesmo sabendo que Jorge Moreira da Silva tinha a seu lado alguns dos homens do aparelho que ajudaram às sucessivas vitórias internas de Rui Rio, ainda que num contexto de afundamento nacional do Partido de Sá Carneiro. Foram o caso de Salvador Malheiro,  Carlos Reis entre outros. Estes elementos, aliás, destoam do padrão da base de apoio a Moreira da Silva, composto maioritariamente por personalidades da ciência, académicos ou pessoas ligadas a instituições de prestígio. Mas, claro, Moreira da Silva queria ter alguma hipótese, ainda que remota, de vencer e teve de acoplar parte do pior do “Riismo”. Não obstante, trata-se de um ativo imprescindível para o Futuro do PSD e de um Portugal liberto do socialismo atávico.

Por contraste, Montenegro conseguiu atrair alguns jovens quadros que marcavam a pouca ligação  de Rui Rio a propostas programáticas, ao rasgo das ideias e, enfim, à lucidez política. O maior símbolo destes quadros é, indiscutivelmente, Joaquim Miranda Sarmento, a quem competiu coordenar a moção de Montenegro.
O desafio que se coloca ao homem de espinho é colossal. Se nada de estranho se passar, e pode de facto se passar, o ex líder parlamentar poderá ter de enfrentar mais de quatros anos de oposição.
Mas, como foi dito na tímida campanha eleitoral interna, tudo se pode precipitar caso António Costa “vá para a Europa”.

E essa é uma possibilidade maior do que aquilo que aparenta.

Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter levantado a questão na tomada de posse do XII governo, que sobrevivia na surdina até então, o secretário-geral do PS chegou a ser confrontado por jornalistas. Porém, face à deficiente pergunta, Costa conseguiu enganar tudo e todos recorrendo à velha máxima de “com a verdade me enganas”.
Perguntaram a Costa se tem algum fundamento uma putativa ida para Europa após as eleições de 2014.

Este, com a sua reconhecida habilidade política, respondeu o que queria e não aquilo que foi questionado. Disse então Costa: “depois de nove anos como primeiro-ministro, um cargo executivo tão pesado, não faria sentido ir para presidente da Comissão Europeia, outra posição de forte cariz executivo e altamente desgastante”.
Esta declaração foi ouvida e recebida sem qualquer reflexão critica.

A questão é que não se põe no próximo ano a substituição de Ursula Von der Leyen como presidente da Comissão.

Quando se diz que “António Costa vai para Europa” não é disso que estamos a falar, mas antes do cargo de presidente do Conselho Europeu detido até à data presidido pelo inacreditável Charles Michel.

Assim, o desafio de Montenegro é de fazer uma oposição implacável ao partido socialista, ao mesmo tempo que tem de estar pronto para, a qualquer momento, ir a eleições e assumir funções governativas, pois este período político está numa evidente situação de estertor.

Cabe a Luís Montenegro unir o PSD, conseguir reenquadrá-lo ideologicamente, e preparar-se para federar o centro-direita e a direita democrática, sem atribuir a excessiva importância aos fenómenos político-mediáticos.
Nesse pressuposto, Montenegro tem dado os passos corretos, recusando falar sobre o Chega, cuja existência no espectro público é muito devedora da atenção que a comunicação social lhe dispensa, independentemente de não ter equivalência em termos de base eleitoral.

Madeira

Neste aspecto é importante refletir sobre o papel que os quadros do PSD da Madeira podem ter no futuro próximo do partido social democrata a nível nacional.

O PSD Madeira é poder há 46 anos de forma democrática. Como partido hegemónico no contexto regional, tem uma produção de quadros que proporcionalmente não encontra paralelo no país. É até incompreensível que até à data não tenha existido um único ministro nos governos do PSD proveniente da Madeira. Mesmo os Secretários de Estado contam-se menos do que os dedos de uma mão.

Estamos a falar de uma região de 270.000 habitantes com uma tradição de grande participação pública e política por parte dos cidadãos. Em que o PSD, fruto de décadas de poder, conseguiu produzir quadros e renova-los. Como se compreende que o partido, na São Caetano à Lapa, nunca tenha aproveitado?

Isso são naturalmente contas de outro Rosário.

Após ter sido sinalizado no último congresso do PSD-Madeira por parte do histórico Miguel Sousa, quando sublinhou que a Região tinha muito mais a ensinar ao partido ao nível nacional do que o contrário, Montenegro parece ter abraçado a ideia, convidando Miguel Albuquerque para mandatário nacional, e ao ter atribuído a Pedro Calado um estatuto claramente diferenciado relativamente aos seus pares mandatários regionais.

Não será estranho, por isso, se Miguel Albuquerque aparecer no Congresso como presidente da reunião Magna dos sociais-democratas, e Calado como um dos vice-presidentes da comissão política nacional.

Além de ideologicamente estar mais perto da liderança regional, este novo contexto permite ao PSD nacional beber da fórmula do sucesso do PSD Madeira, ao mesmo tempo que este tem finalmente a influência nacional que o seu historial já há muito o justifica.

Como diria Mark Twain: “Parece-me que as notícias da minha morte (PSD), são manifestamente exagerada”.

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