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“Uma OPA sobre a PT? Porque não?”. A história da OPA que marcou a carreira de Belmiro de Azevedo

Pela primeira vez na história do grupo Sonae, Belmiro de Azevedo marcou uma conferência de Imprensa para Lisboa, para 6 de Fevereiro de 2006. A história da OPA que marcou a carreira do empresário.
29 Novembro 2017, 16h20

Chegou à sala acompanhado pelo filho, por Ângelo Paupério e pelo banqueiro Horta Osório. O país ficou estarrecido com a notícia que os levava à capital: a Sonae, que já estava a operar nas telecomunicações por via da Optimus, lançava uma oferta pública de aquisição sobre a gigante PT. Parte do país aplaudiu a ousadia do maior empresário português do pós-25 de Abril, outra parte passou os meses seguintes a injuriá-lo das mais diversas formas – mas ninguém conseguiu ficar indiferente a um negócio que só tinha paralelo recente quando Jardim Gonçalves lançou o ‘pequeno’ BCP sobre o gigante Banco Português do Atlântico.

Nos meses seguintes, a OPA – que a PT considerou hostil – movimentou rios de dinheiro (a Sonae iria gastar 30 milhões para organizar a operação e a PT gastaria o que ninguém sabe ao certo quanto foi para se defender dela), movimentos bastidores políticos de uma forma que não se conhecia no país, extremou paixões e criou vários novos multi-milionários. No final, com o governo de José Sócrates a ser acusado por Belmiro de cumplicidade para com o núcleo duro da PT, não aconteceu nada: a Sonae não conseguiu comprar a sua concorrente mais musculada. Na altura, o grupo Sonae afirmou que, mesmo sem a realização do negócio, o mundo das telecomunicações nunca mais seria o mesmo. Belmiro e Paulo de Azevedo tinham mais uma vez razão – só não sabiam era quanta razão tinham.

A defesa do grupo PT contra a OPA reorganizou o núcleo accionista, fez aparecer uma série de ‘testas de ferro’ com ares da donos daquilo tudo, elevou até às estrelas personalidades que mais tarde desapareceram sem ninguém saber para onde, atirou alguns meios de comunicação social para fora do perímetro restrito dos seus deveres éticos e, no limite, começou a expor a enorme fragilidade da organização. Pouco tempo depois era a derrocada: a PT era, afinal, um grupo instrumentalizado pela política a um grau que poucos conheciam, mas, ao mesmo tempo, era também o mealheiro de alguns empresários e o saco azul de uma série de gestores.

Do que a PT era no dia em que, muitos meses depois de 6 de Fevereiro de 2006, cantou vitória sobre a OPA, já quase não resta nada: os principais accionistas foram à falência, alguns deles estão indiciados por diversos crimes, e os gestores de então, todos eles brilhantes (dizia-se), estão agora amarguradamente sozinhos num sítio qualquer.

Mais de uma década depois da OPA, há pelo menos uma coisa que parece certa, e que Belmiro percebeu antes de todos os outros: a PT é uma das histórias mais mal contadas do Portugal democrático.

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