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Uma ronda de leituras para o final de março

A leitura, como se sabe, é prazer, deleite e antídoto contra a espuma dos dias. Mais importante, é fonte de conhecimento. É viagem por outras culturas. É mergulho em pessoas que marcam. Questiona, interpela, mostra-nos a crua realidade ou brinda-nos com pura ficção. Por vezes mistura ambas. Outras brota poesia. Eis algumas sugestões de leitura.
26 Março 2022, 12h30

Nesta reta final de março, a poesia surge no topo do monte Olimpo. O mesmo é dizer que começamos a trilhar o caminho das sugestões por aqui, com “Divisão da Alegria”, de Raquel Nobre Guerra, editado pela Tinta da China. Pedro Mexia, responsável pela coleção “Poesia”, diz-nos que este é “o livro mais extenso e mais expansivo” da autora e que esta “nunca divide por completo a alegria daquilo que não é alegre”. Raquel Nobre Guerra  poderia retorquir: […] “saúdo a multidão em falta / sigo com solução o dia abrevio, algures o mundo moderno espera por mim”, in Happy Hour.

 

Na Assírio & Alvim, destaque para o livro de estreia de Pedro Eiras na poesia, e primeiro volume de um tríptico inspirado na obra de Dante Alighieri, intitulado “Inferno”.  Uma reflexão sobre a sociedade contemporânea que não abdica da empatia com o outro, “pois não merece dor na morte quem já carregou / toda a vida o inferno no sangue”. Prémio Literário António Cabral e única obra de poesia finalista do Prémio Oceanos 2021.

 

Ainda na Assírio & Alvim, fica a sugestão de um reencontro com um poeta que deixou uma obra escassa, António Maria Lisboa. “Poesia” é o resultado da escolha de poemas do seu amigo e companheiro surrealista Mário Cesariny, organizador deste volume, agora dado à estampa numa edição revista e com uma nova capa. “Pode, e decerto deve, ser considerado o mais importante poeta surrealista português, pela densidade da sua afirmação e na «direcção desconhecida» para que aponta”, assim o imortalizou Cesariny.

 

Num registo totalmente diferente, invocamos uma famosa e provocatória citação de Nietzsche, Eu só acreditaria num deus que soubesse dançar, para mergulharmos na biografia escrita por Stefan Zweig – “Nietzsche: o Combate com o Demónio”, editado pela Guerra e Paz – que nos mostra que os demónios a pairar sobre a Europa vêm de longe. Aliás, num dos seus últimos escritos, Nietzsche  profetizou: “Depois da próxima guerra europeia, entender-me-ão”.

 

A inaugurar a coleção romances de guerra e paz, na mesma editora, uma estreia também da jovem romancista colombiana Lorena Salazar Masso, com “Esta Ferida Cheia de Peixes”, que leva o leitor, rio acima, a percorrer a selva da Colômbia, numa jornada de reflexão sobre a beleza e a dor da maternidade e sobre a importância da sonoridade, num mundo de violência. Um livro que soma às leituras políticas a violência e os conflitos sociais do ponto de vista de quem a sofre.

 

Em “Melancolia em Tempos de Perturbação”, da filósofa neerlandesa Joke J. Hermsen, com a chancela da Quetzal, a melancolia é abordada como um pilar da civilização e uma forma de nos relacionarmos com o mundo e a natureza. Mostra o ser humano como uma entidade capaz de transformar a perda e a transitoriedade em criatividade e esperança – e, com a ajuda de pensadores como Hannah Arendt, Ernst Bloch e Lou Andreas-Salomé, investiga as circunstâncias em que o ser humano usa e ultrapassa a melancolia para estabelecer uma nova relação com o mundo e consigo mesmo.

 

Ainda na Quetzal, “Colibri” brinda-nos com a dança e contradança de Marco Carrera, o protagonista desta história, com o seu destino, entre trabalhos, tragédias e alegrias, entre cartas, emails e conversas telefónicas. E tudo começa quando Marco fecha a porta do seu consultório depois de deixar entrar o psicanalista da mulher. Foi com este romance que o autor, Sandro Veronesi, conquistou o prestigiado Prémio Strega.

 

Graças ao nascimento de Maria Bárbara de Bragança levantaram-se as paredes do Convento de Mafra. Mas a história da filha de D. João V vai muito além da conhecida promessa régia. Infanta de Portugal, casou por procuração com o herdeiro do trono espanhol e veio a ser Princesa de Astúrias e rainha de Espanha. Nascida na luxuosa corte portuguesa, rodeada das riquezas que o ouro do Brasil ainda podia pagar, Maria Bárbara recebe uma educação privilegiada. Além de aprender vários idiomas, é discípula de um jovem compositor italiano que chegara a Lisboa em 1720, Domenico Scarlatti de seu nome. “O Maestro e a Infanta”, romance histórico do escritor italiano Alberto Riva, é publicado em Portugal pela Porto Editora.

 

Na Livros do Brasil, Natasha Brown aponta um caminho à protagonista de “Encontro”, desenha-lhe um rumo, acarinha-lhe um certo desvio. “O que é necessário para lá chegar não é aquilo que precisamos quando lá chegamos”. Selecionada pelo Women’s Prize for Fiction 2022 como uma das dez melhores autoras abaixo dos 35 anos, a jovem autora inglesa aborda na sua estreia literária temas de grande atualidade, como emigração e ascensão social, êxito e avidez, raça e igualdade de género, escravidão e imperialismo.

 

“Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch” foi o primeiro romance, publicado na União Soviética, a revelar a vida nos campos de trabalho dos prisioneiros políticos e a repressão estalinista. Editado originalmente em 1962, e saudado em todo o mundo como símbolo da nova literatura russa, passa agora a integrar a coleção Dois Mundos da Livros do Brasil. A primeira edição não censurada desta obra data de 1973, cujo protagonista foi inspirado no soldado Chúkhov, um companheiro de combate do autor, Aleksandr Soljenítsin, na guerra soviético-alemã. As demais personagens são reais e as suas biografias autênticas.

 


Ninguém, até hoje, renunciou ao mais alto cargo da política alemã. Errado. Angela Merkel escolheu fazê-lo. Finda a “era Merkel”, é tempo de olhar para trás e de fazer um balanço. A autora de “Angela Merkel, Retrato de uma Época”, a jornalista alemã Ursula Weidenfeld, defende que os efeitos de seu governo serão sentidos nos anos mais próximos e que Merkel será fundamental muito além do fim de sua carreira política. Uma biografia política com prefácio de Carlos moedas e edição da Casa das Letras, que será lançada no dia 29 de março.

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