“Enough is enough” dizem os ingleses. “O que é demais é moléstia ou o que é demais é erro” dizemos nós em Portugal! Estamos em estado de emergência e a viver em contexto de pandemia há quase um ano. Quantos estados de emergência foram decretados e quantos precisaremos mais para aprender?

Esta pergunta é para todos nós, mas é sobretudo para todos os que têm responsabilidade política e/ou de liderança organizacional. O que aprendemos desde março de 2020? O desconhecido de então é menos desconhecido agora. A necessidade de gerir e decidir em contexto de incerteza e de forma ágil terá sido para muitos uma novidade em março passado, mas não é sequer argumento agora.

A falta de plano de contingência ou de um planeamento para um estado de emergência e o respetivo investimento em recursos adequados podia ser a sua realidade na altura, mas não é aceitável no dia de hoje! O tempo de aprendizagem já passou.

Estamos a viver mais um momento de confinamento, dez meses depois do statu quo ter sido posto em causa. Não acho aceitável que o argumento da “imprevisibilidade” justifique uma decisão ou que se responsabilizem os líderes anteriores, pelo que não se fez e não se aprendeu nos últimos dez meses. Mais ainda depois de a pandemia ter permitido alguns meses de alívio de restrições e de recuperação de alguns negócios nos meses de verão.

É o momento para se decidir bem! E decidir bem é tomar as melhores decisões com a informação e os recursos disponíveis – o que se conhece do contexto e a informação que se consegue recolher cá e fora. Os responsáveis políticos e organizacionais estão com vários meses de experiência de contexto incerto, imprevisível e complexo. E tiveram esse tempo para falar com os seus colegas também decisores em outras empresas, organizações e países.

Certamente com o que é diferente e extremo terão aprendido muito. A inação não é opção! A não decisão é uma decisão!

Após dez meses de contexto instável, a má decisão significa inabilidade! E nas organizações, como nos governos, a inabilidade é dispendiosa e tem de ser rapidamente alterada. A responsabilidade pela substituição dos inábeis tem de ser assumida a cada nível, seja ao nível de uma Comissão Executiva seja de um Conselho de Administração, ou seja, ao nível de um governo. Isso tem de ser feito ou de outra forma paga-se caro a médio prazo. Paga-se na perda de credibilidade e de imagem, paga-se na perda de mercado e paga-se no mau exemplo às gerações mais jovens.

Nas empresas, em contexto de concorrência, a exigência de sustentabilidade e a pressão pela recuperação pressiona para o ajustamento das equipas. Nas empresas públicas ou em contexto protegido e também nos governos, tende a verificar-se o contrário. A instabilidade propicia a defesa dos postos de trabalho e logo à clara manutenção dos inábeis nos seus cargos de liderança.

Basta de desculpas e de desresponsabilização!

Não é aceitável que se esteja tanto tempo a negociar o “preço ou valor justo” por paciente atendido no setor privado da saúde e se comprometam centenas de milhões de euros para garantir a continuidade de grandes empresas que não são rentáveis nem prestam serviço público.

A vida dos empregados dessas empresas vale mais do que a urgência de vida de tantos que estão a morrer este ano por falta de recursos técnicos e humanos de suporte de vida? Vale mais do que os muitos computadores e equipamento que já devia ter chegado aos alunos e professores das escolas públicas? E a resposta é culpar o sistema privado de saúde? E a resposta é proibir o ensino por via remoto?

As organizações em Portugal e os portugueses precisam de poder confiar nos líderes em vez de pagar os erros dos líderes. E estão muitos portugueses, adultos e também jovens, adolescentes e crianças a pagar pela inabilidade e incapacidade dos decisores do país. É um facto!

Não há mais espaço para erros desta natureza. E se não aprendemos nestes dez meses, então a perda de tantas vidas e o esgotamento de tantas mais, terá sido em vão. Urge decidir bem!