Olhar para 2017 mete medo. Nunca a incerteza atingiu níveis tão elevados. Se alguém disser que sabe o que irá acontecer por esse mundo fora, o melhor é não prestar muita atenção.

A tomada de posse de Donald Trump, as eleições legislativas na Alemanha e na Holanda, as presidenciais em França, a situação de grande instabilidade em Itália com eleições previstas para o início de 2018, irão marcar um ano em que a instabilidade será palavra dominante.

Se a tudo isto acrescentarmos a continuação da crise dos refugiados, a tensão na Turquia, o prolongamento da guerra na Síria, o posicionamento agressivo da Rússia e do Irão, o isolamento de Israel e a inexistência de um Estado na Líbia, que afeta toda a região, estaremos então em presença do maior “barril de pólvora” das últimas décadas. Em consequência desta desordem, a proliferação de “organizações” terroristas sem rosto, sem estrutura de comando e sem logística relevante, composta por “fiéis” espalhados não se sabe exatamente por onde, continuará a estar bem presente no quotidiano dos países que marcam a agenda mundial.

Ao nível económico assistiremos ao início de um novo ciclo de políticas de crescimento nos Estados Unidos, que inevitavelmente conduzirão a momentos de tensão com a China, a uma preocupação crescente com a inflação na zona euro e a medidas menos expansionistas por parte do BCE, que deixarão de suportar as economias mais débeis e farão aumentar as taxas de juro. Já para não referir a habitual incerteza sobre o preço do petróleo.

Tudo isto é motivo de enorme preocupação e poderá afetar de forma trágica, olhando agora para dentro, o futuro da Europa unida, o clima de paz nas zonas onde tradicionalmente nasceram os grandes conflitos europeus ou a necessidade de crescimento económico como condição de manutenção do Estado Social. Portugal não estará fora desta equação. Muito pelo contrário. Sem crescimento económico e com taxas de juro progressivamente mais elevadas, o País pode tornar-se inviável.

Se nada de mal nos acontecer, o que como vimos parece difícil, António Costa continuará a governar à vista, procurando não correr riscos adicionais e garantindo que, pelo menos até outubro, a esperança dos portugueses se manterá em alta. Nessa altura, ganhando as eleições autárquicas de forma expressiva antes da entrega do Orçamento do Estado e conquistado que estará o “centro”, ficará em condições de escolher o caminho que quiser. Ou prolonga a “aventura frentista” e distribui mais algumas benesses sem grande expressão orçamental ou, como me atrevo a prever, dificultará a vida aos partidos das “posições conjuntas”, forçando-os a fazer cair o Governo e avançando para eleições no início de 2018.

Neste momento tenho apenas como certo, e já não é pouco, que 2017 será o momento de comemorar o Centenário das Aparições de Fátima e que, no pior cenário, poderemos contar com a proteção de Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal. Esperemos que não seja necessário. Mas será preciso um milagre!