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“Ver pessoas que fizeram percurso político comigo a legitimar ditadores porque à esquerda também os há, perturba-me”, diz ex-vice do CDS

“Começa a existir uma polarização já não vocacionada para aquilo que me faz aderir a uma coisa, mas àquilo que me repele do lado de lá. Nesse combate começa a surgir a ideia de que o outro lado quer destruir-me e isto tem permitido o fim da decência face ao adversário”, disse o ex-vice do CDS.
11 Janeiro 2021, 22h05

Adolfo Mesquita Nunes defendeu que estamos a viver “tempos de polarização negativa”, que tem sido ilustrada com nitidez nos Estados Unidos durante o mandato de Donald Trump, durante o qual as clivagens entre democratas e republicanos se têm acentuado.

O antigo vice-presidente e ex-deputado do CDS alertou que “esta polarização estão a chegar aqui” e procurou explicar as suas origens esta segunda-feira num debate online promovido pela SEDES com o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, que será transmitido nas redes sociais do Jornal Económico e na JE TV amanhã, defendendo que “a divisão entre esquerda e direita provavelmente não responde à grande bifurcação do nosso tempo, que é como é que lidamos com o novo, o diferente e a disrupção”, que explica, em parte, a adesão de franjas da sociedade aos movimentos populistas.

Para Adolfo Mesquita Nunes, a civilização ocidental e democrata chegou a um ponto — político e social — em que não decência nem respeito pelo que é diferente. “Uns preferem criar barreiras e fronteiras para nos proteger, outros preferem recitar esta liberdade” a que nos habituámos, disse.

Em questões estruturais, como o facto de defender-se a globalização, tem aproximado a esquerda e a direita em matérias de princípio, embora cada cor política possa preconizar formas de atuação distintas. Como disse o democrata-cristão: “eu consigo estar mais próximo de pessoas à esquerda que defendem o mesmo que eu do que pessoas que estão no meu espaço político [direita] e são a favor do fecho de fronteiras e do protecionismo ou da limitação à circulação de pessoas e bens”.

Para o autor do livro que recentemente publicou, “A Grande Escolha”, que faz uma apologia da globalização, a incapacidade dos partidos políticos ditos do sistema em responder de forma à intolerância perante o diferente que se vem acentuando tem uma consequência grave. “Está a criar uma polarização negativa em que as pessoas são de um lado, não porque adiram a ele, mas porque odeiam o outro lado, encontram nele uma ameaça ao seu modo de vida”, frisou o ex-deputado do CDS.

“Começa a existir uma polarização já não vocacionada para aquilo que me faz aderir a uma coisa, mas àquilo que me repele do lado de lá. Nesse combate começa a surgir a ideia de que o outro lado quer destruir-me e isto tem permitido o fim da decência face ao adversário. Esta polarização negativa está a chegar aqui. A ideia de que pertenço à direita fofinha é de que não pertenço à direita. Qualquer entendimento com uma pessoa de esquerda é uma traição”, reforçou.

Adolfo Mesquita Nunes concluiu dizendo que “ver pessoas que eu conheço e que fizeram percurso político comigo a legitimar ditadores porque à esquerda também os há, perturba-me bastante”.

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