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Vice-ministro talibã quer as meninas afegãs de regresso à escola

Sher Mohammad Abbas Stanikzai parece estar em dissonância face à esmagadora maioria do governo, que admite abrir as escolas ao sexo feminino mas nunca chegou a fazê-lo.
27 Setembro 2022, 17h30

Um membro destacado do governo talibã do Afeganistão pediu aos governantes do país que reabrissem as escolas para meninas após o sexto ano, dizendo que não há razão válida no Islão para a proibição.

O apelo veio do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, e surgiu durante uma reunião dos talibãs em Cabul. Uma rara voz moderada em meio das duras medidas impostas pelo regime desde que regressaram ao poder, em agosto de 2021.

Os talibãs fecharam as escolas secundárias à presença de meninas em todo o país, ordenaram que as mulheres usassem hijabs no local de trabalho e cobrissem o rosto em público e proibiu-as de viajarem longas distâncias sem um parente próximo do sexo masculino.

Segundo notícias vindas de Cabul e veiculadas pela Al Jazeera, o regime terá dito que está a trabalhar num plano para as abrir escolas secundárias às meninas, mas não forneceu qualquer prazo para isso acontecer.

Recorde-se que as Nações Unidas consideraram a proibição “vergonhosa” e a comunidade internacional tem sido cautelosa em reconhecer oficialmente os talibãs, temendo um regresso ao mesmo governo repressivo imposto quando estava no poder no final dos anos 1990.

“É muito importante que a educação seja para todos, sem qualquer discriminação”, disse Stanikzai. “As mulheres devem ter educação, não há proibição islâmica para a educação das meninas”, afirmou. “Não vamos dar oportunidades para que se criem lacunas entre o governo e as pessoas, se houver problemas técnicos, precisam de ser resolvidos: as escolas para meninas devem ser abertas”.

Stanikzai chegou a ser o líder da equipa talibã nas negociações que levaram ao acordo de 2020 no Catar entre grupo rebelde e os Estados Unidos, que incluiu a retirada completa das tropas estrangeiras do Afeganistão – e foi, do lado norte-americano, liderado politicamente pelo anterior presidente, Donald Trump.

Os comentários do vice-ministro surgiram depois da nomeação de um novo ministro da Educação talibã, dias depois de a ONU ter pedido que reabrissem as escolas para meninas. A ONU estimou que mais de um milhão de meninas foram impedidas de frequentar a maioria das escolas de ensino básico e médio durante o ano passado. A proibição tem como alvo estudantes do sexo feminino nos anos escolares 7 a 12, afetando principalmente meninas dos 12 aos 18 anos – e foi explicada como de “interesse nacional” e pela “honra” das mulheres.

Um ano depois de os talibãs assumirem o controlo do país, a ONU disse estar cada vez mais preocupada que as restrições à educação, bem como com outras medidas que restringem as liberdades básicas; paralelamente, o aprofundamento da crise económica e a insegurança, pobreza e isolamento do país também têm crescido. As sanções ocidentais têm cavado este fosse ainda mais – nomeadamente a que determinou o congelamento da ajuda humanitária e proibição de o regime mexer em cerca de dez mil milhões de dólares em ativos do banco central afegão colocados no exterior. A ONU tem tentado rodear as sanções, nomeadamente através das duas várias agências, mas o sistema tem-se revelado demorado e pouco eficaz.

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