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Vindimas 2020: Ilhas da Madeira e dos Açores esperam produção de superior qualidade

Na segunda-feira será a vez de espreitarmos o que se passou numa das regiões vitivinícolas mais célebres fora de Portugal, Champagne, em França, para ver como correu a campanha a uma das suas marcas célebres, a Moët et Chandon.
6 Novembro 2020, 17h30

As vindimas deste ano foram atípicas, devido à intensificação das alterações climáticas, com chuvas e calores a despropósito, e consequente ataque de pragas, a que se somou a pandemia de Covid-19. Mas as expectativas apontam para uma produção de superior qualidade, mesmo que haja quebras de produção em algumas regiões. Leia o balanço de dezenas de produtores de norte a sul do país, incluindo os Açores e a Madeira, e de sete presidentes de Comissões Vitivinícolas Regionais. E espreite o que se está a passar em Champagne, com a Moët et Chandon.

Para os mais apaixonados pelo tema, interessados nas questões de cariz técnico, o Jornal Económico disponibiliza ainda os relatórios de vindima deste ano de duas casas com séculos de tradição na produção de vinhos no Douro, em particular de vinhos do Porto, com os testemunhos pessoais de Charles Symington, diretor de produção e vice-CEO da Symington Family Estates, que comercializa as referências Graham’s, Dow’s, Warre’s, Cockburn’s, Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, P+S e Quinta da Fonte Souto; e de David Guimaraens, diretor de enologia da The Fladgate Partnership, que comercializa as marcas Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras.

Em conjunto, estas duas casas já representam mais de 500 anos de produção de vinhos de mesa e do Porto no Douro (a Fladgate já celebrou o 430º aniversário, enquanto a Symington tem mais de 130 anos de história) e os relatórios da vindima de 2020 demonstram que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade incontornável no setor vitivinícola nacional.

Hoje, prosseguiremos esta viagem pelas vindimas de 2020 nas ilhas da Madeira e dos Açores, para percebermos o balanço da coleita feita este ano por produtores como a Justino’s Madeira Wines, a Azores Wine Company (de António Maçanita) ou a CVIP – Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico.

Amanhã, será a vez de espreitarmos o que se passou numa das regiões vitivinícolas mais célebres fora de Portugal, Champagne, em França, para ver como correu a campanha a uma das suas marcas célebres, a Moët et Chandon.

Seguindo para a ilha da Madeira, em Santa Cruz, Juan Teixeira, enólogo da Justino’s Madeira Wines, revela ao Jornal Económico que, “com um verão seco e solarengo, a vindima iniciou-se uma semana mais cedo que o ano anterior”.

“A vindima decorreu muito bem, uma vez que as chuvas não apareceram ou, se foi o caso, com pouca intensidade e durabilidade. À data [última quinzena de setembro], foram vindimadas cerca de 3.700 toneladas e a nossa aquisição representará 35% do total da vindima madeirense”, adianta Juan Teixeira.

 

Juan Teixeira, Justino’s Madeira Wine’s

O enólogo da Justino’s Madeira Wines garante ainda que “a qualidade das castas brancas foi excecional, sobretudo para o Sercial e Verdelho”, acrescentando que “a seleção das melhores uvas das diversas castas permitir-nos-á produzir Madeiras de muito boa qualidade e com excelente potencial de envelhecimento”.

“Conseguimos ainda adquirir uma quantidade razoável de Terrantez, casta ainda sem expressão na produção da ilha, mas que diz o ditado: ‘Nem as comas, nem as dês, porque para vinho, Deus as fez’ e permitir-nos-á fazer vinhos distintos de produção limitada. Estamos muito entusiasmados e confiantes com o que se avizinha!”, confessa Juan Teixeira.

Este responsável assegura também que “a entrega de uvas por parte dos viticultores não teve nenhuma condicionante”, assumindo que “a prévia informação prestada, a instalação de uma tenda de triagem, a proteção individual e o trabalho por turnos das nossas equipas foram as principais medidas tomadas para evitar qualquer problema”.

Entretanto, António Maçanita destaca que na campanha da Azores Wine Company “o impacto da Covid-19 foi sobretudo nas vendas, com uma quebra de 50% nos Açores, quando comparado com o ano passado”.

 

António Maçanita, Azores Wine Company

“Não é uma perda muito grave comparada com estruturas maiores, porque a Azores Wine Company tem uma pequena produção, muito focada na qualidade. Obrigou-nos a tomar algumas medidas de precaução, sobretudo com os produtores que nos forneciam uvas. Focámo-nos muito nas nossas vinhas históricas e na produção própria. Também nos Açores, estamos a dedicar-nos à conversão para biológico. Este foi um ano de baixa produção, mas com boa concentração. Estamos muito satisfeitos com a qualidade. Este ano foi também o ano de inauguração da nova adega na Ilha do Pico, por isso, temos todas as condições, infraestrutura, temperatura, controlo de fermentação, para fazer aquilo a que nos propomos: vinhos topo de gama. Agora é momento de perceber como se desenvolvem as vinhas”, alerta António Maçanita.

Por seu turno, Pedro Cavaleiro, coordenador Geral da CVIP – Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, diz-nos que,  “em termos de quantidade, notou-se uma quebra em relação aquilo que era a nossa expetativa inicial”.

“Com um inverno muito extenso, houve vários problemas em relação a algumas castas no que toca ao afloramento das mesmas, principalmente no Arinto dos Açores, Terrantez do Pico e nas uvas tintas (Merlot e Syrah). Porém, a qualidade é ótima. Uma acidez notável como é normal do nosso ‘terroir’ e com o acrescento de álcoois mais elevados devido a um intenso período de seca no mês de julho”, salienta o coordenador geral da CVIP.

 

 

Pedro Cavaleiro, coordenador Geral da CVIP – Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico

No entender deste responsável, “a Covid-19 não se fez sentir muito na vindima, o funcionamento da adega foi exatamente o mesmo que em anos anteriores, cumprindo ao máximo as regras que estão em vigor”.

“Em termos de níveis de produção, foram bastante satisfatórios. Estamos com níveis de produção que nos vão permitir cumprir com os compromissos assumidos, oor a mesma qualidade a que habituámos os nossos clientes”, garante Pedro Cavaleiro.

O coordenador geral da CVIP acredita ainda que “a Covid-19 tenha ajudado em certo sentido no que toca à disponibilidade de tempo”, uma vez que “as pessoas começaram a passar mais tempo em casa e nas suas produções, assim pequenos viticultores acabaram por oferecer mais tempo às vinhas e isso nota-se no resultado final apresentado na adega”.

 

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