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Vindimas 2020: No Dão, menos rendimento, mas vinhos “fantásticos”

No Dão, a realidade foi semelhante, como região de clima moderado a frio a antecipação foi ainda superior, sendo de cerca 3 semanas.
  • Benoit Tessier/Reuters
30 Outubro 2020, 17h40

As vindimas deste ano foram atípicas, devido à intensificação das alterações climáticas, com chuvas e calores a despropósito, e consequente ataque de pragas, a que se somou a pandemia de Covid-19. Mas as expectativas apontam para uma produção de superior qualidade, mesmo que haja quebras de produção em algumas regiões.

Leia o balanço de dezenas de produtores de norte a sul do país, incluindo os Açores e a Madeira, e de sete presidentes de Comissões Vitivinícolas Regionais. E espreite o que se está a passar em Champagne, com a Moët et Chandon.

Para os mais apaixonados pelo tema, interessados nas questões de cariz técnico, o Jornal Económico disponibiliza ainda os relatórios de vindima deste ano de duas casas com séculos de tradição na produção de vinhos no Douro, em particular de vinhos do Porto, com os testemunhos pessoais de Charles Symington, diretor de produção e vice-CEO da Symington Family Estates, que comercializa as referências Graham’s, Dow’s, Warre’s, Cockburn’s, Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, P+S e Quinta da Fonte Souto; e de David Guimaraens, diretor de enologia da The Fladgate Partnership, que comercializa as marcas Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras.

Em conjunto, estas duas casas já representam mais de 500 anos de produção de vinhos de mesa e do Porto no Douro (a Fladgate já celebrou o 430º aniversário, enquanto a Symington tem mais de 130 anos de história) e os relatórios da vindima de 2020 demonstram que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade incontornável no setor vitivinícola nacional.

Hoje, prosseguiremos esta viagem pelas vindimas de 2020 com os testemunhos dos produtores de vinhos da região da região do Dão, com destaque para a Quinta da Taboadella, pertencente à Amorim Family Estates, e para a Quinta de Lemos.

Amanhã, será a vez de viajarmos até ilhas da Madeira e dos Açores, e percebermos o balanço da coleita feita este ano por produtores como a Justino’s Madeira Wines, a Azores Wine Company (de António Maçanita) ou a CVIP – Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico.

No Dão, na Quinta de Taboadella, pertencente à Amorim Family Estates, Ana Mota, diretora de produção e viticultura da casa, explica que este ano, “como região de clima moderado a frio a antecipação foi ainda superior, sendo de cerca três semanas”.

Sublinha esta responsável que, “no Dão a qualidade parece-nos também garantida, os mostos apresentam teores de açúcar entre 12,5 e 13,5, com aromas varietais muito puros, de acidez fresca e vibrante, com pH a rondar os 3,2 nos mostos brancos e nos 3,4 nos mostos tintos”.

Já na Quinta de Lemos, na região de Silgueiros, o enólogo Hugo Chaves, destaca que “a campanha vinícola de 2020 decorreu de forma muito instável, desde logo, em março, quando o Dão teve uma geada muito forte, o que levou a uma quebra de produção das zonas mais baixas de vinha”.

“Mais tarde, já por altura da floração, em junho, tivemos uma grande pressão provocada pelo míldio, o que, na Quinta de Lemos, resultou numa grande pressão na parcela de vinha biodinâmica, de dez hectares. Aqui, a quebra de produção foi de 60%”, lamenta Hugo Chaves.

De acordo com este responsável, “na cultura convencional, tudo correu de forma normal: houve menos rendimento, com um bago inferior ao habitual, e as colheitas correram bem”.

“Teremos de certeza vinhos fantásticos, como a Tinta Roriz ou a Touriga Nacional, muito aromáticos, limpos, densos e complexos”, prevê Hugo Chaves, defendendo que “2020 é um grande ano de vinhos, com produções menores mas de grande qualidade”.

Para o enólogo deste produtor do Dão, “daqui a cinco anos, como é hábito de todos os vinhos em Quinta de Lemos, poderemos provar grandes vinhos”.

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