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ViniPortugal: “Esperamos exportar 800 milhões em vinhos”

Os Estados Unidos são cada vez mais o nosso principal mercado de exportação de vinhos de mesa. E há outra vez boas notícias de Angola e do Brasil, que estão a recuperar da crise dos últimos anos.
  • Cristina Bernardo
14 Novembro 2017, 07h35

As exportações de vinho de mesa nacional estão outra vez a crescer, após uma ligeira quebra em 2016. Em entrevista ao Jornal Económico, Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, plataforma responsável pela promoção dos vinhos portugueses nos mercados externos, adianta que nos primeiros oito meses deste ano, as exportações de vinhos superaram as do período homólogo de 2016 e ascenderam a 464 milhões de euros, mais 40 milhões de euros. Até ao fim deste ano, Jorge Monteiro espera superar a barreira dos 800 milhões de euros em exportações. Os Estados Unidos (EUA) e o Canadá são dois mercados novos em crescimento, e Angola e o Brasil estão a recuperar de forma acelerada o terreno perdido nos últimos anos de crise.

Quais são os últimos dados de que dispõe sobre as exportações dos vinhos de mesa nacionais?
Desde janeiro até agosto, estamos a registar um crescimento de valor exportado face ao registado no período homólogo do ano passado. No total dos vinhos portugueses, exportámos nos primeiros oito meses deste ano cerca de 464 milhões de euros em vinhos, um crescimento de 9,3% face ao período homólogo, ou seja, mais cerca de 40 milhões de euros em exportações. Se incluirmos nestes dados, os vinhos do porto e da Madeira e os outros vinhos engarrafados, como os espumantes, o crescimento de vendas em valor foi de 3,5%, e isto explica-se pelo facto de os vinhos do Porto e da Madeira terem as vendas estagnadas. Se retirarmos, estes vinhos, o crescimento em valor das exportações dos vinhos de mesa, dos vinhos tranquilos, DOP – Denominação de Origem Protegida e IG – Indicação Geográfica (os vinhos regionais, em Portugal), o crescimento no período em análise foi de 14,6%. Isto quer dizer que os vinhos tranquilos ou de mesa estão com as vendas e exportações mais dinâmicas.

Quais as perspetivas até ao final do ano?
Sonhamos que vamos conseguir chegar ao final de 2017 com um total de exportações de vinhos na ordem dos 800 milhões de euros. No ano passado, fechámos um valor de exportações de cerca de 730 milhões de euros. Estamos em crer que com os valores atuais já conseguidos este ano, vamos conseguir chegar lá.

Quais os mercados em que as exportações têm subido mais?
Os resultados mais animadores têm ocorrido nos mercados dos EUA e do Canadá, com aumentos das exportações acima dos 10%, em valor. São taxas bastante interessantes, onde temos feito grandes apostas nos últimos anos. Depois há um outro fenómeno de realce, que tem a ver com os mercados de Angola e do Brasil, depois de termos estado a sofrer em 2015 e 2016. É um regresso em força a estes mercados. As exportações de vinhos portugueses para o Brasil, nestes primeiros oito meses cresceram 60% face ao período homólogo. Em Angola estamos a duplicar as vendas.

Qual o principal mercado de exportação para os vinhos portugueses?
Se considerar o vinho do Porto e da Madeira, é a França ainda o nosso principal mercado de exportação, que não está crescer muito. Mas se se considerarem apenas os vinhos de mesa, os EUA já são o nosso principal mercado de exportação. Passaram para o primeiro lugar já em 2015 e estão já a grande distância do segundo neste segmento, que é a Alemanha. Também é normal que Angola e o Brasil, se continuarem com estas taxas de recuperação, venham a atingir em breve outra vez uma posição de destaque no ranking dos maiores destinos de exportações dos vinhos de mesa nacionais. A China continuou a crescer, 13% no período em análise, mas ainda representa menos de 10% das exportações de vinhos tranquilos portugueses em valor. Ainda de acordo com o valor exportado, a Suíça e a Suécia estão estagnadas, a Polónia cresceu 2%, a Noruega subiu 5%. São mercados em que os crescimentos de exportações dos vinhos de mesa portugueses estão neste momento mais moderados. A Rússia é um mercado que se está a começar a trabalhar e, portanto, o crescimento de exportações de 40% que se verificou neste período, ainda não diz muita coisa porque a base de arranque era muito pequena.

Qual será a grande aposta da ViniPortugal para 2018?
Para 2018, a nossa aposta é consolidar as exportações para os mercados dos EUA e do Canadá. Se consolidarmos as exportações para o mercado norte-americano, isso terá certamente efeito noutros noutros mercados que são nossos alvos potenciais. Queremos recuperar a nossa penetração nos mercados do Brasil e de Angola, depois de um ajustamento em função da crise de 2015 e de 2016. Nos outros mercados relevantes para as nossas exportações, como o Reino Unido e a Alemanha, estamos mais apostados em sustentar e consolidar do que em conseguir grandes crescimentos.

Em termos de segmentos de vinhos, existe algum comportamento em destaque?
O que estamos a registar é que os vinhos DOP e IG, ou seja, os vinhos certificados, têm comportamentos mais positivos nas exportações do que os outros, com um crescimento de vendas no exterior de quase 20%. E esses são os vinhos que trazem mais mais-valias. Nestes segmentos de vinhos, nos primeiros oito meses deste ano, registámos crescimentos de vendas de três milhões de euros, quer nos EUA, quer no Canadá.

Mas onde estamos a crescer em exportação estamos a ganhar quota de mercado?
Em termos dos dados das alfândegas relativos ao primeiro semestre, o mercado norte-americano aumentou as importações de vinhos de mesa em 3,6%. Portugal registou o segundo maior crescimento neste mercado, com uma subida de vendas, em valor de 14,8%. Apenas França cresceu mais, 19%. Isto são dados sem espumantes e vinhos do Porto e da Madeira. No Canadá, um mercado que cresceu as importações de vinho neste período em 1,8%, Portugal foi o que mais cresceu, 9,8%. Uma das notas de destaque é o Brasil. O mercado brasileiro cresceu 24,4% em importações de vinhos de mesa nos primeiros seis meses, enquanto as exportações nacionais para o Brasil subiram 49,3%, o que quer dizer que estamos a recuperar quota de mercado. Na China, cujo mercado cresceu 3,3%, as exportações de Portugal aumentaram 5,3%.

Qual o investimento para 2018?
O orçamento da ViniPortugal para este ano está a ser cumprido e foi de cerca de 6,3 milhões de euros. Para o próximo ano, não irá haver grandes mudanças, o valor de investimento da ViniPortugal deverá manter-se, devendo haver apenas pequenos ajustamentos, como, por exemplo, um pequeno crescimento de investimento nos mercados do Japão e da Coreia do Sul. Mas a Coreia do Sul, por exemplo, é um mercado pequeno. Até este momento, este ano vendemos neste mercado cerca de um milhão de euros de vinhos. Fomos o país que tivemos a maior taxa de crescimento de exportações de vinhos na Coreia do Sul no primeiro semestre deste ano, mas estamos a falar de um mercado pequeno, em que se partiu de uma base muito pequena. E há ainda uma aposta em mercados em que não temos planos de promoção de exportações dos vinhos portugueses, mas em que fomos solicitados para de senvolver ações de formação de sommeliers e profissionais de restauração.

Que mercados são esses?
São mercados com dinâmicas locais que solicitaram esse tipo de intervenção à ViniPortugal. Estamos neste momento a desenvolver ações de formação na República Checa, Canadá, Taiwan, Letónia, Estónia e Lituânia. Há mercados em que a ViniPortugal já tem academias locais, como são os casos da China ou da Bélgica, por exemplo. Este é um sinal muito engraçado e interessante de que os vinhos portugueses começam a despertar interesse em cada vez mais mercados.

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