Numa altura em que atrai investidores de todo o tipo, mais ou menos experientes, a bitcoin é um termo que vai começando a entranhar-se no vocabulário da generalidade da população. Mas se a bitcoin é apenas um tipo de criptomoeda — a mais popular do mundo — também é uma fração num mundo bastante vasto. E esse é o mundo dos Virtual Assets (VA). Ou Ativos Virtuais, em português. Mas será este um mundo sustentável?
Os VA são representações digitais de valor que podem ser (digitalmente) negociados ou transferidos, podendo ser utilizados para fins de pagamento, de investimento, ou mesmo para acesso a bens e serviços, de acordo com a Financial Action Task Force.

A blockchain é uma das principais tecnologias capacitadoras dos VA. Esta tecnologia, permite que os VA sejam distribuídos por uma rede, de forma descentralizada, mas impedindo o seu gasto duplo. Isto significa que cada VA não poderá ser duplicado para utilizações distintas. Além disso, as informações são constantemente reconciliadas no banco de dados, que é armazenado em vários locais e atualizado instantaneamente, tornando os registos públicos e verificáveis. Por outro lado, como não há uma localização centralizada, é uma tecnologia mais difícil de “hackear”, já que as informações existem simultaneamente em várias localizações.

Ao nível da sustentabilidade, os VA baseados na tecnologia de blockchain têm o potencial de trazer benefícios, principalmente em quatro grandes vertentes: cibersegurança, responsabilidade, transparência e rastreabilidade.

No que diz respeito à cibersegurança, esta tecnologia permite que os VA sejam habilitados de uma estrutura robusta e resiliente a ataques cibernéticos. Contudo, é importante notar que mesmo esta tecnologia não é estanque a este tipo de ataques, e que a evolução dos computadores quânticos afetará a segurança da criptografia de chave pública.

A vertente da responsabilidade está relacionada com o reconhecimento por parte dos Virtual Asset Service Providers (VASP) do impacto direto e indireto das suas ações, assumindo a responsabilidade por esses mesmos impactos. Implica quantificar os efeitos internos e externos das ações e reportá-los a todas as partes interessadas.

Relativamente à transparência, esta implica que todas as partes interessadas, quer sejam internas, quer sejam externas, possam ter acesso à informação relativa ao impacto dos VASP referido anteriormente. Simplificando, os VA baseados na tecnologia de blockchain permitem que exista uma versão única da informação, com um carimbo de data e hora (imutável), garantindo a transparência e auditabilidade da mesma.
Por outro lado, VA baseados em tecnologia de blockchain possibilitam a identificação e rastreabilidade dos ativos desde as suas origens aos processos de distribuição e, em última análise, até o final do seu ciclo de vida.

Contudo, este tipo de ativos está associado a um consumo de energia bastante elevado, causado sobretudo pelas práticas de mineração de redes públicas — entendendo-se por mineração o trabalho que é exigido aos participantes nas redes blockchain, para autenticação e validação das transações registadas. A moeda virtual bitcoin, por exemplo, está associada a um consumo de energia que representa cerca de 0,44% do consumo mundial de eletricidade, o que equivale a um consumo de 20 863 TWh, de acordo com o Cambridge Centre for Alternative Finance.

É certo que os VA baseados em blockchain têm o poder de gerar crescimento económico, através do aumento da cibersegurança, da responsabilidade, da transparência e da rastreabilidade dos ativos. Mas também é certo que o consumo de energia é um efeito colateral crítico destes produtos: as práticas de mineração usadas são barreiras enormes para uma adoção maior dos mesmos.

Então, como podemos contornar esse consumo de energia para assim recolher todos os benefícios que estes tipos de produtos podem oferecer? Se queremos obter essas vantagens, é necessário encontrar soluções para reduzir o seu impacto energético. Esse é o desafio.