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Vírus da mononucleose apontado como causa principal da esclerose múltipla

Estudo da Universidade de Harvard demonstra que contrair o vírus Epstein-Barr aumenta drasticamente as hipóteses de uma pessoa desenvolver a doença rara.
  • esclerose múltipla
15 Janeiro 2022, 15h00

15A investigação norte-americana, que acompanhou 10 milhões de militares durante duas décadas, sugere que o vírus Epstein-Barr (VEB), que causa a “doença do beijinho”, multiplica em 32 vezes o risco de desenvolver esclerose múltipla (EM).

Os investigadores de Harvard responsáveis pelo estudo determinam, assim, que o vírus é a causa principal da EM. Publicada  ontem na “Science”, a investigação detetou menos de mil pessoas com a doença durante o serviço militar e apenas 801 casos possuíam amostras adequadas para os testes. Destas, apenas uma não tinha estado em contacto com o vírus Epstein-Barr.

Mas, embora 99% dos pacientes com esclerose múltipla tenham tido uma infecção por EBV, 95% daqueles sem EM também têm, dificultando a identificação dos efeitos do vírus, assinala a mesma publicação.

Ainda assim, o estudo “provavelmente fornece a melhor evidência que pode ser obtida atualmente para um importante agente patogénico do EBV na EM”, diz o neurologista Hans Lassmann, da Universidade Médica de Viena, que não esteve envolvido na investigação.

O epidemiologista italiano Alberto Ascherio, responsável da equipa de Harvard, é assertivo ao declarar que “o vírus Epstein-Barr causa esclerose múltipla”, acrescentando que, “historicamente, o foco na causa tem sido mais produtivo do que tentar entender por que é que nem todos contraem uma doença”.

Outros investigadores não relacionados com o estudo são mais cautelosos. O virologista Jeffrey Cohen, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas dos EUA, afirma à “Science” que a nova evidência é “muito empolgante”, mas “ainda é uma associação”.

Também a neurologista Emmanuelle Waubant, da Universidade da Califórnia, aponta à revista que o estudo não explica por que a maioria das pessoas que contraem VEB não desenvolve EM. “Claramente, outros fusíveis precisam de ser acesos para que o gatilho resulte na doença”, reforça o neuroimunologista Lawrence Steinman, da Universidade de Stanford, coautor de uma perspetiva no artigo.

Os autores da investigação esperam que os novos dados estimulem o desenvolvimento de uma vacina contra o EBV. O vírus tem sido associado a vários tipos de cancro e testes iniciais de vacinas estão em andamento.

O vírus está omnipresente na sociedade e é transmitido pela saliva – através de beijos ou partilha de utensílios (como copos e talheres). Apesar de a sua impressão ser detetada em 94% dos cidadãos comuns, essa percentagem sobe para perto dos 100% em pacientes com esclerose múltipla, segundo estudos anteriores do mesmo grupo, assinalou o ““El País”.

A mesma publicação esclarece que “quase três milhões de pessoas no mundo sofrem de esclerose múltipla, doença que costuma aparecer entre os 20 e 40 anos, sem causa conhecida, e cujo efeito é como se os fios do cérebro e da medula espinhal fossem arrancados, bloqueando as mensagens para o resto do corpo. Os sintomas podem piorar até que o paciente seja incapaz de andar ou falar”.

A “Science” destaca que uma vacina contra o VEB pode ajudar os investigadores a provar que o vírus é um fator causal, ao vacinar uma grande grupo de jovens com alto risco de esclerose múltipla devido ao histórico familiar.

As evidências provenientes de uma vacina “concluiria esse caso”, diz à publicação o neurologista Gavin Giovannoni, da Queen Mary Universidade de Londres, que está a trabalhar com a comunidade de pacientes de EM para projetar esse estudo.

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