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“Vocês sabem o que traz a morte e a ditadura”. Zelensky recorda aniversário do 25 de abril no Parlamento

Zelensky aproveitou que as comemorações do 25 de abril estão à porta para destacar a importância de viver em liberdade para escolher o futuro e o modo de viver, mas não deixou de acusar a Rússia de criar campos de concentração para ucranianos deportados à força e de serem assassinados, torturados e violados “por diversão”.
  • epa09901026 Ukrainian President Volodymyr Zelensky (on screen) addresses the Portuguese parliament via video link, in Lisbon, Portugal, 21 April 2022. Zelensky has been making a virtual world tour in recent weeks, lobbying foreign governments by video to help Ukraine defend itself against Russia’s invasion. EPA/MIGUEL A. LOPES
21 Abril 2022, 17h41

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que os portugueses “sabem o que traz a morte e a ditadura” e que, por isso, sabem o que está a passar o país ocupado pelas forças russas desde 24 de fevereiro. No discurso em que endereçou à Assembleia da República na tarde desta quinta-feira, que recebeu uma ovação em pé, o chefe de Estado sublinhou que os valores que guiam os dois povos europeus são os mesmos, os da civilização e liberdade.

Zelensky aproveitou que as comemorações do 25 de abril estão à porta para destacar a importância de viver em liberdade para escolher o futuro e o modo de viver. “Sem ditadura, para que haja espaço para a liberdade e a saudade”, indicou.

Em concreto, o chefe de Estado pediu a Portugal para lutar contra a propaganda russa e contra a sua influência nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também para apoiar o estatuto de país candidato à UE. “Apoiem-nos nesse caminho. Vocês estão mais oeste e nós mais a leste, mas as nossas visões são iguais e sabemos que regras devem existir na Europa de uma ponta a outra”, referiu.

O presidente ucraniano começou a sua intervenção por agradecer a oportunidade de “apelar numa altura tão difícil”, referindo-se a mais sepulturas e valas comuns descobertas no país. “Os russos não tentaram arrumar os corpos” e “mataram para se divertir”, apontando ainda para a prática recorrente de violar, torturar, humilhar e saquear civis.

“Estamos a viver não só pela nossa independência mas pela nossa sobrevivência”, destacou.

Zelensky acusou a Rússia de criaram campos de concentração para os milhares de ucranianos que deportou para as zonas mais longínquas da Rússia sem autorização, para além de continuar a bombardear as cidades: habitações e “estruturas civis que são necessárias para as cidades sobreviverem como a indústria, escolas, universidades e igrejas”.

Referindo-se em específico a Mariupol, que comparou em tamanho e localização a Lisboa, por ficar perto do mar, não deixou de lamentar o seu estado completo de destruição. “Fizeram dela um inferno”, sem água e alimentação, e sob mais de um mês de bombardeamentos, “mesmo sabendo que só havia civis e nenhum alvo militar”.

“Morreram mais de 10 mil pessoas. Não sabemos ao certo o número por causa dos crematórios móveis. Eles não querem provas. Estão a tentar esconder os crimes de guerra”, acusa.

O presidente ucraniano denuncia que as forças russas não se vão deixar ficar pela Ucrânia, mas têm a intenção de avançar para todo o leste e bálticos. “A Rússia é capaz de ser parada agora”, frisou, pedindo mais armamento pesado a Portugal, mas também mais sanções, incluindo o embargo ao petróleo russo, o bloqueio a todo o sistema bancário russo, impedindo as empresas europeias de operar no território de Putin.

Naquela que foi primeira vez que um chefe de Estado falou na AR por videoconferência, e que ocorreu três dias antes da data que marca dois meses de conflito na Ucrânia, marcaram presença mais de 150 convidados — número limitado pelas restrições da Covid-19 — para além de Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

A embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets, também presente na sessão solene, ajudou o gabinete de Zelensky na elaboração do discurso.

A ideia de convidar o chefe de Estado ucraniano partiu do PAN foi aprovada por maioria no dia 6 de abril, com a oposição do PCP. Mas não é novidade: o símbolo de resistência à invasão russa já se dirigiu a mais de 20 parlamentos em vários continentes, tendo começado no dia 8 de março na Câmara dos Comuns do Reino Unido. Ainda antes, no 1.º de março, endereçou o Parlamento Europeu.

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