O dia que dá início à segunda metade da campanha eleitoral foi de votação antecipada para eleitores anónimos e para alguns dos candidatos, mas também um dia de conversa à distância.
Como tem acontecido, o Jornal Económico destaca três momentos.
Primeiro momento
Primeiro, foi o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, que nestes dias substitui o secretário-geral do partido em campanha, a enfrentar o frio para votar em Évora, onde é cabeça de Lista, ainda antes da 9h00; depois, o secretário-geral do PS, António Costa, votou no Porto, no Pavilhão Rosa Mota, onde foi recebido pelo presidente da câmara da cidade, Rui Moreira; finalmente, Rui Tavares, fundador do Livre e cabeça de lista do partido pelo círculo de Lisboa, que votou na Reitoria da Universidade de Lisboa. Todos aproveitaram a oportunidade de votar antecipadamente.
Quando começam as votações, estamos mesmo na reta final do processo de escolha de quem vai integrar a Assembleia da República. “Parto para esta última semana muito animado e confiante. Sei que há muitas pessoas que estão indecisas, mas também sinto que, cada vez mais, as pessoas percebem o que está em causa nestas eleições e quais são as diferenças fundamentais para a sua vida”, afirmou António Costa, depois de votar. João Oliveira votou em Évora com “gosto redobrado”, mesmo que o seu voto seja contabilizado em Setúbal, no círculo eleitoral em que está recenseado. Já Rui Tavares alertou para o perigo da direita, quando votou, depois de já ter dito, ainda este domingo, que quem quer votar no Livre não pode ser sentir-se pressionado pelo “voto útil”, na disputa que os partidos têm apontado, de forma mais alargada, de uma maioria de esquerda ou de direita no Parlamento.
Segundo momento
Com os candidatos dos partidos com representação parlamentar em campanha em diferentes pontos do país, este domingo, as conversas entre eles não foram feitas por telefone, SMS ou até WhatsApp, mas através da comunicação social, com declarações, réplica, acusações, convites. Nas Caldas da Rainha, a coordenadora do BE, Catarina Martins, acusou o PS de “queimar pontes à esquerda” e avisou que o pedido de maioria absoluta “acaba por abrir caminho à direita”, isto por causa das sondagens, que indicam uma aproximação do PSD ao PS e, no sábado, o inquérito diário que a Pitagórica está a fazer para a TVI/CNN Portugal resultou numa liderança do PSD, com 34,5%, mais um ponto que o PS, o que, na prática, traduz um empate técnico, o que já acontecia anteriormente. Na sondagem deste domingo, voltou o PS para a frente, com 34,1% dos votos, mais 0,6 pontos percentuais que o PSD.
Em Guimarães, o secretário-geral do PS ripostou, afirmando que o BE deveria pedir desculpa por ter rompido a unidade da esquerda, quando votou contra o orçamento do Estado para 2021 e repetiu o mesmo com a proposta para 2022. “Percebo que partidos que já em 2020 quiseram romper a unidade da esquerda precisem agora de arranjar um bode expiatório”, afirmou António Costa. “Não recebo lições da Catarina Martins”, avisou, ainda, no final de arruada, que quase se sobrepôs a outra, do PSD, que decorreu horas antes no mesmo local.
Regressada a Lisboa, para um comício no Pavilhão Carlos Lopes, Catarina Martins não respondeu diretamente, mas convidou o secretário-geral para uma reunião, logo no dia 31, a seguir às eleições. “O Bloco está disponível e convida-o para que nos reunamos no dia 31 de janeiro para trabalharmos numa agenda de medidas e metas para quatro anos”, disse. Voltou, claro, a dizer que o “voto útil” é no BE.
Já em Braga, António Costa defendeu o voto no PS, porque constrói pontes, “onde os outros só veem impossíveis”, numa mensagem destinada ao PSD, mas que podia ter como destinatário o BE, pelo que tem afirmado.
A coordenadora do PAN, Inês de Sousa Real, tentou intrometer-se na conversa, dizendo achar bem que o BE “esteja, finalmente, disponível para dialogar, se não o fez antes”, e também Rui Tavares procurou ser ouvido, insistindo na convergência da esquerda. Ambos não obtiveram resposta, pelo menos, hoje.
Terceiro momento
Sempre disponível para imagens, que, como se sabe, valem por mil palavras, o presidente do Chega, André Ventura, discursou no encontro que a sua campanha organizou com antigos combatentes, no Porto, envergando um camuflado, mesmo que não tenha feito serviço militar. Foi oferecido pela organização e serviu como adereço para algumas promessas, mesmo que o programa eleitoral ou o documento de 100 medidas do Chega para o Governo não tenham qualquer referência aos ex-militares. Comprometeu-se com a trasladar os mais de três mil combatentes da Guerra Colonial que ficaram sepultados nas antigas colónias, acesso gratuito ao Hospital das Forças Armadas a todos os combatentes e respetiva família e uma pensão mensal de “200 euros, no mínimo”, para todos os antigos combatentes.
O caso motivou uma reação do presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, que reagiu com uma publicação na sua página oficial de Facebook a dizer que “uniforme e os restantes símbolos militares são para quem os mereceu, os percebe e os respeita”, dando a entender que não será o caso de André Ventura.
O momento passou e, na Póvoa de Varzim, o presidente do Chega adaptou-se ao enquadramento, com uma camisola poveira.