Confesso que a primeira experiência foi de grande ansiedade. E não estou a falar da mítica carreira 28 ou dos carros elétricos da Companhia de Carris de Ferro de Lisboa, cuja história já ultrapassa os 120 anos. Por certo, desde a “fiação” elétrica que fez substituir a tração animal, a ansiedade de autonomia foi ultrapassada nos carros elétricos públicos da capital. Mas escrevo da minha primeira vez de condução de um elétrico em autoestrada. Não habituado à avaliação das diferenças entre a autonomia marcada no painel de controlo e a real, o stress estava sempre latente de ter, de repente, de encontrar uma qualquer ficha disponível para poder recarregar a bateria.

Quase três anos depois de experiências de condução elétrica, já não sei o que é sofrer de ansiedade de autonomia. Na realidade, houve avanços significativos da malha de carregadores de viaturas movidas a baterias elétricas. Não obstante, o tempo de carregamento continua a ser tema. Quem viaja frequentemente fora das zonas urbanas, depara-se com dificuldades de eficiência. Sobretudo se a marca da sua viatura não possuir uma rede própria de «supercarregadores». Isto, porque há uma diferença significativa entre carregar uma parte substancial da bateria em 15 a 20 minutos, ou numa hora ou mais.

Há consideráveis esforços de implementação de postos de carregamento rápido. Os valores de investimento são avultados, a disponibilidade de rede elétrica nem sempre é uma realidade, e o tempo de autorização de licenciamento também permanece como entrave a maior celeridade na expansão da infraestrutura. Temos exemplos de esforços significativos empreendidos pelo ecossistema composto pelas concessionárias de autoestradas, pelos fornecedores de equipamentos e pelas operadoras de distribuição de energia elétrica. O Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal) tem a meta ambiciosa de atingir a neutralidade de emissões de carbono em 2050. Até lá, um conjunto de medidas aponta para que se chegue a 13 milhões de veículos elétricos em circulação no espaço da União Europeia até 2025, servidos por 1 milhão de postos públicos de carregamento.

Para já, há um considerável avanço no tipo de energia de novos veículos automóveis vendidos em Portugal. Dados da ACAP referentes ao primeiro trimestre apontam para um total de venda de veículos ligeiros de passageiros movidos 100% a energia elétrica de 1.579, o que corresponde a 5,1% das vendas. Em todo o mundo, a venda destes veículos representou, em 2020, cerca de 4,2% do total, praticamente duplicando o percentual do ano anterior (que era de 2,5%).

O curioso é que, se somarmos aos elétricos, todas as vendas de veículos eletrificados (híbridos plug-in e híbridos elétricos), o percentual de vendas de ligeiros de passageiros no primeiro trimestre deste ano alcançou 29,4%, que compara com 26,3% de vendas de viaturas a gasóleo.

A revolução silenciosa da mobilidade elétrica é possível graças à conjugação de esforços comuns dos fabricantes da industria automóvel, dos distribuidores de energia elétrica, dos fabricantes de equipamento de carregamento, da tecnologia de gestão da rede e das Instituições Financeiras especialistas em financiamento de soluções de mobilidade elétrica.

“Vou de elétrico”, será a expressão mais utilizada por qualquer de nós nos próximos anos, ao sair de casa pela manhã. Seja qual for o transporte.