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“Warren Buffet de Xangai” torna-se o maior acionista do BCP

Saiba que é Guo Guangchang, presidente da Fosun, grupo que detém a Fidelidade, a Luz Saúde, e que agora se tornou o maior acionista do BCP.
21 Novembro 2016, 05h00

Guo Guangchang nasceu numa família humilde de Dongyan, província de Zhejiang, mas é atualmente dono de uma fortuna de 5,9 mil milhões de dólares, colocando-o no 22º lugar dos mais ricos da China, segundo o ‘ranking’ da revista Forbes. Em 1985, o jovem Guo, descrito como “esforçado” nas biografias oficiais, recebeu uma bolsa de estudo estatal para cursar filosofia na Universidade de Fudan, em Xangai, uma das mais antigas e selectivas academias da China. A Universidade mudou a vida de Guo: para além de lhe ter proporcionado uma formação superior, permitiu-lhe lançar com o seu primeiro negócio (a venda de pão nos dormitórios, que lhe rendia cinco euros por dia). E, mais importante: foi lá que Guo conheceu as duas pessoas que foram determinantes para o seu futuro: o amigo Liang Xinjun (actual vice-presidente do grupo) e a namorada Tan Jian, que seria a sua primeira mulher.

Na academia, muitos estudantes sonhavam com uma carreira internacional, de preferência na Europa ou nos Estados Unidos. Guo, Liang e Tan rapidamente se aperceberam do potencial gigantesco do mercado interno do país, com mil milhões de homens, mulheres e crianças ávidos de aceder aos bens de consumo ocidentais. Enquanto outros empreendedores chineses da época fizeram fortuna através do fabrico e exportação de produtos baratos para os mercados desenvolvidos. Os três estudantes perceberam que havia mais a ganhar em assessorar investidores estrangeiros interessados em penetrar no ambicionado e opaco mercado chinês.

Em 1992, com uma pequena ajuda da Universidade Fudan, os três reuniram 100 mil yuans (cerca de 14 mil euros, ao câmbio actual) para o capital inicial da Guangxin Technology Consulting, a sociedade que viria a dar origem ao grupo Fosun. No início, a empresa dedicava-se a aconselhar empresas farmacêuticas estrangeiras que pretendiam estabelecer-se na China continental.

“Em 1993, deu o grande salto em frente, com o início da comercialização de uma tecnologia para diagnosticar os anticorpos da hepatite A. Nos anos seguintes, com Guo como presidente-executivo (CEO), a partir de 1994, a Fosun cresceu muito rapidamente; quando Guo voltou à Fudan para tirar um MBA, em 1999, era já um homem muito rico. Longe estavam os tempos em que tinha de vender pão aos colegas para poder custear a estadia na universidade”, pode ler-se no livro ‘Os Novos Donos Disto Tudo’, publicado em 2015, pela Matéria-Prima Edições.

Guo pode ser o “Warren Buffet chinês”, por ser, alegadamente, admirador do investidor americano, mas é certo que, para a sua ascensão, contribuíram em grande medida a formação superior numa escola de elite, o apoio financeiro da própria universidade à criação da Fosun e algumas oportunidades de negócio. Assim, após o crescimento fulgurante dos primeiros anos, o grupo passou a investir ele próprio nos mais diversos sectores de actividade, do sector farmacêutico, ao retalho e ao imobiliário, no âmbito de uma estratégia que, segundo o fundador, visa construir uma “General Electric chinesa”, isto é, um conglomerado misto, com presença em diversos sectores, nomeadamente naqueles que beneficiam do crescimento da classe média chinesa, numa altura de rápido crescimento da economia. A entrada na bolsa de Xangai, em Julho de 2007, representou a consagração desta estratégia. E o papel de Guo como símbolo de uma nova geração de empresários chineses foi, por sua vez, consagrada na Expo de Xangai, em 2010: juntamente com outros 15 empreendedores, o fundador da Fosun financiou a construção de um pavilhão que pretendia dar a conhecer ao mundo os feitos das empresas privadas do país.

Com a consagração no mercado doméstico, a Fosun partiu à conquista do mundo. Em Portugal instalou-se com toda a força. Em menos de um ano, comprou a seguradora Fidelidade, a Espírito Santo Saúde e uma participação de 5% da REN. Agora, a Fosun fica a maior acionista do BCP com 16,7% por 175 milhões de euros.

Guo é também conhecido na China como praticante de tai-chi, uma forma de meditação que combina as artes marciais com elementos da filosofia tradicional chinesa. Terá sido Jack Ma quem aconselhou Guo a praticar esta forma de meditação, da qual o empresário se tornaria praticante exímio e grande entusiasta.

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