Quando Paris se envolveu militarmente no Mali e na Líbia apercebeu-se rapidamente que não dava conta do recado sozinha, acabando por ir bater à porta dos aliados a pedir ajuda. Posição semelhante teve Washington quando declarou unilateralmente guerra comercial à China, como parte integrante de uma ofensiva de maior escala contra aquele país, sem coordenar previamente com os europeus. Quando percebeu que Beijing é um osso mais duro de roer do que imaginava veio pedir auxílio.

Os EUA ficaram nervosos quando ouviram Josep Borrell, o Alto Representante da UE, comparar a política externa europeia com Frank Sinatra. Ou seja, será “à nossa maneira, um terceiro caminho, nem à maneira americana, nem à chinesa”. Para contrariar a aleivosia autonómica europeia, Mike Pompeo multiplicou-se em iniciativas diplomáticas para persuadir os europeus da bondade das suas posições. Já em junho, teve uma conversa com os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, e no dia 25 de junho dirigiu-se a uma audiência europeia “qualificada”, através de uma videoconferência organizada pelo German Marshall Fund, em Bruxelas.

Pompeo veio dizer aos europeus que tinham de se juntar aos americanos, num novo diálogo transatlântico, para combater o Partido Comunista da China (PCC): “Temos de enfrentar este desafio juntos”. Os argumentos utilizados para justificar uma postura mais contundente contra o PCC são conhecidos. O mais convincente e mobilizador foi seguramente acusar o PCC de romper com múltiplos compromissos internacionais.

Pompeo aproveitou a oportunidade para anunciar que aceitava a proposta europeia de criar um “Diálogo EUA-UE sobre a China”, “um novo mecanismo para discutir as preocupações causadas pela ameaça chinesa ao Ocidente e aos nossos valores democráticos”. “Uma vez que tenhamos um entendimento partilhado sobre a ameaça colocada pelo PCC, poderemos começar a tomar medidas”. Ficou claro que é grande a abertura de Pompeo ao diálogo com os europeus sobre o PCC, desde que seja feito nos termos estabelecidos pelos americanos. Pompeo teve ainda a gentileza de informar que “os EUA não vão forçar a Europa a escolher entre o mundo livre ou a visão autoritária da China”, como se fosse isso que estivesse em causa.

Em abono da sua tese alvitrou que o Secretário-Geral da NATO Stoltenberg deu as boas-vindas à ideia de transformar a China no grande foco da ação da organização, como se isso fosse verdade, ou Stoltenberg tivesse alguma autonomia opinativa sobre a matéria, que reside nos países. Entretanto, foi alertando para o facto de os europeus se encontrarem divididos sobre a posição da UE relativamente à China (“there’ll be two dozen different views”) e não perdeu a oportunidade para desqualificar a chanceler Angela Merkel, insinuando traição por esta ter liderado uma comitiva de empresários a Beijing, enquanto Trump negociava com as autoridades chinesas um novo acordo de comércio, como se os europeus tivessem de pedir autorização a Washington para negociar com a China.

Num assomo de candura lembrou que também há uma grande comunidade de negócios americana que ganha muito dinheiro na China. Antes de resolver o problema fora de portas, Pompeo devia tentar resolver as traições domésticas. Contudo, esqueceu-se de clarificar o mais importante. O que é que os EUA têm para dar em troca aos europeus?