A fintech alemã Wirecard foi fundada em 1999 e prometia revolucionar o mercado dos meios de pagamento, tecnologia de pagamentos e gestão de risco facilitando/desburocratizando os serviços financeiros com produtos desenvolvidos para empreendedores, Marketplace e e-commerce.

Um ano mais tarde passou a cotada na bolsa alemã, fruto dos seus surpreendentes desempenhos de crescimento e sucessivos aumentos de lucro, conseguindo ultrapassar o valor de mercado de gigantes como o Deutsche Bank ou Commerzbank.

Recentemente, foi a maior dor de cabeça financeira que a Alemanha consentiu nos últimos 70 anos, com uma discrepância de cerca de 2 mil milhões de euros no Balanço Consolidado, tendo declarado falência com um total de cerca de 3,5 mil milhões de euros em dívida.

Às suspeitas de que a Wirecard pudesse estar a incorrer num esquema de “lavagem de dinheiro”, que remontam a 2008, soma-se o crescimento impressionante de lucros de cerca de 144% entre 2015 e 2018, motivos que levaram a BaFin a investigar a documentação contabilística da fintech.

A investigação provou ser deficiente, uma vez que se concluiu que a empresa estaria financeiramente saudável. Ficou então provado que o órgão fiscalizador alemão não supervisionou devidamente e que mais medidas de controlo financeiro internacional teriam de ser tomadas sobre as fintech.

A BaFin não foi a única organização a ter responsabilidades neste processo. A Ernst & Young passou uma década a aprovar as contas da fintech alemã sem encontrar evidências de irregularidades. A consultora, que validou as contas da Wirecard, ignorou diversos avisos de possível conduta fraudulenta provenientes do mercado. Agora, será natural que muitos processos legais sejam levantados por parte de entidades lesadas e que, para os investidores, não seja uma marca com serviços confiáveis.

Já o “Financial Times” teve um papel determinante na descoberta da fraude quando decidiu investigar de forma incessante algumas empresas subcontratadas da Wirecard e concluiu que estas nunca existiram. Este passo, embora tardio, foi importante para posteriormente descobrir que o ativo fantasma que estaria em duas instituições bancárias nas Filipinas não passava de mera inexistência.

Este cenário levanta uma séria questão aos bancos centrais: “Será que têm condições para assegurar a transparência dos serviços de transações pelas fintech?”. De constatar que foi “retirado” o exclusivo destas operações às instituições bancárias, deixando-as apenas com o exclusivo do serviço de crédito.

Assim, o desaparecimento num total de 1,9 mil milhões do ativo da Wirecard deixa uma dúvida por esclarecer: “Como é que um país dotado de tantos regulamentos deixa que um escândalo contabilístico desta envergadura aconteça?”.

As regulamentações e fiscalizações alemãs provaram não ser eficazes no controlo de fraudes no setor das Fintech e, resta saber, quantas instituições seguiram o “exemplo” da Wirecard. Esta situação poderá limitar de forma direta o crescimento de empresas sólidas no mesmo setor e afetar negativamente a confiança dos investidores na regulamentação dos órgãos de controlo financeiro europeu.