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With Company, o design é uma carta de amor

No escritório da Mimi Hearing, em Berlim, há meses que se experimentam fórmulas de fazer com que os utilizadores da aplicação desenvolvida pela empresa oiçam melhor. A empresa trabalha na interseção entre a área médica e a de wearables. O que quer dizer que a convivência, apesar de possível, é pouco natural. A Mimi trabalha […]
16 Novembro 2015, 19h16

No escritório da Mimi Hearing, em Berlim, há meses que se experimentam fórmulas de fazer com que os utilizadores da aplicação desenvolvida pela empresa oiçam melhor. A empresa trabalha na interseção entre a área médica e a de wearables. O que quer dizer que a convivência, apesar de possível, é pouco natural. A Mimi trabalha para transferir a tecnologia dos aparelhos auditivos para o mobile. Portanto, vai tornar possível que uma pessoa com um problema auditivo possa ouvir muito melhor bastando-lhe, para isso, manter o telemóvel no ouvido. “A tecnologia faz o smartphone adaptar-se à capacidade auditiva da pessoa em questão. Depois gera uma série de pre-sets em função da dificuldade auditiva e do contexto. Num ambiente de autocarro, ele percebe isso e adapta automaticamente para que se oiça melhor naquele contexto específico”, detalha Rui Quinta, como se falasse de um produto criado por ele. E, bem vistas as coisas, há dedo do português na tecnologia da Mimi.

Rui Quinta e Tiago Nunes conheceram-se em Berlim durante um curso de Design Thinking que ambos fizeram. Quando regressaram a Lisboa tropeçaram numa ideia: repensar a empresa familiar de pesca e venda de peixe que pertencia à família de Rui. Decidiram parar durante três meses o que estavam a fazer e dedicar-se à implementação do Fishing for Ideas que, quase três anos depois, acabaria por ser o projeto fundador da With Company.

“A Sódomar estava a ir por água abaixo há dez anos e decidimos tirar três meses das nossas vidas para olhar para a empresa, falar com trabalhadores e entender o negócio. No fundo, estar lá para os conseguir ajudar”. É foi aí que entrou a metodologia apreendida no curso alemão. É que a empresa, ao contrário de muitas que procuram a ajuda de agências que trabalham marcas, não tinha nenhuma necessidade específica: não precisava de uma marca ou de uma campanha, não tinha necessidade de AdWords. “Eles, de facto, precisavam de alguém que se sentasse, os pudesse ouvir, entender os problemas reais que tinham. Percebemos, no final do tempo, que se tratavam de problemas essencialmente de comunicação interna: as pessoas não falavam umas com as outras. Tinham um problema de posicionamento do próprio negócio, mesmo do ponto de vista de compra eles não estavam a comprar nem a vender bem. E além disso, apesar de terem uma equipa e recursos de estrutura montados para que a empresa funcionasse bem, o sistema não estava a funcionar”, recorda Rui Quinta.

O projeto não só correu bem e ajudou a empresa a recuperar como serviu de clique a Rui e Tiago: perceberam que podiam aliar o que tinham de experiência – o Tiago em design de produto e gestão e o Rui em design de comunicação e estratégia de marca – ao Design Thinking e, passar a olhar para as empresas, não só do ponto de vista da comunicação como também na vertente do negócio, de maneira a poderem analisar e entender todas as componentes dos clientes. “A With nasce dessa nossa vontade de fazermos uma coisa em conjunto, de criarmos uma tipologia de empresa de design que, em 2012, ainda não existia em Portugal. Uma espécie de consultora de design estratégico”, analisa Rui, sublinhando que a maior diferença é a maneira como a agência trabalha. “Começa a haver uma inversão em todos os sentidos: os clientes começam a perceber que a resposta está aqui, no facto de olharmos para as pessoas, de nos preocuparmos com as pessoas. A solução está na humanização das coisas. De repente éramos todos robôs e voltámos a ser pessoas, parece que estamos a reencontrar-nos”.

O convite para a parceria com a Mimi surgiu depois e permitiu à With Company trabalhar numa área completamente diferente dos anteriores projetos.  Assim como quando alinharam, com outra ex-colega do curso de Design Thinking, em Berlim, num projeto de desenvolvimento de uma plataforma digital de poupança e produtos digitais para um banco no Brasil. Durante cinco semanas, a equipa da With Company mudou-se para a cidade de Porto Alegre, no sul do Brasil, e ajudou a traçar a estratégia em parceria com a With No One. Os processos levados a cabo incluem, muitas vezes, pegar em diferentes pessoas da estrutura que nunca trabalham juntas e pô-las a pensar e a decidir tendo em conta um objetivo comum.  “É lógico que, em cada fase, emergem as qualidades de cada um e a área de especialização mas eles vão juntos. Criamos uma grande base de conhecimento da empresa ligada a cada área de especialização de cada um.

As pessoas sentem-se informadas em todos os momentos sobre o que está a acontecer, há uma grande autonomia e, ao mesmo tempo, sentem-se mais envolvidas. Não trabalhamos com briefings para ontem, estamos a fazer pesquisa. Para tomar uma decisão daqui a um mês temos que a pensar antes”, diz Rui.

Criada em fevereiro de 2015 enquanto empresa, a With Company prevê que a faturação dos primeiros doze meses de atividade chegue aos 250 mil euros.

Startups são mercado interessante para a With Company

A With Company vê no mercado das startups um potencial de crescimento enorme, que permitiria à empresa capitalizar a experiência que já tem e, ao mesmo tempo, desenvolver estratégias de validação de produto e de negócio. “Apesar de já haver muita gente no mercado com essa consciência, achamos que é um mercado cada vez mais interessante. No entanto, sentimos também que, cada vez mais, estamos a fazer um caminho inverso: mostrar às empresas grandes que ainda é possível fazer qualquer coisa lá dentro apesar de os processos estarem muito bloqueados. Há pessoas a querer mudar internamente e há quem possa vir de fora e contribuir para que essa mudança possa ser possível”, diz Rui Quinta, sublinhando a necessidade de uma humanização na criação e estratégia das marcas. “As empresas fazem barulho e não se percebe para quem. As pessoas desligaram-se completamente dos negócios e do que as empresas têm para dizer e ninguém sabe muito bem. Daí a importância de esses processos de comunicação serem trabalhados. O que gostávamos que acontecesse era pôr essas pessoas a falar, fazer com que elas consigam comunicar com as que estão cá fora e com que, de alguma forma, consigam apaixonar-se novamente. Criar essa ligação entre as pessoas e os negócios”.

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