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“Ainda não conseguimos encontrar a Uber ou a Tesla dos seguros”, diz diretor de inovação da Zurich

Stuart Domingos explica, em entrevista ao Jornal Económico no âmbito da Web Summit, que o sector segurador se encontra numa fase de explorar, mas ainda falta encontrar a empresa ou a tecnologia que irá alterar por completo esta indústria.
  • Piaras Ó Mídheach
3 Novembro 2021, 07h35

As inscrições para a competição de empreendedores Zurich Innovation Championship (ZIC) 2021/2022 estão abertas e a companhia de seguros suíça está pronta para encontrar – e trabalhar com – as startups capazes (ou com a tecnologia capaz) de transformar para sempre o sector segurador, tal como o fizeram as gigantes Uber e Tesla na área de mobilidade urbana.

Em entrevista ao Jornal Económico (JE), a partir da Web Summit, o diretor de inovação do grupo Zurich explica que esta terceira edição do programa é a maior de sempre, até porque as duas anteriores serviram para testar o modelo de colaboração com o ecossistema. “Com 150 anos queremos fazer um showcase de como estamos a fazer inovação aberta. Não é sozinhos dentro de um armazém que se inova. Estamos a colaborar com os empreendedores mais promissores. Esta é a maior e competição de startups do mercado segurador do mundo. Nos primeiros dois anos quisemos estabelecer, moldar, e agora queremos de facto criar impacto”, referiu Stuart Domingos ao JE.

As áreas que procuram são quatro simplificação, sustentabilidade, prevenção e mitigação e ‘wild-card’. Porquê este aumento de categorias a concurso em relação às edições anteriores?

É necessário perceber que não sabemos o que não sabemos. Portanto, a primeira coisa que queríamos fazer era tirar constrangimentos a empreendedores ou às startups de tentar trabalhar connosco, porque pode haver uma ideia espetacular, mas depois esse empreendedor(a) tem constrangimentos a tentar criar um ângulo de sustentabilidade – e muitas vezes até pode tê-lo, mas ser desconhecido – nós conseguimos libertá-lo. Essa é a grande área e está relacionada com o nosso branding, reimaginar o futuro dos seguros. Depois, há outras mais específicas porque estamos à procura de como simplificar a nossa experiência para o cliente. Em relação à prevenção e mitigação, há um pouco o misticismo de os seguros venderem medo/receio, daí o nosso novo branding referir “o que pode correr bem” (“what can go right?”): que é sermos parceiros dos nossos clientes de forma a evitar que tenham riscos, sinistros.

Como é que casam esse slogan do “what can go right” com o trabalho com startups, em que elas próprias podem correr mal no primeiro ano de vida?

No mundo da inovação não podemos estar a comprometer-nos de que vai tudo correr bem – e não vai correr tudo bem. Por exemplo, nas primeiras duas edições tivemos uma startup que entretanto entrou em falência e não sobreviveu. Outras startups atualmente têm dez vezes mais o número de clientes e de empregados e a valorização foi 50 vezes mais. Ou seja, highs risk highs reward (riscos grandes recompensas grandes). O que nos interessa é crescer com a startup, não deixar a deixar sozinha e usufruirmos desse crescimento conjunto.

Que acompanhamento têm feito a empresas como a Aplanet ou Habit Analytics, que se destacaram noutras edições da ZIC em Portugal?

Continuamos em contacto com elas para fazer uma reaplicação com inovação. Falhar uma vez não quer dizer falhar uma segunda. Por outro lado, estamos também a interagir com elas sobre como podemos nós, Zurich, podemos trabalhar melhor com startups, alterar os nossos processos. Somos uma empresa tradicional e como todas as empresas tradicionais temos os os nossos processos e precisamos de simplificar. Com eles estamos também à procura de ajustar a iniciativa, moldar e focar às necessidades que temos. Estamos também a focar os critérios de trabalhar connosco em dois principais: qual a novidade associada, se aquilo nos vai posicionar na liderança do mercado e ser diferenciado, e qual o potencial passados cinco anos, com a pegada global da Zurich, que proveito poderíamos tirar. Procuramos empreendedores que tenham uma visão, sejam purpose-driven (ação maior além da venda de produtos/serviços) da sustentabilidade

Entre as maiores fintechs portuguesas, 8% são insurtech. A percentagem também tem aumentado noutros países do grupo?

Sem dúvida. O que nós vemos é que vai haver uma disrupção da indústria seguradora. Podemos esperar que o façam por nós ou podemos nós tentar “disromper” e criá-la, colaborando com startups, procurando corresponder às expectativas dos clientes. If you can beat them join them (se não os consegues vencer junta-te a eles). O mercado segurador e as muitas startups que há no mundo já exploraram muita coisa mas ainda não conseguimos encontrar o que vai ser o sector no futuro. Estamos na altura de explorar. É bem mais do que uma pergunta para mil milhões. Estamos a falar de quem é que consegue romper uma indústria, conforme já vimos noutras indústrias com o Uber ou a Tesla. Sabemos que isso vai acontecer nos seguros.

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