A COP25 em Madrid é uma oportunidade e um pretexto para discutir o nosso futuro coletivo. A conferência constitui o centro do mundo da reflexão sobre o planeta, onde confluem estadistas e ativistas, responsáveis e idealistas que, além de discutir soluções assumem o desafio particular de não realizar mais uma reunião politicamente correta.

Os discursos já os conhecemos: não há planeta B, parar as emissões de C02, substituir o uso do plástico e salvar a humanidade das suas próprias agressões. Os protagonistas encontram-se identificados: secretário-geral da ONU, António Guterres, a jovem ativista sueca Greta Thunberg, governantes, cientistas e académicos de dezenas de países que irão desfilar debitando as palavras esperadas.

Isto em nada é diferente de todas as reuniões anteriores, onde, com pompa e circunstância, se antecipou o condicionamento do futuro das próximas gerações e o fim do mundo pela destruição do ambiente onde vivemos.

O discurso não é agradável e muitos são os políticos que declaram compreender estes apelos e que assumiram o combate pelo futuro. Foi assim em 2015 na Conferência de Paris sobre as alterações climáticas patrocinada pela ONU. Um sucesso de discursos e um fiasco absoluto na interiorização dos seus problemas.

Não é o diagnóstico que está por fazer. Nem a vontade manifestada por decisores políticos de tomar medidas adequadas. A questão preocupante é que não valem ações individuais dos países que se limitem à dimensão das suas fronteiras. Nem são relevantes ações em pequenos países quando as grandes nações se mantêm alheadas das decisões e se entretêm a pôr em causa a própria essência das mudanças que o clima e o planeta evidenciam. O negacionismo é próprio daqueles que exibem a sua pequenez e a incapacidade de reagir aos problemas que ultrapassam o quotidiano.

As decisões sobre o clima não são de esquerda ou de direita. Ninguém se pode arrogar a defesa do mundo. A tarefa dos ativistas, e de alguns políticos, é alertar, mas esgota-se nessa dimensão. A responsabilidade é de todos os cidadãos nas escolhas políticas que fazem, na participação cívica e no condicionamento de políticas e exigência de resultados concretos através da indução de comportamentos coletivos, de benefícios fiscais em eficiência energética ou no fim dos apoios à exploração ou uso de combustíveis fósseis, como realçou recentemente a OCDE no  relatório The only way forward: Aligning Development Co-operation and Climate Action”.

Não são os ativistas os responsáveis, nem os heróis desta discussão. Nem é com gritos ou discussões que vai consertar o planeta. Por muito que se aprecie o voluntarismo dos jovens no seu esforço de protesto, a decisão concertada em múltiplos domínios pode traçar o caminho para uma evidente e necessária mudança. Sem recurso ao disparate ou ao ridículo de acabar repentinamente com hábitos centenários ou modificações absurdas de políticas que criam emprego sem esperar por uma moderada alternativa.

A visibilidade de ações como as de Greta, devem ser conjugadas com a capacidade de políticos que reajam às necessidades do planeta e das pessoas que nele habitam. A União Europeia encontrou aqui a sua bandeira. Mas enquanto Estados Unidos, China e Rússia não forem persuadidos a agir de forma decidida, estaremos condenados a um lento discorrer sobre necessidades mas poucos avanços e nenhuma evolução.

A comunidade internacional poderá continuar a agitar as suas preocupações e pânicos, porém os resultados serão curtos para o futuro. Por essa razão, urge encontrar mecanismos de mobilização destes protagonistas, para responder aos apelos da emergência climática.