O futuro é uma das palavras mais comuns na mensagem política. É também uma das que menos contestação sofre. Ao contrário do passado, cheio de equívocos e erros, e do presente, com mais defeitos do que virtudes, o futuro tem uma imensa carga positiva. É em nome dele que as batalhas políticas se travam, é com os olhos postos nele que são utilizadas as palavras mais belas do vocabulário político. Palavras como horizonte, progresso, conquista, geração, confiança, ideal.

2017 deve ser o início de um futuro melhor. É por isso fundamental que os políticos abdiquem de referir no seu discurso um futuro sem esperança. Como ironizava o escritor norte-americano, Ambrose Bierce, no seu Dicionário do Diabo, “o futuro é o único reduto do tempo em que tudo corre bem”.

2016 trouxe uma governação consensual da geringonça, que pretendeu agradar a todos em simultâneo e procurou satisfazer os interesses corporativos de toda a espécie, à custa da paralisia de muitos processos de decisão. Este modelo merece críticas, pois abdica de convicções próprias em troca do elogio fácil. Mas para criticar importa ter oposição e alternativa. Uma oposição forte, elemento fundamental numa democracia saudável. 2016 não contou com muita eficácia neste campo, talvez por receio do conflito que advém da defesa de posições e projetos diferentes. Em 2017 tem de haver mais eficácia.

Negar a natureza conflitual da política é negar a sua essência. Esta negação transforma a unanimidade numa hipotética virtude e num dogma real. 2017 tem de ser o ano em que romper consensos e apresentar projetos alternativos se torne um imperativo nacional. Este imperativo define-se assumindo a diferença entre a maneira como se faz política e aquela como se deveria fazer. Quem não fizer o que é “costume” para, em contraponto, fazer o que tem de ser feito, ajudará seguramente Portugal.

Em 2017 têm de ser derrubadas as barreiras do imobilismo e da estagnação. Mas é preciso coragem e essa está ao alcance de poucos. As rupturas e os conflitos corajosos têm sempre riscos associados. Porém os portugueses esperam que alguns políticos possam recorrer ao sábio legado milenar de um dos estrategas mais brilhantes de sempre: o general chinês Sun Tzu, que defendia no seu clássico, A Arte da Guerra, que “A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço.

Para que 2017 seja o ano do futuro e da esperança deve assumir-se o risco das ruturas e do conflito, mas sempre com o propósito de conquistar a governabilidade. Em 2016, o Governo de António Costa conseguiu, de forma hábil, um conjunto de condições que lhe asseguraram a governabilidade. A solidez interna, o voto de confiança no Parlamento dos partidos à sua esquerda e o apoio do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foram sinergias que garantiram estabilidade, contrariando os vaticínios da oposição. Sem este cenário, eventualmente, a acção política da geringonça estaria condenada ao fracasso.

O ano de 2017 tem de fazer reaparecer o líder da oposição dotado de carisma, de capacidade de trabalho, de competência e capacidade de resiliência. A Passos Coelho compete-lhe motivar, estimular e dar esperança aos portugueses. Para o líder da oposição, o ano de 2017 deverá aconselhar uma estratégia assente na expressão imortalizada pelo nosso Rei D. João II (o Príncipe Perfeito), que referiu que “há tempos de usar o olhar da coruja e tempos de voar como o falcão”.

É obrigatório assumir de vez a eficácia da Realpolitik, que significa a adequação da política à realidade. 2017 é o ano do futuro e da esperança que valorizará o pragmatismo estratégico dos líderes políticos, mais preocupados com a eficácia da sua ação do que com o cumprimento de diretrizes ideológicas ou de objetivos de longo prazo.

Em 2017 mobilizar energias, motivar vontades, fazer ruturas nuns momentos e revelar dotes conciliadores noutros, será a grande prova dos líderes políticos com futuro. Para António Costa os indicadores têm sido positivos. Já para Passos Coelho é urgente ter conquistas, vencendo as eleições autárquicas, pois como concluiu uma grande referência política, o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”. Disto nenhum líder se pode esquecer.