O mundo assiste ao arranque da 4ª revolução industrial, ou indústria 4.0, que resulta da combinação das potencialidades de diferentes tecnologias, como a automação, o big data, a internet das coisas, a cloud, os dispositivos móveis, as redes sem fios ou os sistemas cibernéticos. A interoperacionalidade entre estas tecnologias permite o desenvolvimento de fábricas inteligentes, em que os processos industriais excluem a intervenção do homem e até as próprias decisões são tomadas sem recurso à mente humana.

A 4ª revolução industrial está, como facilmente se percebe, a provocar mudanças profundas nos modelos de negócio e no funcionamento orgânico das empresas, com consequências preocupantes ao nível da criação de emprego e da sustentabilidade e bem-estar no trabalho. Na 46ª edição do World Economic Forum, em Davos, foi prevista a perda de cinco milhões de empregos nas principais economias mundiais durante os próximos cinco anos, devido justamente ao advento da 4ª revolução industrial.

De facto, a rápida evolução tecnológica está a colocar uma pressão acrescida sobre o mercado de trabalho, já de si muito debilitado no mundo ocidental pelo fraco crescimento económico. Não creio, contudo, que o futuro do trabalho vá ser condicionado pelo avanço tecnológico. Lembro que as sociedades souberam reagir à mecanização da agricultura e às três revoluções industriais da história da humanidade, que tornaram obsoletas muitas atividades, profissões e técnicas. Obviamente que houve instabilidade social mas, a longo prazo, o balanço foi positivo: os processos de industrialização criaram mais empregos do que aqueles que destruíram.

Acredito que as tecnologias digitais vão criar oportunidades de emprego, desde que as sociedades saibam qualificar as pessoas de forma a dar-lhes capacidade de adaptação. Com o avanço tecnológico, as necessidades do mercado de trabalho estão a mudar rapidamente e as pessoas têm de saber adaptar as suas competências a essa mudança. A adaptabilidade é assim a chave para o acesso e a plena integração no mercado de trabalho, circunstância que exige mais formação ao longo da vida. As pessoas devem mentalizar-se de que, durante a vida ativa, vão ter muitas vezes de atualizar os seus conhecimentos ou até adquirir outra formação de base, ao mesmo tempo que as suas carreiras profissionais se alteram radicalmente.

De resto, verifica-se hoje um desajustamento das competências dos recursos humanos às necessidades de qualificação das empresas. Em boa medida, este desequilíbrio entre a oferta e a procura no mercado de trabalho decorre da prevalência de currículos académicos desfasados da nova realidade socioeconómica, onde o conhecimento altamente especializado assume uma importância crucial na competitividade das empresas.

Relativamente ao desajustamento dos currículos académicos, a solução passa pelo reforço do ensino das tecnologias, da engenharia e da matemática – áreas vitais para a produtividade e competitividade das empresas da economia do conhecimento. Simultaneamente, há que sensibilizar os jovens para as vantagens de uma carreira nas áreas tecnológicas, cujos cursos superiores não revelam a procura desejada. Por outro lado, importa fomentar a interdisciplinaridade curricular, de forma a promover o cruzamento das várias ciências com as áreas tecnológicas.

Creio que, desta forma, o mundo do trabalho estará melhor preparado para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades da 4ª revolução industrial.