Devemos considerar como um sinal verdadeiramente preocupante a Carta Aberta dirigida aos canais de televisão generalistas, publicada esta semana e subscrita por um grupo de cidadãos que inclui conhecidas figuras de esquerda como Isabel do Carmo, Vasco Lourenço, Maria Teresa Horta, Mário de Carvalho e Maria Emília Brederode dos Santos, entre outras.

Nesse documento, sob o pretexto da denúncia de um alegado sensacionalismo na cobertura televisiva da pandemia de Covid-19 e das suas circunstâncias, os signatários adotam uma posição definitiva e bastante clara sobre aquilo que não pretendem tolerar, do alto da autoridade de que se acham imbuídos: “Não aceitamos o tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e as respostas dos entrevistados. Não aceitamos a obsessão opinativa, destinada a condicionar a receção da notícia, em detrimento de uma saudável preocupação pedagógica de informar. E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde”.

Na verdade, o que estas figuras não aceitam é que os jornalistas façam o seu trabalho e contestem a forma como lhes é oficialmente apresentada a realidade da pandemia e do país pelo Governo socialista. Como, aliás, é bem patente ao escreverem que “mesmo sabendo a importância da informação sobre a pandemia, não podemos aceitar o apontar incessante de culpados, os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo e da DGS”.

Que pessoas declaradamente de esquerda classifiquem entrevistas, notícias e reportagens como “libelos acusatórios” não surpreenderá ninguém com memória histórica política e, fosse este um caso isolado, esta Carta Aberta seria vista como um acidental desvario de um grupo de pessoas unidas pela sonsice.

Mas sucede que o referido documento surge ao mesmo tempo em que, na vizinha Espanha e com o Podemos no poder, o governo de esquerda pretende impor aquilo que Pablo Iglesias designou como “controlo democrático” aos órgãos de comunicação social e que, como foi denunciado pelos Ciudadanos quando acusaram Iglesias – e bem – de querer ele sim controlar os média. Como recordou Guillermo Díaz, esse controlo já é exercido pelos cidadãos mediante a sua liberdade para lerem, ouvirem e verem o que quiserem.

Por cá, entre um deputado socialista que defende a implosão do monumento dos Descobrimentos e um conjunto de figuras ditas de esquerda que advogam o silenciamento das televisões, há uma linha comum que os liga. Todos eles pretendem o mesmo: o apagamento de tudo o que contradiz a sua formatada leitura do que os cerca. Que coloquem palas nos olhos é com cada um deles. Mas que as queiram impor a outros não é admissível. Parafraseando Eça de Queirós, não podemos admitir que se queira impor o manto da censura, sobre a nudez crua da verdade.

 

Notícias dão conta de que o PR está preocupado com a aparente ausência de critérios e de um calendário concreto para o desconfinamento. É natural. Qualquer pessoa que, como ele, tenha visto o documento brilhantemente sistematizado desenvolvido pelo governo inglês e que visa resolver toda a situação em torno da pandemia até ao verão, fica com justificada preocupação ao confrontá-lo com a falta de planeamento por parte do Governo português. A ver vamos como será o documento prometido para daqui a quinze dias. Se olharem para os britânicos, têm ali o benchmark.

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