As últimas semanas têm relembrado que banca e confiança são conceitos indissociáveis. O colapso do Silicon Valley Bank teve como condição de base a má gestão dos seus ativos, mas o que precipitou a queda do banco foi a fuga “relâmpago” de depósitos. Atualmente, os efeitos da falta de confiança são exponenciados pela rapidez da disseminação de informação e pela digitalização, que permite movimentar capitais com poucos cliques.

O caso do Credit Suisse não foi muito diferente na velocidade com que tudo se precipitou. Bastaram breves, imprudentes e rapidamente viralizadas declarações do representante do maior acionista para condenar à morte um banco centenário.

Já em setembro, escrevia aqui que era difícil de entender a política dos bancos quanto à remuneração dos depósitos de clientes. A relação de confiança entre banco e cliente vai além dos rácios de capital, da imagem e do histórico da instituição.

A confiança na banca também depende do serviço prestado, do seu custo, da integridade e, em boa medida, da perceção de boa-fé de ambas as partes. Manter depósitos a 0% com Euribors a 3% não ajuda a gerar confiança. Os bancos têm jogado com a inércia dos clientes que, em resposta, estão a retirar milhares de milhões de euros em depósitos para o que podem, maioritariamente para certificados de aforro.

Atentemos nos números das reclamações dos clientes ao Banco de Portugal no ano passado: 1815 por mês, perto de 22 mil no ano. Em apenas um mês, no final de 2022, a banca cobrou meio milhão de euros em comissões indevidas nas amortizações de crédito à habitação, que o Governo tinha feito desaparecer para ajudar as famílias a lidarem com a subida dos juros. Foi mais um “erro” incompreensivelmente grosseiro dos bancos.

A banca gozou de respeito e glamour até à crise financeira e aos casos do BES, BANIF, BPN e BPP. Hoje, a perceção do público é bem diferente. Os bancos portugueses estão cheios de liquidez, mas podem deixar de a ter e, nessa altura, os clientes podem não hesitar em bater com a porta.