A declaração de que atingimos o pico da pandemia de covid-19 em Portugal fez crescer os apelos às soluções para a reabertura da economia, em consequência do encerramento compulsivo das atividades que proporcionam a propagação do vírus.

As cautelas e os cuidados são tremendos. Receosos de perder a vantagem sobre a doença, estamos na viela da destruição do tecido produtivo. Nunca como agora se percebeu que todos os setores se encontram interligados, mesmo aqueles que, aparentemente se salvam da direta influência da ordem de encerramento, sofrem os efeitos de encerramento de indústrias, serviços e comércio.

O desafio do país é incomensurável e não importa encontrar desculpas ou inventar soluções miraculosas, como esperar pelo dinheiro da Europa que nunca vai chegar ou que nunca chegará em tempo oportuno. A única palavra de ordem que não se pode ponderar é o adiamento.

Adiar é um desígnio nacional. Adiamos decisões fulcrais na vida, nas empresas, nos negócios. Perdemos oportunidades e desconstruímos o futuro pelo excesso de cautela para decidir em tempo. Aqui não vale o “antes tarde que nunca”.

As decisões do Governo não podem assentar no politicamente correto, mas na eficácia. Sem nos perdermos na burocracia, na indecisão ou na contemporização com as melhores soluções. As que sucessivamente inundam o Diário da República, preenchem conferências de imprensa e enchem a esperança devem ser consistentes e realistas. Não basta conquistar parangonas com números supostamente astronómicos se esses valores são insuficientes e não alcançam os reais e desesperados destinatários.

O ministro da Economia Pedro Siza Vieira tem experiência suficiente para conhecer as dificuldades das empresas e dos decisores de investimento para separar o trigo do joio e proporcionar soluções para os que querem salvar as suas empresas e postos de trabalho, dos oportunistas em busca de crédito mais fácil e mais barato.

Neste novo desafio, e num quadro de excecionalidade, não podemos usar as lógicas antigas. Não temos tempo para deixar as micro, pequenas e médias empresas caírem, arrastando a economia e o sistema social para níveis de profunda depressão. Os trabalhadores querem saber como vão voltar aos seus empregos, como vão alimentar as suas famílias e honrar os seus compromissos agora e depois de vencerem as moratórias.

Os empresários e investidores querem continuar os seus esforços de criar riqueza. Embora haja alguns que espreitam empurrar créditos anteriores, receber benefícios e mais justificar maus desempenhos por recurso ao vírus. Este vai ser mais mortífero para a economia depois da pandemia. Mas para estes haverá que ter mão firme.

Aos bancos, respaldados pela garantia do Estado, exige-se que decidam com rapidez e uma capacidade de análise que ultrapasse os clientes de crédito do costume, que podem ser maus pagadores. Anunciada a sua intenção e determinação de devolver aos portugueses o que em tempos receberam, não será suficiente declarar que não pagam dividendos este ano ou no próximo. Haverá que separar as águas e demonstrar uma real habilidade em prestar assessoria financeira a quem precisa e não apenas emprestar dinheiro a quem não precisa.

O Estado não pode falhar. Os bancos não podem iludir. Os empresários não podem fracassar. E todos devemos contribuir para regressar a um ponto onde estivemos por esforço, sacrifício e determinação onde chegámos nos últimos dez anos. A mesma determinação que mostramos de contenção e que damos como exemplo. Agora temos um novo desafio. Para ganhar.