Os resultados das eleições legislativas espanholas confirmaram a proximidade das estratégias socialistas na Península ibérica. A falta de maioria em qualquer dos dois países, que em Portugal conduziu à geringonça, pode inspirar a construção do novo governo em Espanha.

Nada de muito inovador. Desde que tomou posse, Pedro Sánchez ensaiou uma governação a passar pelos pingos da chuva até chegar ao Orçamento. Vénias à esquerda e aos independentistas para chegar a uma maioria que agora lhe concede o direito a reclamar investidura como presidente do governo espanhol. E se prepara para, conforme lhe correrem as eleições de final de maio – europeias, regionais e municipais, avançar com um governo minoritário de apoio parlamentar, igualmente apoiado pelos anteriores.

Sánchez buscou conhecimento e prática em Portugal. Aqui veio aprender como usar a sinuosidade do ziguezague à esquerda e à direita como forma de sobrevivência. Pressentiu que o exemplo poderia frutificar porque os parceiros da esquerda – tal como em Portugal – odeiam, antes de mais, tudo o que não se afirmar de esquerda. Parceiros estes que agora desesperam por chegar ao governo.

O centro-direita, entretido a lutar pela liderança do seu espaço, automutilou-se politicamente e dividindo-se permitiu a ascensão da minoria socialista até à vitória. A sua firme oposição a um novo governo socialista traçou uma linha clara. Contudo, manteve uma posição firme perante o governo anterior e deixa clara a sua oposição ao novo governo socialista.

A inspiração que o PSOE obteve serve agora de guião para um próximo governo em Portugal ganhando o PS as próximas eleições legislativas. Como parece certo que não haverá nenhuma maioria absoluta em outubro, António Costa regressará ao regime de ziguezague, consoante lhe interessar e encontrar interlocutores disponíveis, como tem ensaiado de forma recorrente.

A questão é que a história não se repete e o recurso à habilidade política tem um momento em que finda. No esgotamento do espaço político do centro, como tem acontecido pela Europa fora, as soluções reduzem-se a uma nova minoria ou à entrada improvável da geringonça no poder.

A legislatura foi marcada pela mensagem da devolução de rendimentos, discurso permanente do BE e do PCP, e pelos acordos à esquerda para viabilizar os sucessivos orçamentos. E com magnitude celebrou outros acordos à sua direita para reformas que nunca realizou e esvaziados politicamente conduziram à não concretização de coisa alguma. Sem que se tivesse denunciado a inexistência de resultados.

Por tudo o sucesso aparente, este governo do PS não consegue esconder os fracassos. Sem uma única reforma real, o setor da Saúde degrada-se e a Segurança Social defronta-se com a crescente dúvida da sua sustentabilidade. Nas situações de emergente crise laboral, o primeiro-ministro olha com indiferença todos os que proclamam a sua inevitabilidade, recusando aceitar, ou sequer discutir, o que possa perturbar a agenda dos parceiros.

Este PS vai pedir votos para a realização de reformas que sabe que não vai fazer, para realizar acordos que não vai cumprir, e com a certeza de que os parceiros não serão brandos nem tão pacientes como o foram nos últimos quatro anos. Anuncia-se uma legislatura complexa, mais radical e ainda mais conflituosa.