Os dois últimos atos eleitorais – europeias e legislativas – trouxeram-nos novidades do ponto de vista da representação, nomeadamente o resultado global do MPT e do PAN, com a eleição de dois deputados europeus e um deputado nacional, respetivamente. Ambos souberam ler o ambiente eleitoral e retirar do sistema uma surpreendente eleição, em princípio não esperada ou que contrariou o mainstream partidário tradicional.

Nessa oportunidade, em 2014 e 2015, os eleitores aproveitaram para chamar a atenção para a sua insatisfação vivida durante o período da troika. Este fenómeno não era novo e várias vezes os eleitores aproveitaram as eleições europeias (nalguns espaços mais urbanos até em eleições autárquicas) para mostrar o seu desagrado pela governação punindo com a abstenção ou o voto em outros partidos para, de seguida, voltar a votar pelo partido de sua opção.

Olhando aos resultados passados nas eleições europeias, em média, PS e PSD/CDS necessitaram de cerca de 129.000 votos por deputado, enquanto o BE elegia um deputado europeu com 149.000. Nas legislativas foram necessários cerca de 22 500 votos para eleger um deputado em Lisboa.

A partir de 2015 o paradigma da representação partidária tradicional mudou. Alguns protagonistas e partidos até agora sem representação parlamentar compreenderam este resultado e o novo fenómeno de eleição parlamentar.

Em 2019 – ano de eleições europeias e legislativas – podemos correr o risco de pulverizar a representação clássica partidária, pelo menos em círculos eleitorais maiores, com candidaturas apresentadas por partidos novos ou partidos existentes que adotam protagonistas mais populares ou mais populistas, que endurecem o discurso e o extremam, assumindo consigo as dores de momento, entre colisão de valores, situações críticas ou oportunidades calculadas de sentimentos básicos de revolta, como vemos crescer na Europa e com alguns ensaios em Portugal.

Estes efeitos vão manifestar-se mais fortemente nos partidos na oposição, dado que em partidos de poder, de governo ou de proximidade ao poder este fenómeno não se verificará com tamanha acuidade, por razões óbvias.

Os partidos do arco-íris do Governo mantêm-se porque têm poder. Conseguem justificar o seu crescimento ou a sua consolidação porque oferecem influência, capacidade de impor a sua agenda, e transcendem a sua própria representação.

Os partidos tradicionais, fora do poder atual, correm o risco de perder representação na manutenção da seriedade das suas propostas políticas. Não transigem com o populismo, perdem na representação, as suas bandeiras e causas estão saturadas e não chegam aos ouvidos e ao espaço de decisão dos eleitores.

Neste cenário estamos perante uma eventualidade da pulverização do espaço político do centro-direita. Atualmente ancorados no sistema eleitoral em que falta autoridade ou perspetiva de poder próximo, corremos este risco da representação parlamentar dispersa e da qual beneficiará em primeiro lugar o partido de poder, pela eventual redistribuição dos restos e dos efeitos negativos do método de Hondt. Este efeito causará uma eventual sobre representação do PS, abrindo o caminho para a maioria absoluta. Por culpa da organização do centro-direita e menos por mérito socialista.