De todas as eleições resultam vencedores e vencidos e as do passado dia 6 não foram exceção. Desde logo e sem margem para dúvidas, a obtenção de uma estabilidade governativa de maioria absoluta de um só partido político não foi conseguida por nenhuma lista. Deste ponto de vista, todos são perdedores.

É inequívoco que os partidos de centro-direita não atingiram os seus objetivos, sobretudo o CDS/PP que registou o seu pior resultado de sempre, retomando a denominação de outros tempos, a do “partido do táxi”, com apenas cinco deputados eleitos. É evidente que há uma vitória clara dos pequenos partidos, a começar no PAN que quadruplicou o número de mandatos, e a incluir o Livre, o Iniciativa Liberal e o Chega, que trarão três novos rostos (e discursos) ao Parlamento.

A dúvida prende-se com a aparente vitória do PS. Escrevo “aparente”, porque para lá dos votos que a confirmam, será que o partido que liderou uma frente esquerda nos últimos quatro anos sai reforçado desta eleição? Os portugueses estarão realmente satisfeitos com o PS que não ganhou eleições em 2015 mas que formou uma gerigonça para assumir os destinos da nação?

Em bom rigor, o PS não disparou no número de votos e não alargou a sua base de apoio do povo português. O crescimento face a 2015 foi – parafraseando António Costa quando em 2014 fez cair o antigo líder António José Seguro – ‘poucochinho’. E para o global dos partidos da gerigonça, bastante pior. Senão vejamos: o PS teve só e apenas mais de 124 mil votos do que há quatro anos. Quase tanto como o PAN, que cresceu 90 mil votos, com o PCP a perder 115 mil votos e o Bloco de Esquerda, 57 mil.

A solução de frente esquerda PS+BE+PCP perdeu votos e perdeu apoio do povo, ou seja, a gerigonça não recebeu uma inequívoca carta branca para continuar. Não houve um crescimento efetivo. Já a direita, se tivesse repetido a coligação de 2015 e mesmo com o resultado muito negativo do CDS/PP, teria votos suficientes para tirar cerca de 10 deputados ao PS e ao BE.

Em suma, a ‘primeira’ gerigonça não deixa saudades. Até junto dos muitos portugueses que votaram em 2015, mas que optaram por não o fazer agora. E a “segunda” gerigonça? O que nos trará ela? Dentro de dias, a tomada de posse, e logo depois a primeira prova de fogo: a discussão e aprovação de um novo Orçamento de Estado para 2020. Que cedências fará o PS à esquerda radical para que reine a paz política? Para já, fica a amargura de não ter atingido a maioria absoluta. Veremos em que se transformará este sentimento.

 

Nota: retomo, com este texto, a coluna ‘Tribuna Social’ que me foi confiada pelo Jornal Económico e que entendi suspender há quase dois meses por ter sido candidato à Assembleia da República. Agora, na qualidade de deputado da próxima legislatura e até 2023, cargo que assumi com honra e grande sentido de responsabilidade, continuarei a escrever sobre temas sociais, económicos e políticos e sob a pergunta que semanalmente me coloco nesta reflexão: E agora, Portugal?